Castelo de Penela abriu as portas da Feira Medieval
Percorrer as ruelas de Penela é hoje sinónimo de entrar nos meandros da Idade Média. O ambiente é de festa, com bruxarias, música e fantasia à mistura. Trata-se da Feira Medieval de Penela, à qual chegam pessoas do Norte e Sul do país
Era mendigo. As suas vestes eram pobres, rotas até. Barbas e cabelos longos, pesavam-lhe o rosto. As feridas estavam “vivas”, gotejavam ainda num corpo que parecia arrastar-se há anos. «Eu mandava construir uma casa assim para os pobrezinhos» dizia na esperança de ser ouvido. Perguntou se havia missa, mas não obteve resposta. Mesmo assim continuou: «se houvesse missa, eu ia para a porta da igreja pedir porque lá as pessoas são mais caridosas. Dão esmola porque querem favores de Jesus». Era o mendigo na Feira Medieval de Penela, uma de muitas outras personagens que, desde ontem, farão as delícias de todos os que ali se deslocarem.
Prestes a nascer estava a noite e ao castelo de Penela chegava um misto de fantasia. Ruas e ruelas eram preenchidas por pessoas que visitavam barracas e riam ao sabor dos espectáculos proporcionados pelos saltimbancos e demais plebeus. Para trás ficara o século XXI. Era momento de entrar na Idade Média e, deixar-se, levar pelo espírito. Sons medievais, crianças que sorrateiramente “rapinavam” os vendedores e depressa eram corridas a “toque de pau”. Vendedores ambulantes, de bochechas rosadas pelo vinho ou, quiçá, pela Ginginha D’El Rei, soltavam tolices. Mais ao fundo, um preso era arrastado sem dó, nem piedade, como se de um humano não se tratasse.
Vestidas a rigor figuras austeras e desconfiadas cruzavam-se com populares sorridentes e prontos para a festa. Visitavam a feira e tamanho era o ambiente recriado que, uns pais tiveram de reconfortar a “pequenina” que os acompanhava: «não tenhas medo, aquilo é só a brincar», afirmaram sorrindo. Convencida, ou não, continuou a sua visita, de olhos arregalados e expectantes pela feira que curiosidade lhe suscitava.
A comida era para todos os gostos. Chouriços, cerejas, maçãs, escarapiadas, pão-de-ló, cordonizes. O necessário era ter vontade de tudo provar. Mas, como quem come precisa de beber, lá andavam a Ana Margarida, a Sofia Antunes, a Adriana Duarte e a Ana Martins a vender copos ou “corninhos” de barro que, suportadas por um cordel, serviriam para colocar água, vinho ou outras “bebidas mágicas”.
Pedras da sorte, brinquedos em madeira, pulseiras, brincos ou fios, cremes naturais, ervas, tapeçarias. A lista de produtos oferecidos não parece ter fim. Há-os para todos os gostos. Maria Fontes apresenta-se, pela primeira vez, na Feira Medieval de Penela, com “O Corno d’Abundância” onde é possível adquirir «caixas com temas medievais, do sagrado ao profano», afirmou. Define a sua banca como «bem recheada», onde se pode encontrar, entre outras coisas, sabonetes artesanais, ervas, defumadouros, lava-pés e o “Oráculo dos Druidas”, que tem por base a sabedoria das árvores. Ana Brizada, Daniela Fernandes, Cristina Mendes e Gonçalo Perdigão, também, vendem produtos da sua autoria e, como novinhos que são e conhecedores desta feira, dizem gostar muito das actividades aqui desenvolvidas, especialmente «o ataque ao castelo». De Évora veio José Domingues que, enquanto conversava com o Diário de Coimbra, dava forma a um modelo de sandália, um exemplo dos muitos artigos em pele que concretiza e ali vende.
Um dos espaços que mais concentrava a atenção de quem por ali passeava era o “Parque Infantil” que, segundo Paula Gama, pretende ser um local de «interacção entre crianças, pais e avós» e no qual se podem fazer jogos. E não se trata de “playstations”, porque na Idade Média isso apenas seria passível de ser apelidado de “bruxaria”. «São jogos lúdicos e de perícia para crianças que já não lhes estão habituadas» sublinhou a responsável. Neles incluem-se: jogo do arremesso; chulas; réplica de uma cataplana; jogos de gladiadores; andas; tiro com arco.
Ainda ontem começou, mas já muito divertimento assegura. Promete, também, ensinar ou recordar sobre como se vivia em tempos medievais, época onde existiam plebeus e cortes, mendigos e saltimbancos e onde a música se fazia ao som de gaitas de foles, tambores, pandeiretas e tantos outros instrumentos.
O espaço foi pensado ao pormenor e peremptórios são visitantes e participantes a defini-lo como «extraordinário». A magia, o medo, a alegria e a expectativa confluem em locais como: Praça das Tabernas, Mercado Medieval, Tapada dos Horrores, Acampamento Militar, Terreiro Medieval, Mouraria ou o Recinto das Farsas, entre outros. O Castelo de Penela continuará a “viajem no tempo” hoje, assim como nos dias 23, 24 e 25 de Maio.