Apito Dourado: PGR investiga testemunho no DIAP do Porto
Depoimento de Ana ensaiado no hospital
Duas amigas de Ana Salgado testemunharam à equipa de Agostinho Homem, procurador-geral adjunto, que a irmã gémea de Carolina foi treinada no hospital dias antes de depor no DIAP do Porto.
O advogado de Ana Salgado teria mesmo levado um computador portátil para a unidade de saúde onde a testemunha se encontrava internada, a partir do qual Ana teria acesso ao que deveria dizer quando fosse ouvida no âmbito do ‘Apito Dourado’.
As testemunhas recordaram ainda que Ana chegava mesmo a decorar algumas passagens do depoimento, que eram ditas em voz alta. Noutras situações relatam que foram feitas pesquisas na internet, para tornar verosímeis alguns factos. Designadamente os que envolviam dirigentes do Benfica, em particular Luís Filipe Vieira, e os que incriminavam os inspectores que trabalhavam com Maria José Morgado.
Estestestemunhosforam considerados credíveis, por as depoentes nadaterema ver com Carolina Salgado. As mesmas garantem ainda que não conhecem a irmã gémea de Ana e que não depuseram por vingança. Relataram ainda que Ana também estaria a ser bastante pressionada por diversas pessoas, que identificaram, para que não recuasse nas suas declarações. E contaram que, em alguns momentos, aquela sentia que traíra a família, tendo a tentação de regressar.
Terá sido, aliás, num destes momentos que Ana prometeu contar tudo a AgostinhoHomem. A irmã de Carolina falou com o magistrado a partir do seu telemóvel pessoal e quando se encontrava na casa dos pais. Prometeu que iria depor de livre vontade num dia então determinado, mas acabou por não aparecer.
OCM sabe que Ana deverá ser agora formalmente intimida para prestar declarações no processo onde se investiga a forma como foi obtido o seu depoimento. A inquirição já não será marcada na Procuradoria Geral da República, em Lisboa, mas sim no Porto, em local ainda a combinar. Se voltar a faltar, Ana poderá ser alvo de uma mandado de detenção.
EQUIPA DE MARIA JOSÉ MORGADO TAMBÉM FOI ATACADA
A equipa de Maria José Morgado foi alvo de ataques cerrados desferidos por Ana Salgado. A magistrada e alguns dos investigadores moveram processos de difamação contra a irmã gémea de Carolina, que correm no MP do Porto, depois de aquela os ter acusado de terem manipulado o depoimento de Carolina. Ana contava mesmo uma conversa que a irmã teria mantido telefonicamente com a procuradora-geral adjunta, nomeada para investigar as certidões do ‘Apito Dourado’, em que daria instruções a Carolina.
Também Sérgio Bagulho, inspector da PJ, foi acusado de ser sócio do Benfica e próximo de Vieira. Ana disse ter assistido a uma reunião com o investigador e a irmã, tendo aquele indicado o que a mesma deveria dizer para incriminar Pinto da Costa.
Na queixa movida pelo polícia, aquele rebate as acusações, fornecendo elementos que contrariam tal versão.Aliás, no dia que Ana diz ter presenciado à conversa com Carolina, o inspector estava em Lisboa a elaborar um relatório final do ‘Apito Dourado’. Também não há registo de qualquer diligência ao Porto, no mesmo dia.
'É UMA COISA DISPARATADA'
Pedro Alhinho, advogado de Ana Salgado, diz que o depoimento das amigas da sua cliente é falso. 'É uma coisa disparatada. Este processo está cheio de disparates. A advocacia tem regras e eu cumpro-as', disse o causídico ao CM, realçando que nunca pactuou com a manipulação de qualquer depoimento.
Recorde-se ainda que Ana Salgado depôs no DIAP do Porto a 27 de Junho de 2007, num processo de difamação movido por Fernando Póvoas. Foi depois arrolada como testemunha de Pinto da Costa, mas não apareceu às chamadas.
PORMENORES
CONDOMÍNIO
Ana vive agora em Famalicão, para onde se mudou há poucos meses. A casa alugada é uma vivenda geminada do Corredoura Park – um empreendimento na pacata freguesia de Novais, com menos de mil habitantes. A casa tem 300 metros quadrados, quatro pisos, incluindo o sótão, e garagem para dois carros.
CONTENCIOSO
Ana Salgado esteve durante meses sem pagar a prestação da casa onde vivia com o marido, os três filhos em comum e os dois enteados. O litígio já estava a ser tratado pelo contencioso do banco, que exigia a verba sob pena de avançar com uma acção de despejo. Ana já resolveu o conflito com o banco.
CRIOU EMPRESA
Quinze dias depois de ser ouvida no DIAP do Porto, Ana e o marido, que entretanto se despedira da empresa onde trabalhava, criaram uma firma de ar condicionado.
Tânia Laranjo/Manuela Teixeira