Tuberculose continua a matar
Após um considerável período de acalmia, a tuberculose volta a tornar-se um flagelo «extremamente preocupante», na expressão das autoridades responsáveis.
Completaram-se cem anos sobre a criação da Assistência Nacional aos Tuberculosos, oficializada a 3 de Julho de 1899 por um decreto da rainha D. Amélia. Esta assistência teve uma importância excepcional ao conseguir congregar meios humanos e materiais para o combate à tuberculose, com numerosas medidas, algumas das quais se mantêm ainda perfeitamente actuais.
Entre essas medidas, o relevo especial vai para os centros de diagnóstico precoce, os antigos dispensários, que continuam a ter um papel fundamental na prevenção da doença.
No entanto, a descoberta de novos medicamentos, em particular a estreptomicina (aplicada desde 1944) levou ao encerramento de quase todos os sanatórios e dispensários, que chegaram a cobrir praticamente todo o território nacional.
As novas armas do bacilo de Koch
Todavia, o bacilo de Koch, responsável por milhares de mortes no final do século e na primeira metade deste, muniu-se de novas armas e representa de novo uma grave ameaça. Hoje são-lhe atribuídas cerca de 46 mortes por cada cem mil portugueses, números que se elevam espectacularmente em Lisboa e no Porto, atingindo valores superiores a 60 óbitos. Nestas duas cidades concentra-se mais de metade do número de tuberculosos em Portugal.
Em 1998 foram notificados 4.525 novos casos de tuberculose e 568 recidivas, números que situam o nosso país na cauda da Europa e perto dos países do chamado terceiro mundo. A distribuição geográfica apresenta grandes assimetrias, com os distritos de Faro e Porto no topo relativamente à ocorrência de novos casos, seguidos por Setúbal, Braga e Aveiro, ou seja, praticamente toda a faixa litoral.
Difícil o internamento
Nos centros urbanos, a natureza social e económica das populações não proporciona a atempada detecção da tuberculose nem o seu devido combate. O contacto entre doentes continua a ser a principal e única forma de contágio, mas, devido à falta de diagnóstico, muitos portadores passam a enfermidade aos não portadores.
Estão nestas condições grupos sociais bem definidos, como os toxicodependentes, os alcoólicos, os marginais e as prostitutas.
O internamento, sobretudo para os doentes que não têm possibilidades económicas de suportar um tratamento ambulatório seria a solução desejada. No entanto, em Portugal existe hoje apenas o antigo sanatório, agora Hospital José Maria Antunes, mas o internamento é exclusivo a doentes masculinos, dada a falta de condições.
Diagnosticar, tratar
A tuberculose é uma doença progressiva, o que não significa que em muitos casos passe desapercebida e vá evoluindo com sintomas subestimados pelos doentes não esclarecidos, acabando por conduzir a formas graves que vão culminar com internamentos hospitalares, perfeitamente evitáveis se diagnosticados precocemente.
Diagnosticar e tratar precocemente é o objectivo do Programa Nacional de Luta contra a Tuberculose, que entrou em vigor em Março de 1995, mas cuja realidade prática continua inexistente.
E, no entanto, duas a três semanas de tratamento são suficientes para o doente não transmitir a tuberculose.
O que acontece de facto em Portugal é que, na franja das pessoas com maiores possibilidades de contraírem a doença, não existe ainda um controlo efectivo.
Diminui a tuberculose infantil
Por outro lado, a tuberculose infantil tem vindo a diminuir nos últimos anos, particularmente as formas graves (granulía e meningite) devido à alta taxa de vacinação pelo BCG (vacina de Calmette-Guerin Atenuado) aos recém-nascidos.
No entanto, a BCG não evita a tuberculose, mas previne as formas graves e tem em média uma eficácia de cerca de 10 anos. A revisão que está a ser efectuada ao Plano Nacional de Vacinação prevê uma redução de vacinação, mas mantém a vacinação universal do recém-nascido.
A tuberculose mata, embora seja impensável morrer-se hoje de tuberculose, quando existem tratamentos eficazes e gratuitos que conduzem à cura quando correctamente utilizados e evitando formas crónicas, como a resistência aos fármacos antibacilares.
CUMPRIR O TRATAMENTO
O tratamento da tuberculose é longo, mas necessário para erradicar o bacilo. Muitos doentes que se sentem bem e aumentam de peso ao fim de um ou dois meses abandonam o tratamento. Este abandono conduz a sucessivas recaídas e a à resistência aos fármacos.
O incumprimento das indicações e do tratamento pode tornar irremediável uma doença que hoje é facilmente curável.