Entroncamento - Orfeão actua há 22 anos “por amor à camisola”
15 Jun 2008, 10:19h
Espectáculo insere-se nas festas da cidade
O Orfeão do Entroncamento começou por se formar na Associação Filarmónica Cultural local, em 1986. Alguns membros da direcção, no caso António Ferreira e Maria de Lurdes Pinheiro (Juca), pensaram em fazer um grupo coral e convidaram, porta a porta, algumas pessoas conhecidas para formar o orfeão. “Como cantava no grupo coral da igreja, fui convidar algumas das pessoas que também ouvia cantar”, contou António Ferreira, 75 anos, que dois anos anos mais tarde iria participar na fundação da Associação Cultural Orfeão do Entroncamento.
Ao fim de seis meses de existência, os elementos do coro pensaram em tornar-se num grupo independente uma vez que a filarmónica estava mais virada para a música intrumental. Após um ano e meio “a ensaiar aos caídos”, em 1988 o Orfeão do Entroncamento formou-se como associação cultural e faz a sua primeira actuação no Cine-Teatro S. João. Nessa época, o coro era formado por 40 pessoas de todas as idades, conduzido pelo maestro Luis Antunes, que primeiro apareceu para cantar mas depois começou a dirigir o grupo, mantendo-se até ao presente.
António Ferreira, carteiro na reforma, sempre gostou de música, apesar de nunca ter tido formação na área. “Era miúdo e com 16 anos ia para as descamisadas em Aveiras e cantava nas eiras, a solo”, conta. Foi assim que foi “desafiado” para entrar na banda filarmónica, acabando mais tarde por fundar o coro.
Professora de inglês à espera de colocação, Maria João Alegre, 25 anos, é a actual presidente desta associação cultural sem fins lucrativos e que mantém, em paralelo, uma escola de música. “Estamos aqui apenas por amor à camisola. Não temos receitas com a escola, que só aceita associados e o que recebemos é para pagar aos professores. A nossa recompensa acaba por ser a divulgação e a formação musical”, garante Maria João Alegre, acrescentando que a associação conta, essencialmente, com a ajuda monetária das autarquias locais. “Temos apoio das juntas de freguesia e da câmara municipal, que nos cede o espaço onde funciona a sede e paga-nos o maestro”, explica. Maria João Alegre, que canta no coro desde os 15 anos, chegou a presidente a convite de outros associados, porque sempre esteve ligada às actividades do órfeão.
O grupo coral do Órfeão do Entroncamento é composto por 35 pessoas que ensaiam duas vezes por semana, às terças e sextas-feiras à noite. Destas apenas cinco têm formação musical pelo que, segundo Maria João Alegre, qualquer pessoa pode tentar entrar para o grupo. O elemento mais novo do coro tem 18 anos, o mais velho ronda os 80. Depois de aquecerem a voz, ensaiam durante uma hora e meia sob a batuta exigente do maestro Luís Antunes. O repertório assenta essencialmente na música sacra, espiritual negra e música ligeira harmonizada para coro. Os elementos do coro amador distribuem-se por quatro naipes: soprano, contra-alto, tenor e baixo.
Por ano, o grupo coral faz em média cinco a seis actuações, a convite de outros coros. Neste âmbito já actuaram na cidade geminada com o Entroncamento (Villiers-sur-Marne, França) e também na Madeira. Para além do festival que organizam anualmente, o coro actua sempre no Dia de Reis.
Actualmente, a Associação Cultural Órfeão do Entroncamento conta com cerca de 350 sócios que pagam cinco euros de quota anual. Para António Ferreira, o orfeão “não é um espectáculo que cativa as pessoas” pelo que, na sua opinião, só vai ver a actuação de um orfeão quem gosta muito de música clássica. “De juventude não se vê ninguém e é pena que isso aconteça” lamenta.
O MIRANTE