Barcelos: Padre quer vender ouro oferecido à Sra. do Livramento
Barcelos: Padre de Fragoso põe paróquia em polvorosa com intenção de vender ouro oferecido à Senhora do Livramento.
Reuniões e abaixo-assinados têm marcado a pacata freguesia de Fragoso. O pároco sugeriu a venda de dois quilos de ouro oferecidos por devotos à Senhora do Livramento, dando início ao que já chamam a "guerra santa".
Na paróquia de Fragoso, em Barcelos, respira-se a dúvida: domingo, dia 4 de Maio, Dia da Mãe, o padre Manuel Brito vai ou não celebrar missa?
"O senhor padre é muito amado em Fragoso e não se vai embora assim por qualquer coisinha", disse à Lusa Maria Augusta Pereira, ministra da comunhão, cantora no grupo coral da paróquia e defensora "acérrima" do sacerdote que, ao sugerir a venda do ouro oferecido pelos crentes a Nossa Senhora do Livramento, dividiu os cerca de três mil habitantes da freguesia.
"Se o senhor padre fizer o que disse, domingo já não celebra missa. Ele disse que se ia embora e que não queria continuar em Fragoso", referiu à Lusa Raul Santos, um dos mais de 500 subscritores de um abaixo-assinado contra a venda do ouro da paróquia.
Desde há duas semanas que a vida cívica e social da pequena freguesia de Fragoso está no auge.
Foi por essa altura, na homilia da missa dominical, que o sacerdote pôs à consideração dos paroquianos a venda de dois quilos de ouro que, ao longo de dezenas de anos, foram sendo oferecidos a Nossa Senhora do Livramento.
Manuel Brito terá explicado que o ouro, guardado no cofre de uma instituição bancária em Barcelos, e mostrado ao público apenas no dia da procissão em honra da Senhora, "dava prejuízo" à paróquia.
Avaliado em 15 mil euros, o tesouro de Nossa Senhora do Livramento é composto por fios, cordões, braceletes, brincos, anéis e todo o tipo de peças de ouro que, sobretudo as mulheres da freguesia, ofereciam em troca do "livramento" dos "seus" homens do serviço militar e da Guerra Colonial.
Reuniões, abaixos-assinados contra e a favor do pároco, concentrações em frente ao centro social e panfletos anónimos são agora correntes na localidade.
"É curioso toda esta agitação coincidir com o 25 de Abril e o 1ª de Maio. Sente-se por aí um ambiente de revolução", disse ainda Raul Santos.
Há um ano na paróquia, o padre Brito fez mudanças no funcionamento das instituições ligadas à Igreja.
A direcção do Centro Social e Paroquial foi mudada. Houve alterações, menos significativas, na dinâmica da paróquia e "isto mexeu com o povo", referiu uma moradora em Fragoso, que tal como muitas das pessoas questionadas pela Lusa, não se quiseram identificar.
A paróquia está a preparar algumas salas da igreja para lá instalar um Museu de Arte de Sacra.
"A igreja tem alarme, a sala do museu vai ter protecção especial, falta só comprar uma vitrina anti-roubo para poder pôr lá o ouro em exposição", explicou um paroquiano, pondo de parte as dúvidas sobre a segurança do ouro colocadas por algumas pessoas, entre elas o padre Brito.
Com a festa de Nossa Senhora do Livramento marcada para o dia 25 de Maio, ninguém sabe se, este ano, a Senhora, leva ao peito e no regaço o ouro que lhe ofereceram.
O que é certo que o orçamento da festa não andará nada abaixo dos oitenta mil euros, obtidos em patrocínios e esmolas, e que vão servir para pagar os "foguetes e a música".
"O valor do ouro é muito mais sentimental que real por isso é que as pessoas não acham bem que se acabe com uma tradição tão antiga e única em Fragoso", frisou Raul Santos.
José Valentim Pereira, arcipreste de Barcelos, disse à Lusa que só sabe o que "tem saído nos jornais".
"Oficialmente ninguém me disse nada e o padre Brito nem me disse que ia sair ou que ia ficar na paróquia", referiu o sacerdote.
Cabe agora a D. Jorge Ortiga, o arcebispo Primaz de Braga, aceitar ou não a saída do pároco de Fragoso que, aos jornalistas, disse já que "o ouro é sempre um perigo" e que mais se houve falar "é em assaltos a ourivesarias".
Lusa