Vila Franca do Lima: Mordomas desfilam domingo
Vila Franca do Lima: Mordomas desfilam domingo com cestos de 60 quilos à cabeça e cinco quilos de ouro ao pescoço.
Débora, uma jovem de 19 anos, vai "desfilar" domingo pelas ruas de Vila Franca do Lima, em Viana do Castelo, com cestos floridos de 60 quilos à cabeça e com peças de ouro, ao pescoço, que deverão pesar cerca de cinco quilos.
Uma "tarefa" idêntica espera outras seis mordomas, que são sempre as principais personagens da Festa das Rosas, uma romaria que decorre este fim-de-semana e que se assume como uma das mais típicas e mais concorridas do calendário festivo português.
Nomeada mordoma, como manda a tradição, no ano em que completou o seu 18º aniversário, Débora tem dedicado uma boa parte dos últimos dias à familiarização da cabeça "a tanto peso", treinando com um cesto cheio de pedras e palha, pelas ruas da freguesia.
"O pior de tudo é o equilíbrio, mas com treino isto vai lá", afirma.
Os cestos, que chegam aos 75 centímetros de altura por quase outros tantos de largura, são decorados com pétalas, flores, caules e raízes, apanhados um pouco por toda a Ribeira Lima.
O material recolhido é entregue nas mãos dos "bordadores" da freguesia, que, com muito engenho e bastante arte, os trabalham e espetam, com alfinetes, na estrutura pré-montada em cada cesto, de forma a criar desenhos multicolores, nomeadamente armas e brasões, símbolos religiosos, santos, monumentos e paisagens.
Na confecção de cada cesto, que começou terça-feira e normalmente dura até à madrugada de sábado, são utilizados perto de 70 mil alfinetes.
As quatro faces do cesto de Débora serão adornadas com a Praça da República de Viana do Castelo, o brasão da cidade, a Capela da Barrosa (Vila Franca do Lima) e o Santuário do Sameiro (Braga).
Ao seu lado, Francisca, outra das mordomas, prepara um cesto "diferente do habitual", de homenagem a Picasso.
"Como sou estudante de arte e o meu sonho é ser arquitecta, decidi homenagear este ícone da arte do século XX, dedicando-lhe toda a decoração do meu cesto", afirma.
Confessando-se "muito minuciosa e exigente", Francisca garante que vai ficar "bem atenta" a superintender todo o trabalho dos bordadores, para que o resultado seja um trabalho, "o mais fiel possível ao original" de Picasso.
Domingo à tarde, Débora, Francisca e as outras cinco mordomas vão exibir, na procissão, as suas produções, perante o olhar de muitos milhares de pessoas que todos os anos demandam Vila Franca do Lima para apreciar os cestos, únicos em Portugal.
Quanto ao ouro que carregam ao pescoço, as mordomas não se podem esquecer da "tradição que faz lei": os fios só podem dar, no máximo, até ao umbigo, para não levar o olhar das pessoas a descer até zonas "indiscretas".
Segundo a mesma tradição, só as donzelas católicas, que tivessem um comportamento "irrepreensível" aos olhos de Deus e do povo, tinham a honra de serem mordomas.
Aquele comportamento passava, obrigatoriamente, pela virgindade, constando-se, na tradição popular, que as mordomas que "tentassem enganar o povo" eram "desmascaradas" à entrada da igreja, já que as velas que transportavam se apagavam automaticamente...
Lusa