Denúncias de LuÍs Filipe Vieira
MP e PJ querem ouvir Vieira
Luís Filipe Vieira vai ser chamado pelo Ministério Público para fornecer dados que comprovem que há jogos de futebol viciados, facto denunciado pelo presidente do Benfica no final do jogo (0-0) com o Boavista, no domingo à noite.
Segundo soube o CM, a convocatória para ouvir o presidente do clube da Luz também pode partir da Polícia Judiciária. Não será, aliás, a primeira vez que Vieira é ouvido por inspectores da PJ, em casos relacionados com a eventual corrupção no futebol nacional.
O CM tentou ontem ouvir Luís Filipe Vieira, o que não foi possível até ao fecho desta edição.
No final da partida que o Benfica disputou no Bessa (0-0), o líder directivo do clube das águias afirmou: "Era bom que a PJ entrasse definitivamente no futebol português. É nítido que há viciação de resultados."
Também a Comissão Disciplinar da Liga deve analisar hoje as afirmações de Vieira, não estando afastada a possibilidade de o dirigente vir a ser alvo de um inquérito que pode acabar num processo.
INCIDENTES NO BESSA
O CM apurou, entretanto, que no relatório enviado por Lucílio Baptista para a Comissão de Arbitragem (CA) da Liga não consta que no final da partida tenha sido alvo de qualquer tentativa de agressão por parte de qualquer elemento do Benfica, nomeadamente de Rui Costa, o jogador mais exaltado, que se terá travado de razões com Manuel Barbosa, dirigente do Boavista.
O CM apurou, ainda, que o ‘maestro’ dos encarnados não tentou invadir a cabina da equipa de arbitragem, facto que também não consta do relatório enviado para a CA da Liga. "Estão a querer empolar uma situação que não existiu", frisou uma das fontes contactadas pelo CM.
Já em relação a insultos, o próprio juiz de Setúbal assegurou ao CM (ver peça ao lado) que não se verificaram. No caso de Rui Costa, as fontes contactadas garantiram que estava alterado, mas que nunca foi incorrecto ou malcriado. "Nem Rui Costa, nem qualquer outro jogador do Benfica", vincou uma das fontes que assistiu ao que se passou no túnel de acesso aos balneários do Estádio do Bessa.
DISCURSO DIRECTO (Lucílio Baptista, juiz do Boavista-Benfica)
"NÃO FUI INSULTADO NO FINAL DO JOGO"
Correio da Manhã – O que aconteceu no final do Boavista-Benfica?
Lucílio Baptista – Tudo o que se passou consta no relatório que enviei para a Comissão de Arbitragem da Liga.
– Foi insultado por algum jogador ou dirigente?
– Não fui insultado no final do jogo.
– Foi um jogo complicado...
– ... um dos jogo mais difíceis da minha carreira.
– Porquê?
– Apenas posso dizer que foi dos mais complicados da vida vida.
– O Benfica queixa--se de duas grande penalidades não assinaladas contra o Boavista...
– Não posso falar do que se passou em campo.
– Tem a consciência tranquila?
– Não faço maiscomentários.
"VIEIRA DEVE DENUNCIAR QUEM VICIA"
O presidente do Vitória de Guimarães, Emílio Macedo, criticou ontem as afirmações do seu homólogo benfiquista, e aconselhou Luís Filipe Vieira a concretizar as suspeitas lançadas no final do Boavista-Benfica, de domingo, referente à 25.ª Jornada da Liga. O dirigente vitoriano reconheceu que as declarações não caíram bem junto do V. Guimarães, admitindo a necessidade de se "acabar com a suspeição em torno do futebol português". " A Polícia Judiciária devia falar com Luís Filipe Vieira para que possa denunciar essa meia dúzia de pessoas", concluiu o dirigente.
LAURENTINO APELA AO BOM SENSO
"Na minha opinião deve ser pedida a intervenção do bom senso, do cuidado e da competência dos dirigentes do futebol português para que tenham maior cuidado sobre aquilo que dizem, pensam e fazem." As palavras são de Laurentino Dias, secretário de Estado da Juventude e Desporto, que se mostrou preocupado com declarações "que não sejam susceptíveis de proporcionar bons momentos no desporto português". Laurentino apelou ainda aos dirigentes para que resolvam os seus problemas em sede própria e não na praça pública.
PERITO JORGE COROADO NÃO VIU ARBITRAGENS TENDENCIOSAS
O ex-árbitro Jorge Coroado afirmou ontem não ter visto qualquer arbitragem tendenciosa nos quatro jogos que analisou no Tribunal de Gondomar. "Absolutamente nada, sobre a minha palavra de honra", disse o perito em arbitragem arrolado pelo Ministério Público no processo ‘Apito Dourado’.
Jorge Coroado visionou em audiência os jogos do Gondomar com o Vizela, Dragões Sandinenses, Trofense e Vilanovense. No entanto, do início ao fim, o perito fez questão de salientar que o primeiro visionamento que fez para o relatório "foi em condições técnicas muito melhores" do que as que o tribunal dispõe. "Vi os jogos em equipamento profissional da RTP, com qualidade superior e que até permitia aumentar a imagem", disse. No tribunal, Coroado teve de olhar para o pequeno ecrã de televisão, para uma gravação de qualidade inferior e "com chuva", tendo ainda de abdicar de ver as notas do relatório a pedido do advogado Carlos Duarte, defensor de dois dos árbitros arguidos no processo. "Assim podemos todos ver as mesmas imagens", alegou o causídico.
Sem a ajuda do documento, o perito entrou várias vezes em contradição com o que escreveu. Num dos lances do jogo Gondomar-Dragões Sandinenses, a grande penalidade assinalada pelo árbitro Valente Mendes foi uma das análises mais contraditórias.
Perante a imagem na televisão do tribunal, Jorge Coroado viu de imediato uma falta passível de marcação de penálti. Já no relatório assinado em conjunto com os outros dois peritos, Vítor Pereira e Adelino Antunes, as imagens não eram esclarecedoras para avaliar a decisão de Valente Mendes no campo.
Jorge Coroado assumiu ter "dificuldades" em avaliar algumas das jogadas em causa devido ao facto de apenas as ver pelas imagens: "Se o relatório fosse elaborado na perspectiva de quem está no campo provavelmente seria bem diferente e ainda estaria a ser elaborado, dada a quantidade de jogos em questão."
Sobre os quatro jogos ontem analisados, arbitrados por Valente Mendes e Licínio Santos, concluiu que "na generalidade" foram cometidas faltas leves e que não detectou "erros disciplinares graves". "O árbitro é soberano no campo e as situações decorrem na maioria das vezes da interpretação do mesmo árbitro. Entendo as dificuldades de um árbitro no terreno", rematou Jorge Coroado.
Hoje, o antigo juiz internacional irá efectuar a análise de mais três jogos no Tribunal de Gondomar.
"NÃO CONTEI OS ERROS"
Jorge Coroado disse que "em consciência" não podia dizer se alguma equipa tinha sido favorecida com os erros de arbitragem cometidos: "Preocupei-me em observar situações desadequadas do que a lei permite e não em ver tendências." Perante a insistência dos defensores dos arguidos, afirmou não ter feito essa contabilidade. "Não contei os erros", disse, sublinhando que no campo "as condições dos árbitros são sempre mais difíceis".
LIÇÃO SOBRE FAVORES
"As arbitragens tendenciosas vêem-se nos pormenores. Quem as pratica tem conhecimento profissional e escamoteia no relatório", explicou Jorge Coroado ao tribunal. O perito clarificou ainda aquilo que diz ser o favorecimento: "É quando se marcam pequenas faltas a meio-campo e se corta o ritmo de jogo para a evitar sistematicamente que uma equipa vá para o ataque e contra-ataque, impedindo que consiga chegar à área do adversário".
"TAMBÉM COMETI ERROS"
O ex-árbitro recusou comentar os casos do jogo Boavista-Benfica mas referiu-se à viciação de resultados. " Como disse um presidente de um clube, quando um árbitro erra está a viciar o resultado do jogo", ironizou Jorge Coroado. "Eu também cometi erros, por isso também viciei resultados", rematou.
APONTAMENTOS
SETE JOGOS DO GONDOMAR
Com a audição de Jorge Coroado, chegaram ao fim as várias sessões dedicadas ao visionamento de sete jogos do Gondomar, durante a época de 2003-2004. A peritagem foi pedida pela acusação mas em tribunal não se revelou muito esclarecedora.
PIMENTA OUVIDO HOJE
Hoje à tarde, vai depor o ex-presidente do Vitória de Guimarães. Pimenta Machado foi uma das pessoas que esteve na origem do processo ‘Apito Dourado’, quando apresentou uma queixa na Liga Portuguesa de Futebol sobre alegada corrupção desportiva.
Octávio Lopes / D.B. / Manuela Teixeira