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História de Organizações Criminosas

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História da Máfia do Pós-Guerra

A recuperação do Poder da Máfia Italiana

Depois do fascismo, a Máfia só voltou a recuperar seu poder na Itália novamente após a rendição do país na Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos usaram as ligações italianas de mafiosos americanos durante a invasão da Itália e da Sicília em 1943. Lucky Luciano, Vito Genovese e outros mafiosos, que foram capturados neste período nos Estados Unidos, forneceram informações aos serviços secretos do exército americano e usaram a sua influência para facilitar o caminho das tropas. Além disso, o controle de Luciano sobre os portos preveniu a sabotagem pelos agentes das forças do Eixo.

De acordo com o especialista em tráfico de drogas Dr. Alfred W. McCoy, Luciano teve permissão para comandar sua rede criminosa a partir de sua cela em troca de seu apoio. Depois da guerra, Luciano foi recompensado com sua liberdade e sua deportação para a Itália, onde pode continuar sua carreira criminosa livremente. Foi à Sicília em 1946 para continuar suas actividades, e de acordo com o livro "The Politics of Heroin in South-East Asia" de McCoy, Luciano forjou uma aliança crucial com a Máfia da Córsega, levando a desenvolvimento de uma vasta rede internacional de tráfico de heroína, inicialmente abastecida pela Turquia e sediada em Marselha - a conhecida "Conexão Francesa".

Mais tarde, quando a Turquia começou a eliminar sua produção de ópio, ele usou suas ligações com a Córsega para iniciar um diálogo com os mafiosos expatriados no Vietname do Sul. Em colaboração com os principais chefões da Máfia Americana, incluindo Santo Trafficante Jr., Luciano e seus sucessores se beneficiaram das condições caóticas do sudeste asiático, resultado da Guerra do Vietname para estabelecer uma base de abastecimento e distribuição no "Triângulo de Ouro", que em breve começaria a fornecer uma enorme quantidade de heroína aos Estados Unidos, Austrália e outros países.
 

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Guerras Mafiosas

A Bomba de Ciaculli

No dia 30 de Junho de 1963, um homem telefonou para o quartel-general da Polícia de Palermo, a informar que um automóvel tinha sido abandonado no seu terreno. O automóvel do tipo desportivo, um Alfa Romeo Giulietta, tinha o pneu furado e as portas abertas. A polícia percebeu logo o que isso poderia significar: na madrugada daquele mesmo dia, uma bomba tinha explodido noutro carro, um Alfa Giulietta, em Villabate, matando um padeiro e um mecânico.
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Respondendo imediatamente à chamada, a polícia e os carabinieri (polícia militar italiana), lançaram a alta velocidade por meio de um caminho cheio de buracos, até encontrar o carro abandonado. No banco de trás, claramente visível, estava uma botija de gás butano com a ponta queimada de um rastilho presa à parte superior. Quando a viram, vedaram a zona envolvente e chamaram os engenheiros do exército. Duas horas depois, dois peritos em explosivos chegaram ao local, cortaram o rastilho e anunciaram que o carro já podia ser abordado em segurança. Mas quando o tenente Mário Malausa abriu o porta-bagagem para inspeccionar o seu interior, fez detonar uma enorme quantidade de TNT que se encontrava lá dentro. Tanto o tenente como seis outros homens ficaram desfeitos em bocados na explosão. O massacre foi a culminação da sangrenta guerra da Máfia entre seus rivais em Palermo nos anos 60. A ferocidade entre os clãs de mafiosos italianos em busca do poder central foi grande, fazendo 95 vítimas de 1961 a 1963.

A resposta da Polícia

Na noite de 2 de Julho de 1963, Villabate Ciaculli foram cercadas, com as ruas iluminadas por foguetes luminosos. Cerca de 40 pessoas foram detidas e uma grande quantidade de armas apreendidas. Teve início do que viria a ser a maior rusga de suspeitos desde o tempo do «Perfeito de Ferro». Três dias depois da tragédia em Ciaculli, sob um sol abrasador, cerca de 100.000 pessoas, incluindo o Ministro do Interior, acompanharam os caixões quase vazios das sete vítimas até à catedral de Palermo. A bomba de Ciaculli assinalou a declaração de guerra das autoridades à Máfia Italiana. A atrocidade de 30 de Junho de 1963 foi um momento de ruptura para a própria Cosa Nostra. Até hoje, não se sabe quem foi o autor do atentado daquela manhã de 1963. Ninguém foi levado à justiça pelo assassínio de 7 funcionários do Estado, cujos nomes estão gravados numa pedra mármore cor-de-rosa acima de Ciaculli.
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1ª Guerra da Máfia (1962-1969)

Em finais de 1962 e inícios de 1963, houve explosões, perseguições de automóveis e tiroteios, que faziam parte do dia-a-dia na cidade de Palermo. Os jornais diziam que a capital da Sicília, Palermo, era uma nova Chicago ao estilo anos 20. Pensou-se durante muito tempo, que a Primeira Guerra da Máfia tivesse sido uma luta entre a velha Máfia composta por chefes latifundiários e a nova Máfia dirigida por jovens audaciosos que haviam enriquecido precocemente à custa do tráfico de drogas e do betão.

Antecedentes

O início pelo controlo do poder central da Máfia teve início em 1958 quando Leggio comandou o assassinato do chefão Michele Navarra, numa combinação de ousadia, habilidade, velocidade e uma devastadora violência: padrão que se tornaria a marca registada dos corleoneses. Em contacto com os gângsters americanos, o grupo siciliano passou a usar metralhadoras e pistolas automáticas norte-americanas. Até Navarra, a Máfia de Corleone não era dominante e não chegava a Palermo. No poder, Leggio recrutou pistoleiros, como Salvatore "Totò" Riina e Bernardo Provenzano. Sob as ordens de Leggio, Riina e Provenzano aterrorizaram a Sicília.

De 1943 a 1961, os mafiosos mataram 52 pessoas e tentaram matar outras 22. A violência extrema dos corleoneses chegou aos ouvidos dos chefes mafiosos dos Estados Unidos, que passaram a chamar Corleone de "Lápide". Os corleoneses eram chamados pejorativamente de "camponeses" pelos mafiosos de Palermo. Leggio não se intimidou e decidiu conquistar a capital da Sicília. O Presidente da Câmara de Palermo, Salvo Lima (1928-1992), e o conselheiro para obras públicas, Vito Ciancimino (1924-2002), mantinham ligações com a Máfia, que ganhava dinheiro com as obras públicas. Provenzano, diplomático, foi enviado para convencer Ciancimino de que seria positivo fazer negócios com os corleoneses. Os mafiosos de Palermo, sofisticados, não gostaram da entrada dos camponeses de Corleone no seu território. Stefano "OPrincípe" Bontate, um dos reis da heroína, protestou. Aos poucos, Leggio foi entrando no novo mercado e tinha um trunfo: repartia dinheiro, muito dinheiro, com os aliados.

Na luta pelo controlo das obras do boom imobiliário com o clã La Barbera, Leggio uniu-se aos irmãos Grecco. Entre 1962 e 1963, numa luta violenta pelo poder e para assumir o controlo dos negócios legais e ilegais, deu-se a Primeira Guerra da Máfia. Centenas de chefes e pistoleiros foram mortos. Quando um carro-bomba matou cinco polícias e dois engenheiros militares, a polícia prendeu mais de 250 mafiosos.

«A Cosa Nostra cessou de existir na região de Palermo depois de 1963. Foi simplesmente aniquilada», avaliou um desertor.

Mesmo caçados pela polícia e levados a julgamento pela Justiça, Leggio e seus aliados sobreviveram. Ao ser preso, Riina disse ao companheiro de cela: «Você deve usar todos os meios para alcançar seu objectivo e todos os obstáculos devem ser eliminados». Leggio, Riina e Provenzano foram acusados de cometer vários homicídios. No julgamento, Leggio disse: «A Máfia não existe em Corleone». O promotor pediu prisão perpétua para Leggio. No entanto, Leggio, Riina e Provenzano foram absolvidos. Doente, Leggio foi operado pelo médico do Presidente da Itália. Em 1969, devidamente instalados em Palermo (a capital da Máfia não é Corleone), livrando-se do provincianismo, os corleoneses se uniram a mafiosos da capital para matar Michele Cavataio "O Cobra", um dos chefes da Máfia e da construção civil. Entre os corleoneses estavam Provenzano e Calogero Bagarella, dois homens de Leggio. Cavataio reagiu, mas foi morto por Provenzano que esmagou seu crânio e atirou na sua têmpora. Por causa dessa forma de matar, Provenzano passou a ser chamado de "Tractor".
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Michele Cavataio "O Cobra" (1929-1969), era um membro poderoso da Máfia Siciliana. Era o chefe da Família Acquasanta em Palermo, e foi membro da Primeira Comissão da Máfia Siciliana.
Foi um dos gângsteres mafiosos mais temidos do seu tempo. O apelido "Cobra" deve-se à preferência pela sua arma favorita, o Colt Cobra, um revólver de seis tiros. O Cobra foi descrito como um assassino astuto com cara de gorila. Michele Cavataio foi visto como um novo tipo de gângster à americana, que surgiam em meados dos anos 50.
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O Colt Cobra, revólver de 6 tiros, foi fabricado entre 1959 e 1981.

Após a Segunda Guerra Mundial, o Cavataio fez sua fortuna vendendo gasolina que foi roubado da Marinha Italiana. A partir da posição modesta de um motorista de táxi, acumulou uma fortuna considerável, em poucos anos, de acordo com um relatório da Comissão Parlamentar Antimáfia. A Família Acquasanta controlava as docas de Palermo que se encontravam dentro da sua área. Eles agiram como fura-greves contra os estivadores, e não hesitavam em disparar contra os grevistas, se necessário. Em 1955, os chefes da Família Acquasanta, Gaetano Galatolo e Nicola D'Alessandro, foram mortos na disputa sobre os esquemas de protecção, quando o mercado de frutas e legumes por atacado deslocaram-se da área de Zisa para Acquasanta, perturbando os equilíbrios de poder delicados dentro da Cosa Nostra. O assassino de Galatolo nunca foi identificado, mas Cavataio era suspeito. Cavataio tornou-se o novo chefe da Família Acquasanta, e teve de concordar em dividir os lucros do mercado grossista com a Família Greco de Ciaculli, que tradicionalmente controlava o fornecimento de frutas e vegetais para Palermo.

Saque de Palermo

Cavataio participou activamente no que é chamado de Saque de Palermo durante o reinado de Salvo Lima como Presidente da Câmara de Palermo. Os chefes da Máfia tiveram licenças de construção civil graças aos contactos com os políticos. O boom da construção civil, que durou desde a década de 50 até à década de 80, destruiu muitas das belas arquitecturas que havia em Palermo, para dar lugar a tristes blocos de apartamentos.
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Entre 1951 e 1961, a população de Palermo tinha aumentado em 100.000 habitantes, causada por uma rápida urbanização da Sicília, após a Segunda Guerra Mundial. Como a reforma agrária e mecanização da agricultura criou um êxodo em massa de camponeses e proprietários rurais, mudou seu investimento em imóveis urbanos. Isso levou a um boom da construção desregulada e descapitalizadas da década de 1950 até meados dos anos 1980, que se caracterizou por um envolvimento agressivo de mafiosos da especulação imobiliária e de construção. Os anos 1957-1963 foram o ponto alto na construção privada, seguido em 1970 e 1980 por uma maior ênfase nas obras públicas. A partir de um conjunto de cidadãos de 503.000 habitantes em 1951, Palermo cresceu para 709.000 habitantes em 1981, um aumento de 41%.

Com este atentado urbano, os construtores destruíram muito do património, incluindo os melhores parques da cidade, palácios e belas Villas (zonas residenciais rurais da alta sociedade) transformando Palermo, que era uma das mais belas cidades da Europa, numa densa floresta, sem graça, de cimento. Tudo à custa de altos lucros. Um bom exemplo: Um dos edifícios mais importantes do arquitecto siciliano Ernesto Basile, foi arrasado no meio da noite, antes de entrar em vigor algumas horas mais tarde, a Lei de Preservação de Lugares Históricos.

Máfia envolvida na construção civil

O ponto alto do saque aconteceu quando o democrata-cristão Salvo Lima foi Presidente da Câmara de Palermo (1958-1963 e 1965-1968) e Vito Ciancimino assessor para obras públicas.
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Salvo Lima (1928-1992) a ser interrogado em
tribunal, e atrás de si em pé, Vito Ciancimino
(1924-2002).

Salvo Lima e Vito Ciancimino apoiaram a Máfia na construção civil, incluindo o principal empresário da construção de Palermo, Francesco Vassallo (ex-motorista que em tempos transportou areia e pedra de um bairro pobre de Palermo). Vassallo estava ligado a mafiosos como Angelo La Barbera e Tommaso Buscetta. Em cinco anos, foram assinados mais de 4000 licenças de construção. No meio destas licenças de construção, a Máfia não tinha problemas em convencer através de intimidação, os proprietários a vender as suas propriedades, usando o método da força. A Câmara Municipal de Palermo estava corrupta, infringindo a lei da concorrência, e facilitando os seus amigos mafiosos no imobiliário.
 
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Triunvirato: Léggio, Badalamenti e Bontate

Durante a década de 1970, a Máfia em Sicília continuou com seus negócios ilegais. Os rivais principais dos Corleonesi eram Stefano Bontade, Salvatore Inzerillo e Gaetano Badalamenti, chefes de várias poderosas famílias mafiosas de Palermo. Em 1970 restabelece-se a Comissão da Máfia Siciliana, com Bontate e Badalementi ocupando duas dos três cargos de liderança na Comissão. O terceiro lugar era ocupado por Leggio, que estava representado por seu sub-chefe, Salvatore Riina, dado que Leggio estava escondido na Itália. Com este triunvirato, Leggio, Badalamenti e Bontate, assumiram o comando da Máfia. Procurado pela polícia, Leggio nomeou Riina e Provenzano para representá-lo. Durante os anos de 1960 e 1970, Bontate e seus aliados controlaram o tráfico de heroína, as refinarias e o abastecimento do mercado americano. Em 1968, por causa de várias prisões, os mafiosos estavam sem dinheiro. Em poucos anos tornaram-se milionários, graças ao narcotráfico.

Os Corleoneses queriam entrar no mundo das drogas, mas foram impedidos por Bontate, e por isso, se dedicaram a raptar pessoas ricas. Um dos colectores do dinheiro dos raptos era o padre católico Agostino Coppola. Dirigindo os negócios a partir de Milão, Leggio foi perdendo terreno, conquistado rapidamente por Riina, que contava com o apoio de Provenzano. Riina concentrou-se no sector de construção civil e tráfico de drogas, enquanto Provenzano focava nos contratos de obras públicas. A Máfia a partir de 1970 tornou-se uma multinacional. Não era mais um problema siciliano, ou italiano, mas internacional. Os seus negócios estavam na Itália, França, Suíça e Estados Unidos. Em 1973, Leonardo Vitale, o primeiro mafioso a quebrar a lei do silêncio em vigor desde a Segunda Guerra Mundial, descreveu o funcionamento da Máfia e revelou a ascensão dos corleoneses.

Habilidoso, Riina assumiu o comando da Máfia, pelo carisma e pela força. Chegou a entrar para a Maçonaria, para ampliar o raio de acção na legalidade. Os mafiosos mais ricos e poderosos subestimaram Riina, considerando um provinciano, e aos poucos, Riina foi matando todos aqueles que se opunham ao seu projecto de uma ditadura criminosa. O chefe mafioso Giuseppe Di Cristina "O Tigre", alertou: «Os camponeses estão às portas de Palermo. Vocês não entendem?». Não foi ouvido pelos chefes mafiosos. Riina pôde assim, implantar uma ditadura.
 

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A Segunda Guerra da Máfia (1981-1983)

Durante a década de 1970, os Corleonesi conseguiram aliados entre outras famílias mafiosas. Entre os que se aliaram com os Corleonesi encontravam-se os chefes de Palermo Giuseppe Calò (chefe de Porta Nuova), Filippo Marchese (chefe de Corso Dei Mille) e Rosario Riccobono (chefe de Partanna Mondello). Em 1978, por razões desconhecidas, Riina conseguiu convencer a expulsar Badalamenti da Comissão, e a exilar-se da Máfia e de Sicília. Seu lugar foi ocupado pelo Padrinho de Ciaculli Michele "The Pope" Greco, que também estava aliado com Riina.

Greco, Calò, Marchese e Riccobono, mantiveram suas alianças em segredo em frente a Bontate e Inzerillo. Riina também organizou os assassinatos de Giuseppe Dei Cristina e Giuseppe Calderone, chefes de Riesi e Catânia, respectivamente. Ambos os homens eram aliados de Bontade e foram substituídos pelos seus sucessores, aliados de Riina. Gradualmente, os chefes de Palermo e seus homens foram isolados.

A Grande Guerra da Máfia

No dia 23 de Abril de 1981, Bontade foi morto a tiros de metralhadora; pouco depois, no dia 11 de Maio, Inzerillo foi destroçado por uma chuva de balas. Posteriormente vários familiares e sócios de Inzerillo e Bontade foram assassinados ou desapareceram sem deixar rastos, incluído o filho de Inzerillo de 15 anos de idade, por proclamar que vingaria a morte de seu pai.
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Durante os dois anos posteriores muitos mais assassinatos sucederam-se. O banho de sangue continuou: no dia 30 de Novembro de 1982, 12 mafiosos foram assassinados em Palermo em 12 locais diferentes. Os assassinatos cruzaram o Atlântico, e um dos irmãos de Inzerillo foi morto, depois de ter escapado para os Estados Unidos; e um dos sobrinhos de Badalamenti apareceu desmembrado no campo na Alemanha. Entre os numerosos pistoleiros a disposição dos Corleonesi e seus aliados encontrava-se Giuseppe Greco de Ciaculli (1951-1985). Era um membro do clã Ciaculli liderado por seu tio, Michele Greco (1924-2008), um membro importante da Máfia Italiana, responsável por inúmeros homicídios.
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Michele Greco era conhecido pela alcunha "O Papa", foi
adoptado pela sua excelência em mediar disputas de famílias
mafiosas. Greco também foi o líder da Comissão da Máfia
Italiana.

Em 1987, Michele Greco foi condenado a prisão perpétua, por vários homicídios. Cumpria a sua pena em Rebibbia, quando foi solto em Março de 1991 numa acalorada decisão do Tribunal Supremo. No mesmo ano, no entanto, foi detido novamente, por ordens do juiz Giovanni Falcone. Morreu em Roma, após ser transferido para um hospital. O seu sobrinho, Giuseppe Greco era um experiente atirador com uma AK-47, e suspeita-se que matou umas 80 pessoas por ordens de Riina, incluídos Bontade e Inzerillo.
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Giuseppe Greco de Ciaculli (1951-1985)

Em Setembro de 1985, Giuseppe Greco foi assassinado na sua casa. Foi morto a tiro por seus dois companheiros mafiosos e supostos amigos, Vincenzo Puccio e Giuseppe Lucchese, embora as ordens vieram de Riina, que havia apercebido que Greco estava ficando muito ambicioso e também de espírito independente para o seu gosto. A eliminação de Greco foi o primeiro de vários pelo Corleonesi a fim de enfraquecer a Família Ciaculli. Greco Liderou um esquadrão da morte, composto por pistoleiros, que incluía Mário Prestifilippo e Giuseppe Lucchese. Filippo Marchese, chefe do Corso Dei Mille, também teve um papel destacado nos assassinatos, ao igual que seu jovem sobrinho, Giuseppe Marchese. Vincenzo Puccio, outro prolífico assassino, perdeu-se a maior parte da guerra já que esteve na prisão até 1983.

Entre 1981 e 1983, houve pelo menos 400 assassinatos da Máfia em Palermo, e outros tantos em Sicília. Pelo menos 160 casos de mafiosos e seus colaboradores desapareceram, vítimas do que se chama a «lupara bianca» (em siciliano "Escopeta Branca"), na qual o corpo é completamente destroçado ou enterrado de forma que nunca possa ser achado. Os Corleonesi e seus aliados foram os claros vencedores na guerra, sofrendo muito poucas baixas nas suas famílias. Uma das razões era o sigilo e segredo no que se moviam. Enquanto alguns mafiosos levavam uma vida relativamente pública, Riina, Provenzano, e muitos de seus assassinos passavam muitos anos como fugitivos, raras vezes vistos por seus colegas mafiosos, ou em público. Tradicionalmente os mafiosos mantinham um alto nível de segredo sobre suas actividades, e por isso durante a Segunda Guerra da Máfia as autoridades estavam as cegas, tratando de entender os motivos, bandos e evolução da guerra. Por exemplo, quando Bontade foi assassinado, pouco tempo depois, Inzerillo também foi morto. A polícia pensava que tinha sido assassinado como um acto de traição de Inzerillo. A falta de informação deliberada também foi empregue pelos Corleonesi. Quando Inzerillo morreu, a polícia procurava pelo assassinato de Giuseppe Dei Cristina ocorrido três anos antes, mas na realidade eram os Corleonesi que tinham assassinado Dei Cristina, e o tinham feito no território de Inzerillo para culpa-lo a ele. Com a vitória da Família Corleonesi, chefiada pelos seus chefes, Salvatore Riina e Bernardo Provenzano, sobre as outras Famílias, puderam finalmente obter controlo sobre grande parte da Máfia, e ter o poder sobre a organização criminosa.
 
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A Decadência da Máfia italiana

Em meados dos anos 80, a Máfia actuava até mesmo na esfera pública italiana, subornando empresários, e políticos de diversos cargos. Mas a sociedade italiana não se deixaria dominar pelo crime organizado por tanto tempo. Os sistemas Penal e Judiciário foram modificados e dotados de instrumentos mais duros de combate ao crime organizado.

Durante a Operação "Mãos Limpas", centenas de mafiosos foram presos, levados a julgamento e condenados. A Operação "Mãos Limpas" foi uma investigação judicial de grande envergadura que visava esclarecer os casos de corrupção durante a década de 1990, na sequência do escândalo do Banco Ambrosiano em 1982, que implicava a Mafia, o Banco do Vaticano e a loja maçónica P2. O Banco Ambrosiano (renomeado de Banco Ambrosiano Veneto após a fusão com o Banco Católico do Vêneto) foi um dos principais bancos privados católicos italianos. No centro das operações que levaram a ruína do banco estava o seu principal executivo, Roberto Calvi e seus companheiros da loja maçónica P2 (Propaganda Dois). O Banco do Vaticano era o principal parceiro do Banco Ambrosiano; e com a súbita morte do Papa João Paulo I em 1978, surgiram rumores de que haveria ligações com as operações ilegais daquela instituição. O Banco do Vaticano também foi acusado de desviar verbas secretas dos Estados Unidos, do Sindicato Solidariedade da Polónia e os Contras da Nicarágua por meio do Banco Ambrosiano.

A Operação "Mãos Limpas" levou ao fim da chamada Primeira República Italiana e ao desaparecimento de muitos partidos políticos. Alguns políticos e industriais cometeram suicídio quando os seus crimes foram descobertos. Até mesmo o Primeiro-Ministro da Itália, Giulio Andreotti (1919-2013), foi acusado de envolvimento com mafiosos, e absolvido em 1999.
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Giulio Andreotti (1919-2013), Primeiro-Ministro da Itália nos períodos de
1972-1973, 1976-1979 e 1989-1992.

Em 1993, para além de vários escândalos políticos, a Justiça acusou Andreotti de delitos com ligação à Máfia e a esquemas de financiamento ilegal de partidos políticos. O seu julgamento teve início em 1995, mas Andreotti acabou por ser absolvido em 1999. Em 2001, Giulio Andreotti foi enfim condenado a 24 anos de prisão, por cumplicidade com os assassinos do jornalista Mino Pecorelli, em 1979. No entanto, não foi preso pois gozava de imunidade, dada a sua condição de senador vitalício.
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Carmine Pecorelli (1928-1979), conhecido como Mino, jornalista italiano,
morto em Roma.

Pecorelli fora assassinado por dois indivíduos, após ter anunciado que tencionava publicar uma reportagem sobre supostas cobranças de comissões ilegais por Andreotti. O repórter baseara-se em documentos do líder da Democracia Cristã, Aldo Moro, morto pelas Brigadas Vermelhas no ano anterior. O tribunal de apelação de Perugia rejeitou a sentença de absolvição emitida, em 1999, por um tribunal de primeira instância, segundo o qual Andreotti, na altura com 83 anos, nada tinha a ver com a morte do jornalista.
 

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Mega Julgamento (1986-1987)

De seu escritório no Palácio de Justiça em Palermo, Giovanni Falcone (1939-1992), juiz italiano especializado em processos contra a Máfia Siciliana Cosa Nostra, passou a maior parte de sua vida profissional tentando derrubar o poder da Máfia. Juntamente com o colega e amigo jurista Paolo Borselino foi uma força motriz por trás do Mega Julgamento de 474 mafiosos. A sua longa e distinta carreira, culminando com o famoso Mega Julgamento em 1986-1987.
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Giovanni Falcone (1939-1992), juiz italiano especializado
em processos contra a Máfia
.

O famoso Mega Julgamento contra a Máfia Siciliana teve lugar em Palermo, na Sicília, entre 10 de Fevereiro de 1986 e 16 de Dezembro de 1987. O julgamento foi presidido por juiz Alfonso Giordano; também se encontravam dois juristas suplentes no caso de Giordano ser assassinado durante o prolongado julgamento. O tribunal realizou-se no bunker especialmente construído para resistir a bombas e mísseis, dentro dos muros da prisão Ucciardone. Dentro desse bunker havia gaiolas construídas nas paredes para albergar muitos dos mafiosos detidos. A prisão era vigiada 24 horas por carabinieri armados com metralhadoras. Estiveram presentes mais de 600 jornalistas para cobrir o evento. Dos 474 mafiosos indiciados, acusados de vários crimes e associação criminosa com a Máfia, foram condenados 360 réus. Embora 119 mafiosos foram condenados à revelia por andarem fugidos. Nunca antes na história da Máfia tantos mafiosos foram a julgamento, ao mesmo tempo.

Através dos Pentiti (arrependidos), provou-se a existência pública da Máfia. A maioria das provas vieram de Tommaso Buscetta um mafioso capturado em 1982 no Brasil, para onde fugira dois anos antes. Foi o primeiro traidor da Máfia. Farto da violência entre as Famílias mafiosas, perdeu nessa guerra da Máfia, muitos parentes, entre eles, os dois filhos, e muitos aliados, como Stefano Bontade e Salvatore Inzerillo. Assim, decidiu cooperar com os magistrados da Sicília.
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Tommaso Buscetta (1928-2000) foi o primeiro chefe da Máfia a fornecer
informações privilegiadas à justiça, traindo assim o código de honra da Máfia.

Tommaso Buscetta começou a se envolver com a Máfia em 1945 e nos anos seguintes, tornou-se membro de pleno direito da Família Porta Nuova. Seu primeiro trabalho foi principalmente o contrabando de cigarros. Após o Massacre Ciaculli em 1963, Buscetta fugiu para os Estados Unidos, onde a Família Gambino o ajudou no negócio de piza. Em 1968, na Itália, Buscetta foi condenado por duplo homicídio, mas a condenação foi à revelia já que ele não estava realmente em custódia. Em 1970 Buscetta foi preso em Nova Iorque. Como as autoridades italianas não pediram a sua extradição, foi libertado. Então, Buscetta mudou-se para o Brasil, onde montou um tráfico de drogas. Em 1972 foi preso e torturado pelo regime militar brasileiro, e posteriormente, extraditado para a Itália, onde começou uma sentença de prisão perpétua para a condenação por homicídio duplo mais cedo. Em 1980, fugiu da prisão novamente para o Brasil para escapar da Guerra da Máfia instigado por Totò Riina, que posteriormente levou à morte de muitos dos aliados de Buscetta. Preso mais uma vez em 1983, Buscetta foi enviado de volta para a Itália. Tentou o suicídio, mas não conseguiu. Desiludido com a Máfia, Buscetta pediu para falar com o juiz Giovanni Falcone e começou sua vida como um informador.
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Na Itália, Buscetta ajudou os juízes
Giovanni Falcone e Paolo Borsellino
a alcançar êxitos significativos na luta
contra o crime organizado. Buscetta
foi a principal testemunha no Mega
Julgamento (1986-1987).
 

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A Vingança da Máfia

A reacção da Máfia não tardou: cerca de 24 juízes e promotores foram assassinados enquanto a Máfia era investigada. Embora a Máfia não desaparecesse por completo, perdeu muito poder, embora sua aura ainda seja preservada em filmes e histórias. Seu declínio é uma prova categórica da teoria defendida por muitos: a de que o crime organizado só é neutralizado mediante enérgicas acções do Estado e da sociedade.

O Massacre de Capaci

O Massacre de Capaci foi o mais arrojado plano de execução e atentado praticado pela Cosa Nostra. No dia 23 de Maio de 1992, quando Giovanni Falcone seguia com a sua esposa (também juíza), e três polícias na auto-estrada entre Palermo e o Aeroporto Internacional da cidade, dirigiu-se até uma armadilha mortal preparada pela Máfia.
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Explosivos enterrados em valas na berma da estrada foram detonados via controlo remoto quando o carro passou pelo local da emboscada, matando todos os seus ocupantes.
Salvatore Riina foi condenado pelo assassinato, enquanto Giovanni Brusca admitiu ter sido ele a detonar as cargas.

Funeral de Giovanni Falcone

Milhares de pessoas se reuniram na Basílica de San Domenico para os funerais, que foram transmitidos ao vivo na televisão nacional. Todos os programas de televisão regulares foram suspensos. O Parlamento declarou um dia de luto. Menos de dois meses depois do atentado de Falcone, o seu colega Paolo Borsellin faleceu no atentado perpetrado com uma viatura armadilhada, que matou também cinco polícias.

Massacre de Via D'Amelio

Paolo Borsellino (1940-1992), advogado italiano. Como magistrado e conjuntamente com o juiz Giovanni Falcone, levou a cabo processos judiciais contra a Cosa Nostra. Começou o seu trabalho sob a direcção do também assassinado Chefe de Fiscais Rocco Chinnici.
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Em 19 de Julho de 1992, Borsellino foi morto por um carro armadilhado, em
Via D'Amelio, perto da casa de sua mãe em Palermo. O ataque causou a morte
de cinco polícias.

Na sua última entrevista em vídeo, dada em 21 de Maio de 1992 a Jean Pierre Moscardo e Fabrizio Calvi, Borsellino falou sobre a possível ligação entre mafiosos da Cosa Nostra e ricos empresários italianos, como o futuro primeiro-ministro Silvio Berlusconi. A entrevista recebeu pouca cobertura na televisão italiana, pois Berlusconi era dono de metade das estações de televisões locais. Além disso, controlava o canal TV do Estado. Salvatore Riina, chefe do ramo corleonês da Mafia, cumpre prisão perpétua pelos assassinatos de Falcone e Borsellino, entre outros crimes. Paolo Borsellino é hoje tido como um dos mais importantes magistrados da luta contra a Máfia durante o século XX.
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A foto dos dois juízes assassinados, Giovanni Falcone e Paolo
Borsellino, tornou-se um símbolo da luta contra a Cosa Nostra.

Curiosidade:

O Aeroporto Internacional de Palermo foi nomeado Falcone-Borsellino em homenagem aos dois juízes e abriga um memorial do par no local do escultor Tommaso Geraci.

Um monumento a Falcone está também na Academia Nacional do FBI na Virgínia, para honrar suas contribuições para o caso "Pizza Connection".

A "Pizza Connection" foi o maior julgamento nos tribunais dos Estados Unidos, que teve início em 30 de Setembro de 1985 e terminou com a condenação de todos os mafiosos envolvidos em Março de 1987. O processo referia-se ao envolvimento conjunto da Máfia Italiana com a Máfia Americana no tráfico de heroína através da cadeias de pizzarias em Nova Iorque, onde faziam lavagem de dinheiro.
 
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Associações Mafiosas

Nas últimas décadas do século XX, a Máfia assistiu a dois acontecimentos na sua própria organização: a passagem dos negócios tradicionais para os crimes de colarinho branco; e a disputas de territórios pelas várias Famílias mafiosas na Sicília, eliminando muitos membros do crime organizado e tirando vida a pessoas inocentes. Simultaneamente, a prisão de líderes do topo da Máfia gerou um vazio no poder que encorajou a grande Guerra da Máfia. Salvatore "Totò" Riina emergiu das guerras de gangues nos finais do século XX, como chefe geral da Máfia Siciliana, reinando enquanto fugitivo até à sua captura pela polícia em 1993. O seu sucessor, Bernardo Provenzano, foi detido e preso por vários crimes em Abril de 2006, deixando os observadores da Máfia a especular sobre a identidade do seu sucessor natural.

A Máfia está cercada de pentitos (informadores), que vivem debaixo de uma enorme protecção quando prestam testemunho em julgamentos sucessivos, dando por vezes origem a dezenas de condenações num único processo. Para além disso, hoje em dia, a Máfia enfrenta a concorrência em solo italiano de outras sociedades criminosas secretas estrangeiras. Todas elas aspiram a uma fatia no comércio da droga e outras actividades ilícitas lucrativas. Na Itália existem diversas máfias, para além da mais conhecida, a Cosa Nostra Siciliana, temos a Camorra, Napolitana, e a 'Ndrangheta, da Calábria.
 
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Camorra: A Máfia Continental

A Camorra é o único fenómeno mafioso proveniente de um meio urbano. Seu lugar de nascimento é Nápoles, na Itália, em torno do início do século XIX. A Camorra controla de perto o território, e é muito integrada ao tecido social, sobretudo junto às camadas mais pobres. Imagina-se que conte actualmente com cerca de 110 famílias operacionais e cerca de 7000 afiliados. As actividades da Camorra são incontáveis: da agiotagem à extorsão, do contrabando de cigarros ao tráfico de drogas, da importação irregular de carne à fraude na União Europeia. Sem esquecer os dois sectores tradicionais de monopólio: o do jogo clandestino e o de produção de cimento na região da Campânia.

Antecedentes

Tal como acontece com a Máfia Siciliana, a origem da Camorra está envolta em mistério. Algumas fontes afirmam que começou como Gardunha, uma sociedade criminosa de Sevilha, na Espanha, de finais da época medieval, tendo sido transferida para Nápoles, na Itália, por invasores espanhóis. Inicialmente criada como gangue de prisão, a Gardunha transformou-se numa organização que envolvia roubo, rapto, incêndio criminoso e assassinato. Afirma-se que os seus estatutos foram aprovados em Toledo (Espanha) em 1420, e que a sua fundação foi por volta de 1417. Como sociedade secreta, a Gardunha tornou-se muito atraente para os teóricos da conspiração, e foi supostamente activa durante 400 anos na Espanha, tendo até realizado os trabalhos mais sujos da Inquisição. Na história oficial sobre bandidos e distúrbios sociais (muito frequente na Andaluzia, no século XIX), não há uma única menção à Gardunha. Alguns alegaram que a Gardunha foi um precursor da Camorra, e foi transplantada quando a Espanha conquistou Nápoles.

A canção popular calabresa sugere um legado muito maior. Conta a história de três irmãos da Gardunha ou três cavaleiros espanhóis, que fugiram de Espanha no século XVII, depois de terem-se vingado com sangue, a honra da irmã. Naufragaram na ilha de Favignana, perto da Sicília. Os três irmãos seguiram caminhos diferentes: Mastrosso, protegido pela Nossa Senhora, fez o seu caminho para Nápoles, onde fundou a Camorra; Carcagnosso, protegido por São Miguel, fez o seu caminho para Calábria, e fundou a Ndrangheta. Osso devoto de São Jorge, fez o caminho até à Sicília e fundou a Máfia Cosa Nostra. As circunstâncias do naufrágio dos três irmãos sugerem que poderia ter sido piratas, tendo provavelmente ligação aos piratas das Américas que assaltavam os galões carregados de ouro e prata do Império Espanhol.

Origem da Camorra

O termo Camorra surgiu impresso pela primeira vez em 1753, referindo-se a casas de jogos em Nápoles, onde um jogo chamado Morra era supervisionado por capos. Daí o termo «capos» e «Morra» dar origem ao nome «Camorra». Em 1820, a polícia de Nápoles descobriu documentos que mostravam as regras e rituais de iniciação de um grupo do crime organizado chamado Camorra, que operava na cidade de Campânia e arredores.
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A influência da Camorra no século XIX atingiu o seu auge sob o governo dos Bourbons, que recrutavam membros da Camorra para integrar o exército, serviço público e forças policiais. O gangue encarregava-se do jogo e do roubo no seu território, ao mesmo tempo que cobrava um imposto de 10% sobre todos os bens que chegavam ao porto de Nápoles. A Camorra passou por tempos difíceis quando Nápoles se juntou à Itália unida em 1861, e novos administradores proibiram a Camorra, levando muitos membros a procurar refúgio nos Estados Unidos. Ao chegar ao poder em 1922, Benito Mussolini lançou uma campanha para extinguir tanto a Camorra como a Máfia Siciliana. Mas Camorra gozou de um ressurgimento depois da Segunda Guerra Mundial, quando a deportação de líderes mafiosos americanos para Nápoles fez desta cidade o centro do crime organizado italiano.

Camorra no estrangeiro

Apesar de suas origens, a Camorra tem ramificações importantes em outras regiões italianas, como a Lombardia, Piemonte e Emilia-Romagna. Espalhou-se para fora da Itália, conquistando o Reino Unido e os Estados Unidos. Na Escócia, em Aberdeen, a Camorra era dirigida por António La Torre, que dirigia um restaurante italiano. Era irmão de Augusto La Torre, chefe do poderoso do clã La Torre de Mondragone, na Campânia.
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Até à sua prisão na Escócia e extradição para a Itália em Março de 2005, António La Torre estava no comando da filial local do clã em Aberdeen, na Escócia, onde geria os seus negócios tanto legais como ilegais. Augusto La Torre dirigia uma poderosa organização da Camorra, cujos negócios estendiam-se desde a sua base de Mondragone, no interior de Campânia, até Aberdeen, na Escócia, bem como também na Holanda.

Em Janeiro de 2003, Augusto La Torre foi detido pela polícia italiana e passou a colaborar com a justiça. Confessou mais de 40 assassinatos. O império do Clã La Torre estava orçado em centenas de milhões de euros. Foram também detidos dois italianos do restaurante em Aberdeen, Ciro Schiattarella e Michele Siciliano, que foram extraditados para a Itália. Um quarto sócio fez história ao tornar-se o primeiro membro estrangeiro da Camorra. O escocês está a cumprir pena de prisão no Reino Unido. Relatos afirmam que recebe um salário mensal, assistência jurídica e protecção.

Aberdeen, a terceira maior cidade da Escócia, não tem história de crime organizado, sendo vista como um sítio seguro, longe da violência entre gangues que ocorrem na Itália. Mas a cidade não tinha recursos para estimular o turismo e o divertimento. Quando os mafiosos italianos da Camorra chegaram a Aberdeen, revitalizaram a indústria do turismo, criaram novas actividades de importação e exportação, e investiram vigorosamente no sector imobiliário. Graças aos italianos, Aberdeen tornou-se um lugar importante para negócios e jantares elegantes. O restaurante "Pavarotti" da Camorra, em Aberdeen, foi anunciado em guias turísticos da cidade.

António La Torre operava um sistema conhecido por «scratch», usado para acelerar as suas actividades ilegais e os seus empreendimentos legítimos. Se o dinheiro fosse insuficiente para o investimento, imprimiam notas falsas; se era necessário capital com urgência, vendiam títulos falsos. Conseguiram com esse sistema aniquilar a concorrência através de extorsão, e importaram mercadorias isentas de impostos. A Camorra foi capaz de ter sucesso nesta cidade porque a polícia local não tinha experiência em lidar com o crime organizado. Apesar da detenção dos mafiosos, Giuseppe Baldini, vice-cônsul do governo italiano em Aberdeen, nega que a Camorra mantenha a sua presença na cidade.

Camorra na América

A Camorra existia nos E.U.A., entre a metade do século XIX e início do século XX. Eles rivalizavam com a Família Morello de Nova Iorque. Eventualmente, eles se fundiram com os primeiros italo-americanos na América. O primeiro gangue americano da Camorra formou-se em Brooklyn, Nova Iorque, e espalhou-se a partir daí, com os membros a serem atraídos pela actividade de extorsão da Mão Negra. Recentemente, muitos membros da Camorra e associados fugiram da Guerra da Máfia para os Estados Unidos na década de 80.

Em 1993, o FBI estimou que havia 200 membros da Camorra, nos Estados Unidos. Embora não parece haver nenhuma estrutura de clã, nos Estados Unidos, os membros da Camorra estabeleceram-se em Los Angeles, Nova Iorque e Springfield, no Massachusetts. A Camorra é menos activa de todos os grupos do crime organizado nos Estados Unidos. Apesar disso, a lei americana considera a Camorra um empreendimento criminoso em ascensão, especialmente perigoso por causa de sua capacidade de se adaptar às novas tendências e forjar novas alianças com outras organizações criminosas.

Actividades da Camorra

Na década de 1970, a Máfia Siciliana convenceu a Camorra para converter suas rotas de contrabando de cigarros em rotas de contrabando de drogas com o apoio deles. Nem todos os líderes da Camorra concordaram, levando a guerras com a Máfia Siciliana que custou a vida a 400 membros da Camorra. Os opositores do tráfico de drogas perderam a guerra. A Camorra fez fortuna na reconstrução após um terramoto que devastou a região da Campânia, em 1980. Além de ser especializada em contrabando de cigarros, a Camorra recebe pagamentos de outros grupos criminosos para qualquer tipo de tráfego de cigarro através da Itália. A Camorra também está envolvida em lavagem de dinheiro, extorsão, contrabando para o estrangeiro, chantagem, rapto, corrupção política e falsificação. Acredita-se que cerca de 200 afiliadas da Camorra residem na Itália, muitos dos quais chegaram durante as guerras da Camorra.

Atentado Ambiental

Desde meados da década de 1990, a Camorra retomou o tratamento de eliminação de resíduos na região de Campânia, com resultados desastrosos para o meio ambiente e para a saúde da população em geral. Os metais pesados, resíduos industriais, produtos químicos e domésticos são frequentemente misturados, e jogados perto de estradas e queimados para evitar a detecção, levando à poluição grave do solo e do ar.

Com a cumplicidade de empresários privados, os numerosos clãs da Camorra são capazes de obter grandes lucros a partir de contratos no âmbito do pano, com negócios legítimos locais. Estes "stakeholders" são capazes de oferecer às empresas promoções altamente lucrativas para remover seus resíduos a um preço significativamente mais baixo. Com pouca ou nenhuma sobrecarga, os clãs da Camorra e seus associados apreciam as margens de seu lucro muito elevadas. A Camorra emprega crianças para conduzir os resíduos pagando pouco e que não se queixam dos riscos de saúde, como os camionistas.

Este negócio de eliminação de resíduos pela Camorra tem sido apoiado por funcionários corruptos e empresários sem escrúpulos, por toda a Itália. Em Novembro de 2013, foi realizada uma manifestação de dezenas de milhares de pessoas, em Nápoles, em protesto contra a poluição causada pela Camorra. Acredita-se que durante 20 anos, cerca de 10 milhões de toneladas de resíduos industriais tenham sido despejados ilegalmente, provocando cancro nas populações na ordem dos 40%-47%.

Relações da Camorra com os estrangeiros

Em 1995, a Camorra cooperou com a Máfia Russa no esquema em que a Camorra fazia lavagem de dinheiro para os russos. Em troca, a Máfia Russa pagou à Camorra com propriedades (incluindo um banco russo) e armas contrabandeadas para Europa Oriental e Itália.

Nos últimos anos, vários clãs da Camorra formaram alianças com gangues de traficantes nigerianos e a Máfia albanesa, mesmo indo tão longe a ponto de casar-se. Por exemplo, Augusto La Torre, que se tornou um pentito, é casado com uma mulher albanesa. Também deve-se notar que o primeiro pentito estrangeiro, um tunisiano, admitiu estar envolvido com o temido clã Casalesi de Casal di Principe.

A primeira cidade que a Camorra entregou para ser completamente governada por um clã estrangeira era Castel Volturno, que foi dado aos clãs de Lagos e Benin City na Nigéria. Isto permitiu-lhes traficar cocaína e mulheres como escravas sexuais para a Europa.

Em 2012, a administração Obama impôs sanções sobre a Camorra como uma das quatro principais organização da criminalidade transnacional, juntamente com a Máfia Russa, o Yamaguchi-gumi (Yakuza ) do Japão, e Los Zetas do México. Hoje em dia, a Camorra detém influência económica e política na sua terra natal, apesar de 30 ou 40 grupos independentes entraram frequentemente em lutas entre gangues por territórios ou por actividades criminosas.
 
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António Spavone: Primeiro verdadeiro chefe da Camorra

António Spavone (1926-1993) foi um dos líderes mais conhecidos da Camorra. É considerado o primeiro verdadeiro patrão da Máfia Napolitana. Filho de um pescador, desde a infância que admirava o bando do seu irmão Carmine, e por isso, dedicou-se ao furto e roubo.
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Em 1945, durante a festa de casamento de sua irmã Maria, e para se vingar do seu irmão, António Spavone enfia 13 facadas no chefe rival responsável pela morte do seu irmão. Esta atitude dá-lhe um grande prestígio no submundo, e a partir daí, António Spavone torna-se um dos chefes mais poderosos da Camorra. A sua alcunha era "Homem Mau".

Em 4 de Novembro de 1966, ocorreu na madrugada de sexta-feira, fortes inundações que saíram do Rio Arno, e causaram graves danos em Florença, e grande parte da Toscana, e um pouco por todo o país. Durante as inundações, António Spavone distinguiu-se pelos seus actos heróicos, ao salvar da prisão, três companheiros de cela, dois guardas e a filha do director da prisão. Por este gesto, foi perdoado e libertado. Em 1973 volta à prisão pelo assassinato de Gennaro Ferrigno, mas o Supremo Tribunal de Justiça absolveu, graças à cumplicidade de um magistrado. Em 1976 sofre uma emboscada, quando os homens de Raffaele Cutolo, sob as ordens de Mico Tripodo, desfiguraram a cara de Spavone, sendo submetido a mais de 40 cirurgias plásticas nos Estados Unidos. Regressa a Nápoles em 1979 e liga-se à nova organização da Camorra. Veio a morrer de cancro em 1993.
 

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Raffaele Cutolo: Fundador da Nova Camorra.

Um mafioso ambicioso, Raffaele Cutolo, fundou uma Nova Camorra Organizada em 1970, com uma hierarquia de comando a imitar a Máfia Siciliana, mas detenções em massa e 300 condenações destroçaram o grupo em 1983.
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Raffaele Cutolo, nascido em 20 de Dezembro de 1941, é o líder carismático da Nova Camorra Organizada, uma organização que construiu para renovar a Camorra. Cutolo tem uma variedade de apelidos: é conhecido por "O Evangelho", "O Príncipe", "O Professor" e "O Monge". Além de 18 meses em fuga, Cutolo viveu dentro de prisões de segurança máxima ou prisões psiquiátricas desde 1963. Actualmente cumpre várias penas de prisão perpétua por assassinato.

Raffaele Cutolo era um mau aluno na escola, sendo violento e desatento. Aos 12 anos de idade, fazia parte de um gangue de adolescentes, cometendo pequenos roubos e provocando os lojistas. Quando aprendeu a conduzir, comprou um carro que o usou nos seus assaltos. Em 24 de Fevereiro de 1963, aos 21 anos de idade, Raffaele Cutolo cometeu o seu primeiro homicídio. Devido a um encontrão com uma rapariga, o namorado desta insultou-o. Na luta Cutolo sacou da arma e matou-o. Foi condenado a prisão perpétua na Prisão Poggioreale, em Nápoles. No mundo da prisão, Cutolo fez-se Homem de Honra. Aprendeu as regras do mundo do crime. Cutolo tornou-se chefe da Camorra ao desafiar António Spavone "O Homem Mau", para uma briga com facas no pátio da prisão. Mas Spavone recusou e foi libertado mais tarde. Mas a partir da sua cela na prisão, Cutolo ordenou o assassinato de Spavone, tendo este sofrido uma emboscada e baleado com tiros de espingarda. Imediatamente, Spavone renunciou ao seu papel como chefe da Camorra.

Cutolo reuniu um pequeno grupo de prisioneiros, o núcleo do que viria a tornar-se a liderança da Nova Camorra: Antonino Cuomo conhecido como "O Maranghiello" (The Cudgel), Pasquale Barra conhecido como "O Animal", Giuseppe Puca conhecido como "O Japonês", Pasquale D'Amico conhecido como " O Seleccionador de Papelão", e Vincenzo Casillo conhecido como "O Nirone" (The Big Black). Após serem libertados, iriam criar actividades criminosas do lado de fora, que seriam controlados directamente por Cutolo de dentro do sistema penitenciário.
 

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Nova Camorra Organizada (NCO)

A Nova Camorra Organizada (NCO) fundada no final de 1970, por Raffaele Cutolo, na região de Campânia, tinha como objectivo renovar a velha Camorra rural, que estava ligada aos negócios tradicionais do contrabando de cigarros e esquemas de extorsão no mercado de frutas napolitana. Para este fim, Cutolo criou uma organização estruturada e hierárquica, em contraste com os clãs da Camorra tradicionais que geralmente são fragmentados. Os membros da Nova Camorra eram conhecidos como «Cutoliani».

De acordo com o Departamento de Justiça italiano, em 1981, o NCO tornou-se o mais forte clã da Camorra e uma das mais poderosas organizações criminosas da Itália. Era claramente hostil à Máfia Siciliana, mas tinha uma aliança com a calabresa N`drangheta, além da Nova Grande Camorra Pugliese, que foi o precursor da Sacra Corona Unita em Apúlia. A NCO foi extinta em 1990, com a morte e a prisão de muitos membros. Foi ultrapassada pela Nuova Famiglia.

Nuova Famiglia

A Nuova Famiglia foi criada na década de 80 para enfrentar a Nova Camorra Organziada (NCO), chefiada por Raffaele Cutolo. A organização incluíam Michele Zaza (o chefe Camorra com fortes laços com a Cosa Nostra ), o clã Gionta (de Torre Annunziata ), o clã Nuvoletta de Marano, António Bardellino de San Cipriano d'Aversa e Casal di Principe, o clã Alfieri de Saviano liderada por Carmine Alfieri, o clã Fabbrocino de Nola liderada por Mário Fabbrocino, o clã Galasso de Poggiomarino (liderados por Pasquale Galasso ), Umberto Ammaturo, o clã Giuliano de Nápoles, no quarteirão Forcella e o clã Vollaro de Portici. Inicialmente as rédeas do poder foram realizadas pelos irmãos Nuvoletta, mas no final de 1980 eles foram suplantados por Antonio Bardellino. A guerra que se seguiu entre a Nova Camorra Organizada e a Nuova Famiglia causou um grande número de vítimas. No final de 1980, a NCO foi finalmente derrotada, mas logo a guerra estourou dentro da Nuova Famiglia entre Nuvoletta e Bardellino.
 
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Michele Zaza: Maior Contrabandista de Cigarros da Camorra

Michele Zaza (1945-1994) foi maior contrabandista de cigarros da Camorra nos anos 1970 e 1980. Apesar de ser membro importante da Camorra, foi iniciado também na Máfia Siciliana. Chefiou o clã Zaza-Mazzarella em Nápoles. Era conhecido como "O Pazzo" (O Louco), devido as suas declarações públicas francas e implausíveis.
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Filho de um pescador de Procida, a menor das três ilhas no Golfo de Nápoles, cresceu no bairro pobre Portici. Teve uma juventude conturbada envolvida em assaltos, brigas e até mesmo tentativa de homicídio. O seu primeiro encontro com a lei foi em 1961, quando foi preso por estar envolvido numa briga de rua. Em 1960 tornou-se o líder de um grupo de sucesso de contrabando de cigarros através do porto de Nápoles, além do outro grupo predominante, o clã Maisto. Com seus parentes, a família Mazzarella, Zaza controlava as zonas de San Giovanni a Teduccio de Santa Lúcia. Em 1974 não havia provas de que Zaza havia subido no submundo do crime, quando foi preso com importantes mafiosos como Gerlando Alberti, Stefano Bontade e Rosario Riccobono. Logo depois, foi preso em Palermo com o chefe da Máfia Alfredo Bono por posse ilegal de armas de fogo.

Em 1961, o Porto Livre de Tânger em Marrocos, famoso por contrabando de cigarros foi fechado. O comércio ilegal no Mediterrâneo deslocou-se para as costas da Jugoslávia e da Albânia. Esta deslocalização beneficiou muito a Camorra. Nápoles teve uma posição estratégica ideal no acesso ao Mediterrâneo e fácil às costas da Jugoslávia e da Albânia, e assumiu como o principal ponto de trânsito de mercadorias contrabandeadas. Transformou Nápoles na capital do contrabando do Mediterrâneo. Navios que transportam as cargas de cigarros ilegais escondiam-se atrás da ilha Capri. À noite pequenas lanchas azuis vinham carregar os bens, evitando as autoridades.

O clã Zaza-Mazzarella conseguiu tirar proveito desta situação. Zaza ficou conhecido como "Rei das Loiras", como os cigarros são chamados na gíria francesa e italiana. Contrabandeando tabaco da marca Philip Morris (Marlboro) e Reynolds (Camel e Winston). No final da década de 1970, havia dois tipos diferentes de organizações da Camorra: a Nova Camorra Organizada (NCO), sob a liderança de Raffaele Cutolo, envolvida no tráfico de cocaína e esquemas de protecção, preservando também uma forte identidade regional. Em contraste, as gangues de negócios ligados à Máfia como a organização de Zaza, estavam envolvidos em contrabando de cigarros e tráfico de heroína, mas logo mudou-se para investir em empresas imobiliárias e de construção, em particular quando a reconstrução após o terramoto Irpinia em Novembro de 1980 fornecia uma ampla oportunidade para arrecadar contratos públicos.

A NCO de Cutolo estava se tornando mais poderosa ao invadir e assumir territórios do outro clã e foi capaz de quebrar o poder tradicional realizada por Famílias individuais da Camorra. O NCO era violento demais para ser confrontado por qualquer uma das Famílias que foram inicialmente muito fracas e divididas, e fáceis de intimidar. Se os outros grupos criminosos queriam manter seus negócios, foram obrigados a pagar a protecção à NCO sobre as suas actividades, incluindo uma percentagem dos cigarros contrabandeados em Nápoles. Este procedimento passou a ser conhecido como ICA (Imposta Camorra Aggiunta - ou Camorristic venda de imposto).

Zaza tinha que pagar a Cutolo 400.000 dólares para ter direito de continuar a contrabandear cigarros. Nos primeiros meses, Zaza pagou mais de 4 biliões de liras (cerca de 3 milhões de dólares) para a NCO como imposto criminal. Para se opor a Cutolo, Zaza formou uma Fraternidade Honrosa (Onorata fratellanza) em 1978, embora inicialmente sem muito sucesso. Um ano depois, em 1979, a Nuova Famiglia foi formada para contrastar NCO de Cutolo, qual entrou Zaza. A partir de 1980-1983, uma guerra sangrenta travada dentro e ao redor de Nápoles, deixou várias centenas de mortos e enfraqueceu a NCO.

O tráfico de drogas

O sucesso da Zaza deve-se ao seu envolvimento, primeiro no contrabando de cigarros, e depois no tráfico de drogas. Zaza investiu seu dinheiro ilegal em negócios legítimos, como imóveis, empresas de construção e restaurantes. Esteve envolvido na Pizza Connection, rede contrabando de heroína do início de 1980, e o seu nome surgiu no âmbito de uma reunião em Paris em Setembro 1982, com outros mafiosos na qual foi discutido um pacote de 600 kg de cocaína realizada no Brasil. Em 1982 a DEA perseguiu Zaza por estar envolvido na importação de 93 kg de heroína para sua mansão em Beverly Hills, na Califórnia, em cooperação com o chefe da Máfia António Salamone. No entanto, a DEA não conseguiu encontrar o local de embarque.

Zaza tinha as suas ligações no tráfico de heroína com o gangster corso Gaetan Zampa, com sede em Marselha. Em 11 de Dezembro de 1982, Zaza foi detido em Roma. Imediatamente depois de sua prisão, a sua saúde se deteriorou e os cardiologistas acreditava que sua situação era alarmante. Foi colocado em prisão domiciliar. Em 15 de Fevereiro de 1983, recebeu outro mandado de prisão devido à sua ligação Pizza Connection, nos Estados Unidos. No entanto, Zaza fugiu de sua prisão domiciliar em Dezembro de 1983, e mudou-se para Paris. Foi preso novamente em 16 de Abril de 1984, com Nunzio Barbarossa. Novamente extraditado para a Itália, mas devido aos problemas de coração, evitou a prisão.
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Após a sua libertação em Itália, Zaza mudou a sua base de operações para o sul da França para evitar o assédio das autoridades italianas. Foi preso em Nice, em 14 de Março de 1989, após ter sido descoberto um camião transportando 500.000 maços de cigarros contrabandeados. Zaza parece ter estado envolvido em actividade criminosa de nível superior, aparentemente hospedando uma cúpula de drogas da Camorra no Hotel Palácio do Eliseu em Nice, em Fevereiro de 1989. Em 1990 associados de Zaza, quase conseguiram comprar o casino em Menton , no lado francês da fronteira franco-italiana. Em Julho de 1991, um tribunal francês condenou a três anos para o contrabando de cigarros. Beneficiando de uma lei francesa que facilita a libertação de presos que já tenham cumprido metade de sua sentença, Zaza foi libertado em Novembro de 1991, enquanto as autoridades italianas pediam sua extradição por associação mafiosa, tráfico de drogas e contrabando de cigarros. Em Março de 1993, a polícia desmantelou uma rede da Cosa Nostra e Camorra com 39 pessoas envolvidas no tráfico de cocaína e lavagem de dinheiro na Itália, França e Alemanha (Operação Mar Verde). Zaza foi preso em Villeneuve-Loubet na Riviera francesa, perto de Nice, no sul da França. Foi extraditado da França em 27 Março de 1994. Em 18 de Julho de 1994, morreu de um ataque cardíaco no hospital de Roma, onde havia sido transferido da prisão de Rebibbia.

Imensamente rico

Devido as suas empresas de tráfico ilícito, Zaza tornou-se imensamente rico. Quando foi preso, a polícia encontrou cheques no valor de 950.000 dólares nos seus bolsos.

Em 1989, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos estimou seus activos nos E.U.A. no valor de 3,2 milhões de dólares. Ao mesmo tempo, o FBI também estimou que Zaza tinha contas no valor de 15 milhões de dólares depositados em bancos suíços.

A sua filha era a proprietária de uma casa com 10 quartos em Beverly Hills, na Califórnia; possuía um apartamento em Paris; uma casa de campo nos arredores de Nice, e imobiliário em Nápoles. A riqueza de Zaza totalizava 700 milhões de dólares, no momento da sua morte.
 
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Conclusão sobre a Camorra

Apesar de a Máfia Siciliana ser a mais poderosa da Itália, a Camorra não deixa de ser temível. Ao contrário da sua prima siciliana, a Camorra nasceu na cidade, e não tem uma organização piramidal. Mais de 80 clãs dividem a cidade e os subúrbios, que segundo os interesses, se aliam ou se opõem, o que provoca regularmente ajustes de contas sangrentas. A lei do silêncio protege os clãs, sobretudo porque o seu apoio é necessário para quem desejar abrir uma loja, encontrar alojamento ou simplesmente evitar o roubo do carro.

A Camorra desempenha como no passado, o papel de um poder paralelo. Obtém grande parte dos lucros através do contrabando de tabaco, que em Nápoles significa dois terços dos cigarros vendidos, e envolve metade dos comércios e todas as empresas da construção civil. A sua experiência no contrabando do tabaco permitiu-lhe passar facilmente ao tráfico de drogas, nos anos 70. A partir daí, a maior parte dos recursos da Camorra advém deste comércio lucrativo, organizado a partir da América Latina, sobretudo na Colômbia e na Bolívia. A extorsão é a outra fonte de rendimentos sempre presente na Camorra.
 

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N`drangheta Calabresa

Ao sul da Itália, na Calábria fica outra organização mafiosa, a N`drangheta, cujo nome deriva do grego «andranghtos» que significa «homem corajoso e astuto»; ou mesmo de outro nome grego «andragathía» que significa «heroísmo e virtude». Esta organização mafiosa foi fundada e em grande medida restringida à Calábria, que é o distrito mais pobre e com mais criminalidade da Itália. A Calábria é a região italiana onde as taxas de homicídio são as mais elevadas.

A N`dranghet não é tão famosa quanto a siciliana Cosa Nostra, mas actualmente é a mais influente e considera-se ainda mais fechados e mais difícil de penetrar do que a Máfia Siciliana. Pouco ou nada se sabe de suas actividades. Tanto controla indirectamente o território através das câmaras, que nenhum polícia lhe conseguiu pôr fim. Durante muito tempo, a sua organização absolutamente descentralizada favoreceu as lutas de clãs. Esta sociedade secreta surgiu depois de a polícia correr com os bandidos das montanhas de Aspromonte, para proteger uma novo caminho ferroviário que avançava de Reggio di Calabria até Eboli. Os bandidos deslocados formaram novas organizações de orientação familiar, prosseguindo as carreiras criminosas em cidades e vilas. Um cenário alternativo proposto por alguns historiadores traça ligações com a sociedade criminosa Gardunha, importada por conquistadores espanhóis nos séculos passados.
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Para se tornar membro desta sociedade secreta é necessário ter cometido um crime a sangue frio. Apenas depois se participa no esquema iniciático que assimila a sociedade a uma árvore: as ramificações são os novos recrutas; os ramos, os membros existentes; o tronco, o coração e centro do poder. Quanto as folhas, simbolizam os traidores destinados a cair um dia ou outro. Embora os membros do crime organizado italiano sejam livremente chamados mafiosi, um membro de qualquer clã n`drangheta é conhecido mais especificamente como um ndrinu, e o próprio clã em si como ndrina. Além de ter a vantagem do parentesco (os casamentos são feitos entre parentes), os ndranghetistas misturam-se bem nos seus ambientes, mantendo aparência externa humilde e não ostentando suas riquezas.

Ao contrário das outras organizações mafiosas que possuem sistema piramidal de chefia, os grupos N`drangheta são baseados em famílias de sangue (chamados Ndrine). Há em torno de 50 a 200 dessas famílias, totalizando aproximadamente 6000 integrantes. Há ainda diversos sobre-nomes famosos na Máfia, apesar de alguns famosos mafiosos terem deixado a Itália.

Como o italiano António Nigro, que herdou do pai uma parcela significativa da Máfia. António Nigro fugiu para o Brasil com seu irmão e abriu uma indústria de tecidos para cama, mesa e banho, principalmente para cometer actividades ilícitas, como lavagem de dinheiro, apesar de ser uma das maiores indústrias do Brasil na época. Descoberta a farsa, Nigro se suicidou, deixou uma esposa (Condessa) e o casal de filhos menores e gémeos. Sabe-se apenas que a menina seguiu a carreira de cantora lírica. Desde então nada mais se soube sobre esta fracção da família Nigro. Na N`drangheta, o filho mais velho com o último sobrenome do pai deve assumir o controlo, assim como o filho dele e sucessivamente. Logo depois do desaparecimento de Tony, a sua área foi dada ao seu primo, Francesco Berroni.

A N`drangheta começou por ser conhecida como uma influente organização criminosa, graças ao chefe Paolo De Stefano, considerado responsável por ter feito de um grupo criminoso rural, uma das maiores organizações criminosas do mundo. Em poucas décadas, a N`drangheta passou da extorsão artesanal dos mercados de frutas e de legumes ao contrabando de tabaco, depois ao tráfico de droga, em conivência com os produtores da Albânia. Apesar da proximidade geográfica da Calábria à Sicília, as várias famílias da N`drangheta mantêm a sua independência em relação à Máfia Siciliana, colaborando principalmente no tráfico de narcóticos que traz para a N`drangheta cerca de 30 milhões de dólares por ano.

De acordo com a Direzione Investigativa Antimafia e da Guardia di Finanza, N`drangheta é actualmente uma das organizações criminosas mais poderosas do mundo. As suas actividades incluem tráfico internacional de drogas, descarte de resíduos ilegais, contrabando de armas, extorsão, usura, prostituição, falsificação e tráfico de seres humanos. Com relação ao tráfico de drogas, os investigadores italianos calculam que 80% da cocaína da Europa passa pelo porto calabrês de Gioia. Actividades adicionais incluem lavagem de dinheiro e crimes tradicionais como usura e extorsão. N`drangheta investe seus lucros ilegais em bens imóveis legais e actividades financeiras. As autoridades italianas calcularam em 2013 uma movimentação de 53 biliões de euros.

N`drangheta no estrangeiro

No estrangeiro, a N`drangheta opera com 400 chefes em 30 países com 60.000 pessoas. Possui postos avançados na América: Canadá, Estados Unidos, Argentina e Colômbia. Possui também divisões reconhecidas na Europa: Bélgica, França, Alemanha e Holanda.
 
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Jovens Máfias

Para além das grandes organizações criminosas tradicionais há muito implantadas no sul de Itália, começaram a surgir a partir dos anos 80, novas sociedades criminosas secretas. Na região de Apúlia actuam vários grupos mafiosos que nasceram a partir da década de 1980. O mais importante de entre elas é a Sacra Corona Unita que se terá formado por volta de 1980. Esta nova Máfia, com um ritual de iniciação místico, conseguiu transformar o banditismo local e antigo no núcleo criminoso hierarquizado, com múltiplas actividades. Soube tirar partido da sua localização geográfica, próximo da costa da antiga Jugoslávia, junto das quais contrabandeiam cigarros, mas também imigrantes ilegais que fogem dos Balcãs devastados pelos anos de guerra. Por outro lado, as Máfias de Moscovo ou da Albânia fornecem-lhe a droga e as armas, que são disseminadas por toda a Europa, nomeadamente através da Bélgica.

Sacra Corona Unita

A Sacra Corona Unita surgiu pela primeira vez em Maio de 1983, fundada por Giuseppe Rogoli, um recluso da prisão de Bari, capital da região de Apúlia, no sul da Itália. Foi criada especificamente para resistir às incursões da Nova Camorra Organizada de Raffaele Cutolo. Os membros da organização criminosa seguem todas as actividades ilícitas tradicionais do crime organizado, especialmente no tráfico humano, o que levou a que os seus membros fossem alcunhados de «comerciantes de escravos dos tempos modernos». De acordo com a polícia italiana, estima-se que a Sacra Corona Unita seja composta por 50 clãs locais, governados por um chefe (crimine) que domina uma estrutura piramidal com soldados (cammoristi) nos postos mais baixos. Como acontece na rival Máfia Siciliana, os postos intermédios levam títulos diferentes.
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A Sacra Corona Unita é composta por cerca de 50 clãs com aproximadamente 2000 membros e é especializada no contrabando de cigarros, drogas, armas e pessoas. A Família Magliozzi Legendary é conhecida por lavagem de dinheiro internacional. A Sacra Corona Unita recolhe retornos de outros grupos criminosos para o desembarque de direitos na costa sudeste da Itália. Este território é uma porta de entrada natural para o contrabando de e para países como Montenegro e Albânia. Muito poucos membros da Sacra Corona Unita foram identificados nos Estados Unidos, no entanto, existem alguns grupos em Illinois, Flórida, e possivelmente, em Nova Iorque. A Sacra Corona Unita também está envolvida em extorsão e corrupção política.

Com a importância decrescente do corredor do Adriático como um canal de contrabando (graças à normalização da zona dos Balcãs) e operações de sucesso movidos pelas forças policiais e judiciais contra a sociedade, nos últimos anos, a Sacra Corona Unita foi reduzido a uma fracção de seu antigo poder, que atingiu o pico em torno de meados dos anos 1990. O reconhecimento público desta sociedade criminosa secreta como ameaça nacional ocorreu em 1990, depois de cammoristi (soldados) conhecidos colocarem bombas no tribunal de justiça em Lecce, a segunda maior cidade da Apúlia.

Entretanto, guerras de mútuo extermínio geraram pelo menos três facções rivais a partir do corpo principal:
- A Nova Famiglia Salentina, fundada em 1986 por De Matteis Pantaleo, opere principalmente nos arredores de Salento.
- A Remo Lecce Libera foi criada por dissidentes da Sacro Corona Unita em Lecce, opondo-se à intrusão de mafiosos não pertencentes à organização.
- A facção separatista mais recente, a Rosa dei Venti, foi supostamente criada na prisão de Lecce, durante 1990, por um recluso chamado De Tommasi.

Stidda: A Nova Estrela da Sicília?

A polícia italiana considera a Stidda (estrela em siciliano), a organização criminosa mais recente e significativa da nação. Foi fundada pelos membros da Máfia Giuseppe Croce Benvenuto e Salvatore Calafato, no início da década de 1980, durante a disputa agressiva de Salvatore "Totò Riina" contra as outras Famílias da Máfia. Os membros da Stidda são conhecidos como Stiddari. Aparentemente, alguns membros usam uma estrela como tatuagem nos seus corpos. Os membros mais velhos usam uma agulha e tinta preta e azul para esculpir uma estrela de cinco pontas na mão direita, entre o polegar e o dedo indicador.
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Pouco se sabe sobre as origens da organização, embora acredita-se que tenha surgido de forma semelhante à Máfia Siciliana, no mesmo ambiente rural da Sicília. Ao contrário da Mafia, o Stidda foi principalmente rural até a década de 1980, quando se tornou um pouco mais expansionista e começou a se mover para as cidades, trazendo os dois grupos sicilianos em competição uns com os outros. Difere da Máfia por não ter um sistema de honra, mas está interessado apenas em actividades criminosas e lucrativas. Presentemente, a Stidda opera sobretudo no sul da Sicília, com quartéis-generais nas cidades de Agrigento, Caltanisetta e Gela, Vittoria e Niscemi.

No início de 1990, a Stidda esteve envolvida numa guerra contra a Máfia Siciliana. Uma das suas vítimas famosas foi o juiz Rosario Angelo Livatino (1952-1990).
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O juiz Rosario Angelo Livatino morreu assassinado em 21 de Setembro de 1990, enquanto viajava sem guarda-costas, na auto-estrada Canicattì a Agrigento, para o tribunal. Os assassinos tinham sido pagos pelo Stidda de Agrigento, uma organização criminosa semelhante à Cosa Nostra.
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Durante sua carreira, Livatino trabalhou contra a
corrupção, e obteve sucesso numa série de casos,
apreendendo grandes somas de dinheiro e bens, e a
prisão de figuras importantes do crime organizado.

A sua história inspirou um romance "The Boy Juiz", escrito por Nando Dalla Chiesa em 1992, e foi feito um filme com o mesmo título em 1994 pelo realizador Alessandro di Robilant.
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O filme "Il Giudice Ragazzino" que aborda a vida do jovem juiz, realizado por Alessandro di Robilant, em 1994.

Processo de beatificação

Em 1993, o Bispo de Agrigento pediu ao ex-professor do Rosario Livatino, Ida Abate, para recolher qualquer testemunho disponível para a beatificação de Livatino. Uma pessoa, Elena Valdetara, afirma ter sido curada de uma forma grave de leucemia, graças à milagrosa intervenção do juiz, que apareceu no sonho trajando vestes sacerdotais e pediu-lhe para encontrar em si mesma a força, a fim de derrotar a doença. O Papa João Paulo II disse que Rosario Livatino foi um mártir da justiça e de uma maneira indirecta da fé cristã.
 
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Máfia Americana: La Cosa Nostra

No século XIX a Europa passava por grandes transformações provenientes da luta contra o Antigo Regime e a instalação de regimes liberais. Nesse processo, várias nações experimentaram crises económicas que motivaram a emigração para a América. Entre os imigrantes que chegam, contavam os italianos, responsáveis pela chegada de mais de quatro milhões de pessoas ao continente americano.
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Na maioria dos casos, tratava-se de camponeses pobres vindos das regiões da Sicília, Nápoles e da Calábria. Longe de sua terra natal, muitos desses imigrantes se reuniam em bairros que, em pouco tempo, se tornaram guetos concentrados de italianos dispostos a superar as hostilidades de seu tempo. Preservando as suas relações sociais enraizadas na sua terra natal, buscaram a mesma ascensão e o prestígio anteriormente conquistado por judeus, alemães e irlandeses. A condição económica um pouco mais privilegiada de certas famílias italianas acabou impondo relações de poder semelhantes àquelas impostas dos grandes latifundiários sobre os pequenos camponeses. Através da violência, empréstimos e actividades económicas ilegais, essas famílias um pouco mais privilegiadas, formaram as máfias que seriam tão conhecidas nas primeiras décadas do século XX.

Mão Negra

Nesse período, a Mão Negra foi a primeira organização criminosa formada por várias famílias sicilianas. Dedica-se à extorsão dos mercadores e lojistas italianos, tendo influência sobre o comércio das frutas e do óleo. Particularmente activa em Nova Iorque, em Chicago, mas também em Nova Orleães, a Mão Negra é mais criminosa do que a sua semelhante siciliana.
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A Mão Negra nunca existiu como organização coesa, trata-se antes de uma expressão descritiva para designar a prática de extorsão a longo prazo que foi inicialmente posta em prática na Sicília em meados do século XVIII e exportado depois para a América, 100 anos mais tarde. Referências a uma sociedade da Mão Negra surgidas na imprensa americana, por volta de 1890 até 1915, confundiram um padrão de comportamento com uma organização criminosa global. A Mão Negra extorquia às suas vítimas pagamentos em dinheiro, através de cartas com ameaças de violência, assinadas com a marca de uma mão a tinta negra. As vítimas que não pagassem na altura devida sofriam de várias formas: as suas casas ou lojas podiam ser destruídas à bomba ou queimadas. As suas mulheres e filhos podiam ser raptados; ou as suas vítimas podiam ser assassinadas de imediato.

Por volta de 1900, a polícia americana assinala a existência de gangues da Mão Negra activos nas cidades de Nova Iorque, Chicago, Nova Orleães e São Francisco. Os ricos constituíam os alvos mais atractivos, mas alguns investigadores calculam que 90% dos imigrantes italianos em Nova Iorque eram alvos de ameaças da Mão Negra.
 

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O Assassinato de David Hennessy

Um surto da Mão Negra contribuiu para o assassinato do chefe da polícia de Nova Orleães David Henessy, em 1890, e conduziu directamente à chacina do tenente de Polícia Giuseppe Petrosino, durante uma visita à Sicília em 1909.

Nova Orleães, no Estado da Louisiana, tornou-se palco de violência devido a rivalidades entre dois gangues italianos, Matrangas e Provenzanos. Em 1888, Joseph Shakspeare, candidato da Associação Democrática, ganhou a eleição para Presidente da Câmara de Nova Orleães com o apoio dos republicanos, expulsando os democratas do Anel de Facção liderados por Joseph Macheca, líder da comunidade italiana, e supostamente ligado ao gangue Matranga. Os partidários de Shakespeare eram conhecidos como reformistas ou Facção Bourbon. Shakspeare nomeou Hennessy como seu chefe de polícia. Hennessy aliado à força policial e com o apoio do gangue Provenzanos, como testemunha, atacou o gangue Matrangas, que considerava ser a mais perigosa dos dois bandos.
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David Hennessy era um típico polícia, jovial e corrupto, que foi despedido por ter disparado sobre um colega na esquadra da polícia. Regressou em 1888 para comandar o departamento, sob os auspícios de uma administração municipal mais submissa. Pouco depois, lançou as fundações para o seu próprio assassinato.

Em 1890, as duas famílias da Máfia, os Matrangas e os Provenzanos, combatiam pelo controlo da zona costeira de Nova Orleães. Hennessey apoiou os Provenzanos. Em Junho de 1890, quando seis atiradores dos Provenzanos foram condenados por terem tentado assassinar Tony Matranga, Hennessey ajudou os advogados de defesa dos Provenzanos a descobrirem provas de perjúrio em tribunal. As condenações foram anuladas após interposição de recurso, e um novo julgamento marcado para 22 de Outubro. Uma semana antes do início agendado desse julgamento, a 15 de Outubro de 1890, cinco atiradores emboscaram Hennessey perto da sua casa. Hennessy foi atingido a tiro fora de sua casa quando regressava de uma reunião. Estava disposto a prestar depoimento no julgamento dos Provenzanos, mas os seus assassinos impediram-no. No hospital, Hennessy gravemente ferido, ainda estava consciente, horas depois do tiroteio, e falou com os amigos, mas não revelou os nomes dos atiradores. As complicações do dia seguinte contribuíram para a morte de Hennessy. Ao exalar o último suspiro, culpou os «dagos» pelo tiroteio. Cinco armas foram apreendidas relacionadas com o atentado.
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O assassinato de Hennessy foi o primeiro incidente da Mafia amplamente divulgado nos Estados Unidos. O seu assassinato em 1890 levou a um julgamento sensacional. O Presidente da Câmara de Nova Orleães, Joseph Shakespeare rotulou a morte de Hennessey, como uma vingança siciliana. Um grande júri indiciou 19 suspeitos a 13 de Dezembro de 1890. Charles Matraga e outros oito homens foram a julgamento em Fevereiro de 1891. A 13 de Março, os jurados absolveram Cahrles Matranga e mais cinco dos seus homens, e não conseguiram chegar a um veredicto sobre três dos suspeitos. Os jornais, desde Nova Orleães até Manhattan fizeram acusações de manipulação e intimidação do júri.
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Um grupo de veredictos não culpados chocou a nação, e no dia seguinte, formou-se uma enorme multidão fora da prisão. As portas da prisão foram arrombadas e 11 de 19 homens italianos que haviam sido indiciadas pelo assassinato de Hennessy foram linchados. Além das 11 vítimas linchadas, 5 presos ficaram gravemente feridos no ataque e morreram logo em seguida. Charles Mantranga sobreviveu. Essa execução em massa levou a Itália a cortar relações diplomática com os Estados Unidos, até que Washington concordou em pagar uma indemnização de 25.000 dólares pelo linchamento. A partir daí, a palavra "Máfia" entrou no uso popular devido à cobertura jornalística do julgamento e linchamentos. A morte de Hennessy tornou-se um grito de guerra para a aplicação da lei para parar a imigração dos italianos para a América. Muito depois desse episódio, os racistas de Nova Orleães ainda atormentavam os italianos com a frase jocosa: «Quem é que matou o Chefe?».

Os linchamentos foram o tema do filme realizado em 1999 feito para a TV Vendetta, com a participação do actor Christopher Walken.
A quadrilha Matranga evoluiu para a Família do crime de Nova Orleães com Charles Matranga, como chefe até que se aposentou em 1922.

Família Matranga

A Família Matranga estabelecida por Charles Matranga (1857-1943) e Tony Matranga foi a primeira das famílias mafiosas registadas em Nova Orleães, operando desde o final do século XIX até ao início da lei Seca em 1920. Nascido na Sicília, Carlos e António Matranga estabeleceram-se em Nova Orleães, durante a década de 1870, onde abriram um saloon e um bordel. Usando seu negócio como uma base de operações, os irmãos transformaram a Família Matranga numa organização de crime organizado dedicado à extorsão. Recebiam pagamentos de tributos de operários e trabalhadores portuários italianos, bem como da Família rival Provenzano, que detinha o monopólio da navegação comercial com os embarques de frutas da América do Sul.

Mas as duas famílias começaram depois a entrar em guerra devido aos carregamentos de frutas detidos pelos Provenzanos. Como os dois lados começaram a empregar um grande número de mafiosos sicilianos da sua terra natal, Monreale, na Sicília, a guerra de gangues começou a atrair a atenção da polícia, particularmente a partir do chefe de polícia de Nova Orleães, David Hennessy que começou a investigar as organizações rivais. Poucos meses depois de sua investigação, Hennessy foi baleado e morto por vários atacantes não identificados enquanto caminhava para casa na noite de 15 de Outubro de 1890. Esta foi uma forma de a Máfia matar o funcionário do governo que se tinha atravessado no seu caminho.

Apesar de Charles e vários membros das Matrangas terem sido presos por envolvimento no assassinato de Hennessy, foram finalmente julgados e absolvidos em Fevereiro de 1891. Matranga foi capaz de escapar dos linchamentos de vigilantes, e ao voltar para Nova Orleães, retomou sua posição de chefe da Família mafiosa de Nova Orleães, forçando os Provenzanos ao seu declínio até ao final da década. Matranga reinaria sobre o submundo de Nova Orleães até pouco depois da Lei Seca, quando passou a liderança para Sylvestro "Sam" Carollo no início de 1920.
 
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Giusepe Morello "Mão de Gancho"

Inicialmente, Giuseppe Lupollo, Mont Tennes e Big Jim Colosimo, foram os grandes nomes da Máfia, responsáveis por coordenar a jogatina, as extorsões e a prostituição nos grandes centros urbanos como Chicago e Nova Iorque. Giuseppe "Mão de Gancho" Morello (1867-1930) também conhecido como "The Old Fox", foi o primeiro chefe da organização criminosa da Família Morello. Tinha uma deformação de nascença na sua mão direita que lembrava um gancho, daí sua primeira alcunha.
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Natural de Corleone, na Sicília, Morello emigrou com a sua família para Nova Iorque, no início da década de 1890. Seu pai Calogero Morello faleceu em 1872, e sua mãe Angelina, casou-se novamente um ano depois, com Bernardo Terranova, membro da Família Corleonesi, um dos clãs da Cosa Nostra Siciliana. Bernardo e Angelina tiveram três filhos: Vincenzo (nascido em 1886), Ciro (1888) e Nicholas Terranova (1890), todos se tornaram membros da Máfia. Além de duas filhas: Lúcia (nascida em 1877) e Salvatrice Terranova (1880). Fala-se também de uma irmã Critchey, nascida do primeiro casamento de Angelina: Maria Morello-Lima (1869). As crianças Terranova e Morello cresceram juntas, e possivelmente seu padrasto Bernardo teria ajudado Giuseppe a ser aceito como membro na Cosca da Máfia local. Giuseppe casou-se com Maria Rosa Marvalisi (1867-1898) com quem teve um filho chamado Calogero "Charles" Morello (1892-1912).

Em meados da década de 1890, Giuseppe e sua numerosa família se mudaram para Louisiana em busca de emprego. No ano seguinte, mudaram-se para o Texas onde trabalharam na plantação de algodão. Fugindo de um surto de malária, a família regressou a Nova Iorque por volta de 1897. Dois anos depois, a esposa de Giuseppe, Maria Rosa veio a falecer. Morello casou-se novamente no início dos anos 1900 com Nicolina "Lina" Salemi (1884-1964), com que permaneceu casado até ao fim de sua vida. Em 1902, Giuseppe abriu um bar na 8 Prince Street em Manhattan. Este local viria a se tornar um dos pontos de encontro do gangue de Morello. Na década de 1890, Giuseppe fundou no Harlem Italiano o gangue conhecido com 107th Street Mob, posteriormente chamada de Família Morello. Em linhagem directa, essa organização é hoje denominada de Família Genovese, uma das Cinco Famílias de Nova Iorque. Em 1903, Ignazio "The Wolf" Lupo, líder do crime organizado no bairro de Little Italy, no sul de Manhattan, casou-se com Salvatrice Terranova, meia-irmã de Morello. A união dos dois selou uma aliança entre as duas organizações e o controle sobre dois dos principais enclaves italianos na cidade, Little Italy no sul e o Harlem Italiano no norte.

Morello e os irmãos Terranova construíram de forma violenta e impiedosa um império no submundo do crime. Uma das práticas dessa organização era despejar os corpos desmembrados de seus rivais em grandes barris de madeira. Esses barris normalmente eram abandonados em becos, depositados no mar ou mesmo abandonados nas próprias ruas, visando provocar um terror psicológico nos seus inimigos e nas autoridades. As principais actividades da organização incluíam: extorsão, agiotagem, fraude fiscal e exploração ilegal de jogos de azar. Os lucros nos negócios ilegais eram lavados utilizando os diversos estabelecimentos legais da Família como restaurantes, bares e lojas. Além disso, implementaram o secular sistema de pagamentos por protecção praticados pelos antigos clãs italianos. Prática essa conhecida como Mão Negra.

Durante a década de 1900, a Família Morello transformou-se na mais poderosa organização criminosa de Nova Iorque. No entanto, durante essa processo, o único filho de Giuseppe, Callogero Morello foi assassinado por Rocco Tapano, membro da Kid Baker Gang. Tapano foi morto por Nicholas Morello-Terranova no Bronx algumas semanas depois. Morello foi indiciado por fraude fiscal em 1909, sendo sentenciado a 30 anos de prisão, juntamente com seu cunhado e segundo em comando, Ignazio Lupo. Giuseppe continua a comandar a organização de dentro da prisão durante o primeiro ano de detenção. Mas após esse período foi substituído pelo seu meio irmão Nicholas Morello-Terranova.

No entanto, em meados da década de 1910, eclodiu a guerra entre a máfia (sicilianos) e a camorra (napolitanos). Em 1916 Nicholas foi assassinado a mando de Pellegrino Morano, chefe da gangue de Navy Street no Brooklyn. No seu lugar, assumiram seus irmãos Vincenzo e Ciro Terranova que derrotaram a Camorra e comandaram a organização até ao início dos anos de 1920. Quando um dos capo-regimes da Família, Giuseppe "Joe The Boss" Masseria assumiu a organização. Salvatore D'Aquila, aliado dos Morello e antigo membro da organização, assumiu o território do Brooklyn.

Libertado da prisão e decidido a retomar seu antigo poder, Giuseppe Morello, agora conhecido como Peter Morello, recrutou Umberto Valenti, antigo soldado de Morello, na sua luta contra Joe "The Boss". Depois de fracassar em duas tentativas de assassinar Masseria, os dois lados decidiram marcar um encontro e selar a paz. Nenhum dos dois líderes apareceu na reunião em Agosto de 1922. Suspeitando de ter caído na armadilha, Rocco Valenti tentou escapar do estabelecimento mas foi assassinado pelos homens de Masseria. Apesar disso a paz entre os dois foi concretizada e mais tarde Giuseppe Morello se tornou o braço direito de Masseria na organização.

Entre os anos de 1929 e 1931, eclodiu no submundo do crime de Nova Iorque, o conflito que ficou conhecido como Guerra de Castellammarese. A facção de Joe Masseria entrou em confronto com a organização de Salvatore Maranzano e Joseph "Joe" Bonanno, provenientes da região de Castellammare del Golfo na Sicília. Devido a sua experiência e liderança, Giuseppe Morello foi escolhido por Masseria como seu conselheiro de guerra. No entanto, essa condição levou Giuseppe a ser uma das primeiras vítimas da guerra. Morello foi assassinado com um dos seus associados Joseph Perriano, em 15 de Agosto de 1930 no seu escritório no Harlem Italiano. Mais tarde, Lucky Luciano afirmou que tinham sido Albert Anastasia e Frank Scalise, os homens que premiram os gatilhos, enquanto o informador Joe Valachi punha as culpas no assassino anónimo de Chicago, conhecido por Buster. Alguns autores consideram Morello como a primeira vítima da Guerra dos Castellarmmarese entre Maseria e Salvatore Maranzano.
 
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A Lei Seca (Volstead Act)

Depois da Primeira Guerra Mundial, a história da Máfia Americana sofreu grandes transformações, principalmente com a implantação da Lei Seca (Volstead Act), lei que em 1920, proibia a venda e transporte de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos. Isso permitiu à Máfia Americana tornar-se poderosa. A proibição de fabricação e venda de bebidas alcoólicas foi vista pelos gângsteres como uma grande oportunidade lucrativa, pois os americanos não ficaram nada contentes com a nova lei e comprariam bebidas alcoólicas de qualquer forma não importando a procedência. Então, surgiram milhares de pequenas fábricas clandestinas por todo o país, assim como bares.
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A polícia não fez nada para impedir, já que era impossível conter a enorme demanda, e aproveitava para receber subornos para a "taxa de permissão" de álcool. Também surgiram várias rotas clandestinas de importação de bebidas estrangeiras, principalmente do Canadá. Tal época foi chamada de "Era de Ouro" para o crime organizado americano. E quando a Lei Seca foi revogada, os criminosos mais inteligentes, como Charles "Lucky" Luciano, legalizaram suas fábricas clandestinas, continuando no negócio ainda lucrativo como a bebida.

Antecedentes

Em Maio de 1657, a Corte Geral de Massachusetts tornou ilegal a venda de bebidas de forte teor alcoólico como rum, uísque, vinho e conhaque. Um dos médicos mais notáveis do século XVIII, Benjamin Rush, argumentou em 1784 que o uso excessivo de álcool era prejudicial à saúde física e psicológica, mas acreditava na moderação do seu consumo. Aparentemente influenciados pelas crenças do Dr. Rush, cerca de 200 fazendeiros de uma comunidade em Connecticut formaram a Associação de Temperança em 1789. Associações semelhantes também surgiram na Virgínia em 1800, e Nova Iorque em 1808. Durante a próxima década, outras organizações ligadas ao Movimento de Temperança foram formadas em 8 Estados, algumas delas tornando-se amplamente disseminadas nos seus respectivos estados.

Após décadas de agitação contra a venda de bebidas alcoólicas, os fanáticos religiosos e os reformadores sociais conseguiram os seus objectivos, depois da Primeira Guerra Mundial. A campanha que fizeram fundia argumentos moralistas, apelos à responsabilidade fiscal e social e suspeitas de estrangeiros típicos dos períodos de guerra: uma vez que muitos produtores de cerveja eram alemães. Entre 1907 e 1918, 28 Estados baniram as bebidas alcoólicas no interior das suas fronteiras. O Congresso aprovou a 18ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos, ilegalizando as bebidas alcoólicas, e foi ratificado pelos Estados em Janeiro de 1919. A legislação federal que a implementou foi aprovada pelo Congresso, 10 meses mais tarde, entrando assim a Lei Seca em 16 de Janeiro de 1920. A Lei Seca entrou em vigor em 1920, com o objectivo de salvar o país de problemas relacionados à pobreza e violência. A Constituição americana estabeleceu na 18ª emenda, a proibição, a fabricação, o comércio, o transporte, a exportação e a importação de bebidas alcoólicas. Essa lei vigorou por 13 anos, até 1933.
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Com a lei Seca em vigor, aumentou o poder da Máfia Americana. Mas na década de 1920, os mafiosos italianos travaram guerras contra os mafiosos irlandeses e judeus, sobre o controle de negócios ilegais da venda de bebidas alcoólicas. A Máfia Irlandesa-Americana representava um obstáculo à Máfia Ítalo-Americana.

Máfia Irlandesa

A Máfia Irlandesa é o mais antigo crime organizado nos Estados Unidos, tendo as suas origens no início do século XIX. Originários da rua 19 de Nova Iorque, os gangues irlandeses surgiram nas grandes cidades americanas, como Boston, Filadélfia, Chicago e Nova Orleães. No estrangeiro, além da Irlanda, a Máfia Irlandesa operava também no Canadá, Austrália e Reino Unido.
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Os gangues de rua irlandeses-americanos, como os Dead Rabbits e Whyos, dominaram o submundo de Nova Iorque por mais de um século antes de enfrentar a concorrência de outros gangues, principalmente italianos e judeus recém-chegados, durante os anos 1880 e 1890. No início de 1900, com as organizações criminosas italianas, como a Família Morello, vários gangues irlandeses uniram-se para formar o gangue Mão Branca. Embora inicialmente bem-sucedido em manter os seus rivais italianos na sua área, a liderança instável e disputas internas provocaria a sua queda. Os assassinatos de Dinny Meehan , Bill Lovett , e Richard Lonergan levou ao desaparecimento da quadrilha em 1925. O Gangue da Mão Branca nunca se recuperou totalmente do assassinato de Lovett, o que permitiu a Frank Yale estender o seu domínio por todo o Brooklyn.
 

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Frank Yale: Príncipe dos Compinchas

Frank Yale (1893-1928) foi um dos mais importantes gângsteres do início do século XX. É conhecido por ser o primeiro patrão de Al Capone. Nascido na Calábria, na Itália, Frank Yale e a sua família chegaram à América em 1901. Rapidamente se envolveu no crime de rua e tornou-se conhecido como um lutador maldoso. A sua primeira detenção de que há registo foi em 1912, por roubo de casacos de pele.
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No fim da Primeira Guerra Mundial, a Guerra da Máfia contra a Camorra terminou, John Torrio foi para Chicago, e Frank Yale dominou então, o crime organizado italiano no Brooklyn. Conhecido por sua generosidade com os amigos e sua brutalidade frente aos inimigos, Yale era chamado de "Príncipe dos Compinchas". Conhecido por apreciar histórias engraçadas, boa comida e bebida, Yale era uma pessoa de boa aparência. A sua canção favorita era «Santa Lúcia».
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Os serviços de Yale incluíam oferecer protecção aos comerciantes locais, o controle sobre fornecimento de produtos alimentícios aos restaurantes, assim como o fornecimento de gelo para os moradores do Brooklyn. O mais notório hábito de Frank era fumar seus charutos, guardados em caixas fedorentas, que sujavam seu rosto sorridente. Embora tivesse suas qualidades, Yale podia ser também bastante sórdido, empregando brutalidade física e verbal quando necessário. Embora por vezes esquecido nas histórias do crime organizado, Frank Yale foi um dos mais importantes gângsteres do início do século XX. Os membros da sua velha gangue deixariam sua marca no crime organizado de Nova Iorque durante anos: Joe Adonis, Albert Anastásia e Vincent Mangano.

Apesar de a década de 20 ter sido marcada pelos combates violentes entre os mafiosos italianos e irlandeses, Frank Yale sabia que o verdadeiro perigo residia em Al Capone. Em 1927 Yale começou a desviar álcool destinado às tabernas clandestinas de Al Capone. Um espião ao serviço de Capone em Nova Iorque, James DeAmato, morreu às mãos das tropas de Yale em Julho de 1927.
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Um ano depois, em 1 de Julho de 1928, o telefonema de um desconhecido atraiu Frank Yale para fora do seu Sunrise Club, afirmando que a sua mulher estava em perigo. Correndo para o seu carro, Frank Yale conduziu em direcção a uma emboscada, onde o crivaram de chumbo grosso e balas de metralhadoras, na West 44th Street. O seu funeral foi uma das mais sumptuosas despedidas de gângsteres da América, incluindo um caixão em prata no valor de 15.000 dólares e um cortejo de 133 automóveis. No cemitério, o cortejo fúnebre assistiu ao espectáculo de duas esposas que se batiam pelos restos mortais de Frank Yale.
 

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O Domínio da Máfia Ítalo-Americana

Com a queda dos mafiosos irlandeses, o domínio do negócio das bebidas ilegais foi controlado pelos italianos. Foi nessa época que surgiram nomes como Frank Costello, John Torrio e Al Capone, grandes ícones da Máfia Norte-Americana.

Frank Costello: Primeiro-Ministro da Máfia

Frank Costello, nascido Francesco Castiglia, ou Castilla (1891-1973) subiu ao topo do submundo americano, controlando um vasto império de jogos de azar em todos os Estados Unidos, e gozava da influência política como nenhum outro chefão da Cosa Nostra.
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Apelidado de "O Primeiro-Ministro do Submundo", tornou-se um dos mais poderosos e influentes chefes da Máfia na história americana e acabou por liderar uma organização criminosa apelidada pela Lei de Rolls-Royce do crime organizado, a Família Luciano (mais tarde chamada de Família Genovese).

Nascido na Calábria, em Itália, Frank Costello emigrou para os Estados Unidos em 1900, aos 9 anos de idade, com a sua mãe e o irmão Edward. A família estava ansiosa por encontrar o seu pai, que tinha imigrado para os Estados Unidos há vários anos. Morando no East Harlem em Nova Iorque, o irmão mais velho de Francesco, Eddie, iniciou-o nas actividades de gângster. Até os 13 anos, Francesco tinha-se tornado um membro de um gangue local e começou a usar o nome de Frankie. Dois anos depois, cumpriu uma pena de 10 meses de prisão por andar com armas escondidas. Durante a Lei Seca fez equipa com o contrabandista de bebidas irlandês William Dwyer. Tornou-se fabulosamente rico por essa ligação de Dwyer com a Máfia Italiana. Essa aliança ajudou Costello a forjar laços políticos com o Tammany Hall (sociedade política formada por membros do Partido Democrata dos Estados Unidos, que dominou o governo municipal da cidade de Nova Iorque entre 1854 e 1934, quando Fiorello La Guardia, do Partido Republicano dos Estados Unidos, foi eleito presidente da câmara da cidade. A sociedade foi fundada em 1786, e deixou de existir na década de 1960).

Costelo alinhou ao lado de Lucky Luciano na Guerra dos Castellammarese (1930-1931), e emergiu como lugar-tenente da Família do crime de Luciano. Quando Luciano foi preso em 1936, Costello ficou a dirigir a operação no seu lugar, ascendendo ao estatuto de patrão absoluto com a deportação de Luciano, em 1946. Durante esse tempo, expandiu as operações de jogo na Louisiana, em colaboração com os líderes da Máfia de Nova Orleães, e Huey Pierce Long, Jr. (1893-1935), de alcunha "The Kingfish", membro do Partido Democrata e Governador da Louisiana de 1928 a 1932, Senador pelo mesmo Estado no Congresso dos Estados Unidos, de 1932 a 1935.
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Kingfish da Louisiana era um verdadeiro fenómeno americano, adorado por
alguns como herói popular do homem comum, e amaldiçoado e temido por
outros devido à sua corrupção.

Kingfish negociava com os mafiosos Frank Costello e Meyer Lansky para permitir de forma ilegal, o jogo em Nova Orleães, ganhando à conta disso, cerca de 3,5 milhões de dólares por ano. No dia 8 de Setembro de 1935, Kinfish foi atingido a tiro no Capitólio Estadual em Baton Rouge, na Louisiana, tendo sofrido ferimentos fatais. Consta-se que Meyer Lansky terá ordenado ao médico de Kingfish para o deixar morrer.

O invejoso subchefe Vito Genovese conspirou durante a década de 1950 para depor Costello, ajudado pela prisão deste por desrespeito ao Congresso em 1952-1953, e por condenações sucessivas por evasão fiscal em 1953 e 1956. A segunda condenação mandou Costello de volta para a prisão, mas acabaria por ser libertado após interposição de recurso em 1957. Em Outubro de 1957, Genovese enviou Vicente Gigante para liquidar Costello, mas a bala de Gigante atingiu apenas de raspão o crânio de Costello. A polícia encontrou uma folha de papel no bolso de Costello, enumerando os lucros ilegais da Máfia provenientes de vários casinos de Las Vegas. O atentado e a exposição pública levaram Costello a retirar-se dos negócios activos da Máfia, mas ele conseguiu vingar-se com a ajuda de Luciano e Meyer Lansky, ao incriminar Genovese e vários aliados com acusações de tráfico de narcóticos. Genovese viria a morrer mais tarde na prisão, enquanto um ataque cardíaco reclamou a vida de Costello, a 18 de Fevereiro de 1973, em Nova Iorque.
 
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Johnny Torrio: A Raposa

John "Papa Johnny" Torrio, também chamado "A Raposa" (1882-1957), tornou-se famoso por ajudar a construir o império do crime conhecido como o "Outfit Chicago" na década de 1920, que foi mais tarde herdado por seu protegido, Al Capone. Também lançou a ideia do Sindicato do Crime Nacional em 1930, e mais tarde se tornou um conselheiro não oficial da família Genovese. Johnny Torrio, às vezes chamado de "O Cérebro", nasceu no sul da Itália, mas não se sabe se em Nápoles ou Amalfi. Seu pai morreu quando ele tinha dois anos e sua mãe, viúva, emigrou com ele para Nova Iorque. Os seus primeiros empregos foram como porteiro em Manhattan.
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Criado nos bairros degradados do Lower East Side, juntou-se ao gangue Five Points, enveredando assim por uma vida de crime. A partir do jogo e do terrorismo em tempo de eleições, expandiu-se para a prostituição, agiotagem, contrabando de droga e actividades ilícitas ligadas ao sector laboral. Em 1909, Torrio mudou-se para Chicago, onde o seu tio «Big Jim» Colosimo estava a ser perseguido pelos extorsionistas da Mão Negra. Torrio aniquilou os renegados e assumiu o seu posto como lugar-tenente de Colosimo para o distrito do vício de Chicago. Em 1918 acolheu o companheiro de Brooklin, Al Capone, em fuga por acusações de homicídio, encarregando-o de gerir o seu maior bordel. Quando Big Jim se recusou a contrabandear bebidas alcoólicas em 1920, Torrio ordenou a sua morte e assumiu o comando do gangue, cabendo a Al Capone fazer cumprir as suas decisões.

O seu maior rival era o gangue irlandês North Side Gang, e Dean O`Banion, cujos membros nunca perdiam uma oportunidade de denegrir os italianos. Torrio organizou o assassínio de O`Banion em Novembro de 1924, e assim inaugurou uma era de guerras sangrentas entre gangues em Chicago.
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Dean O`Banion (1892-1924), Chefe do gangue irlandês
North Side.

Partidários de O`Banion fizeram uma emboscada a Torrio à porta de sua casa em 24 de Janeiro de 1925, e quase o mataram antes de terem ficado sem balas. Após ter recuperado dos ferimentos, Torrio entregou Chicago a Al Capone, e retirou-se para Itália durante os finais dos anos 20. Regressou aos Estados Unidos a tempo da Guerra dos Castellammarese, surgindo com um dos principais arquitectos do novo Sindicato Nacional do Crime. No dia 16 de Abril de 1957, Torrio morreu de ataque cardíaco na cadeira do barbeiro em Manhattan. A Raposa era tão reservada que os jornalistas só souberam da sua morte três semanas após o funeral.
 

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Al Capone "Scarface"

Para sempre ligado ao massacre do Dia de São Valentim e ao contrabando de bebidas alcoólicas, aos bares, aos clubes clandestinos e aos bordéis, fizeram-se mais filmes sobre Al Capone do que qualquer outro mafioso na história da Máfia Americana.

O gângster mais famoso da América nasceu na cidade de Nova Iorque, em Brooklyn, no dia 17 de Janeiro de 1899. Filho de imigrantes italianos oriundos de Nápoles. O seu pai Gabriele Capone (1865-1920), era barbeiro na cidade de Castellammare di Stabia, uma vila situada a 26 km ao sul de Nápoles. A sua mãe era Teresina Raiola (1867-1952), oriunda de Angri, na província de Salerno. A família Capone emigrou para os Estados Unidos em 1894, somando-se aos 42.977 italianos que assim também procederam.
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Alphonsus Gabriel Capone, ou Al Capone, (1899-1947) liderou um grupo criminoso dedicado ao contrabando e venda de bebidas alcoólicas, entre outras actividades ilegais, durante a Lei Seca que vigorou nos Estados Unidos nas décadas de 20 e 30. Considerado por muitos como o maior gângster dos Estados Unidos. Al como era chamado pelo seu círculo íntimo, tinha o apelido de "Scarface", (Cara de Cicatriz), devido a uma cicatriz no seu rosto derivado de uma briga na infância, por causa de uma rapariga.

Al Capone cresceu numa vizinhança muito pobre e pertenceu a pelo menos duas quadrilhas de delinquentes juvenis. Aos 14 anos foi expulso da escola em que cursava o ensino médio por agredir um professor. Integrou o grupo dos Five Points Gang em Manhattan, e trabalhou para o gângster Frank Yale. Em 1918, Capone conheceu Joséphine Coughlin, de ascendência irlandesa. Em 4 de Dezembro de 1918, a sua mulher deu à luz seu filho, Albert "Sonny" Francis. Capone casou-se com ela no dia 30 de Dezembro do mesmo ano.

Contratado como fanfarrão de taberna e atirador pelo patrão da Máfia Frank Yale, fugiu para Chicago em 1919 depois de ter cometido dois homicídios. Antes de deixar Nova Iorque, adquiriu as cicatrizes faciais que seriam a sua imagem de marca às mãos de um tal Frank Gallucio que o golpeou com uma faca depois que Capone ter rudemente proposto à irmã de Gallucio que tivesse relações sexuais com ele, num dos clubes nocturnos de Yale. Daí em diante, os inimigo de Capone passariam a chamá-lo "Scarface", mas nunca de forma que ele conseguisse ouvir. Em Chicago esteve ao serviço do génio da Máfia John Torrio, e ascendeu ao posto de seu lugar-tenente. Al Capone não tinha a inteligência e sofisticação de Torrio, mas compensava essa lacuna com astúcia animal e força bruta, servindo como arma de arremesso de Torrio, quando as negociações com os rivais fracassavam. Quando Torrio foi alvejado por gangues irlandeses, Al Capone passou a liderar os negócios e rapidamente demonstrou que era melhor para comandar a organização do que Torrio, expandindo o sindicato criminoso para outras cidades entre 1925 e 1930.

Massacre do Dia de São Valentim

Quando Dean O`Banion foi assassinado em 1924, os membros sobreviventes do gangue North Side empreenderam uma guerra contra o sindicato italiano liderado por John Torrio e Al Capone. Em Janeiro de 1925, uma emboscada quase matou Torrio o que levou a abandonar Chicago, e a deixar Al Capone no comando. Depois de mais quatro anos de guerra, Al Capone decidiu por fim ao conflito com um único ataque. Como prelúdio da matança, um telefonema propôs ao líder do North Side, George «Bug» Moran, um carregamento de uísque que tinha sido desviado, para ser entregue na sua garagem de Clark Street a 14 de Fevereiro. Moran atrasou-se a chegar para receber a entrega e viu polícias a entrarem na garagem, pelo que decidiu ir-se embora.
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Dentro da garagem, os seis assassinos vestidos de polícias contratados por Al Capone, alinharam os sete mafiosos irlandeses contra uma parede e dispararam as suas metralhadoras. Alvejaram depois com dois tiros de caçadeira dois deles, que aparentemente tinham sobrevivido. As vítimas do massacre incluíam quatro gângsteres do North Side: os irmãos Frank e Peter Gusenberg, Johnny May e Al Weinshank. Foram também chacinados o mecânico do gangue, James Clark, e o Dr. Reinhardt Schwimmer, um optometrista que gostava de passar tempo com os mafiosos. A polícia calcula que os assassinos de Al Capone confundiram o médico com Bugs Moran, dado que os dois homens eram parecidos.
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Bugs Morn (1893-1957), chefe do gangue North Side.

Quando Bugs Moran soube do acontecimento, disse à imprensa: «Apenas Capone mata desta maneira». Mas Al Capone tinha um alibi perfeito: estava na Flórida a conversar com o Procurador Distrital de Miami, quando ocorreu o massacre. Ninguém foi acusado pelas execuções. A polícia encontrou uma das armas no Michigan, quando deteve o assassino a soldo Fred "Killer" Burke, mas prescindiu da acusação e em vez disso prendeu-o por ter matado um polícia local. O assaltante de bancos Fred Goetz gabou-se de ter participado no massacre, mas nunca foi interrogado e os seus colegas silenciaram-no para sempre em 1934. O alegado líder do grupo e tenente de Capone, "Machine Gun" Jack McGurn foi morto por atiradores desconhecidos sete anos mais tarde, a 14 de Fevereiro de 1936. Os assassinos deixaram um cartão humorístico do Dia de São Valentim junto do seu corpo. O Massacre de São Valentim neutralizou eficazmente o gangue irlandês North Side de Bugs Moran.

A carreira de Al Capone

Aos 26 anos, Al Capone mostrava ser um homem sem escrúpulos, frio e violento. Em 1929 foi nomeado o homem mais importante do ano, junto com personalidades da importância do físico Albert Einstein e do líder pacifista Mahatma Gandhi. Al Capone controlava informantes, pontos de apostas, casas de jogo, bordéis, bancas de apostas em corridas de cavalos, clubes nocturnos, destilarias e cervejarias. Chegou a facturar 100 milhões de dólares norte-americanos por ano, durante a Lei seca; foi um dos que mais a desrespeitaram. Por ser promíscuo, acabou contraindo sífilis, o que o obrigava tomar remédios fortes.

Impedido de fazer parte da Máfia, Al Capone conseguiu obter o controlo da Unione Siciliane de Chicago, e usou para exercer a sua influência sobre os mafiosos italianos. Ao mesmo tempo, criou um Sindicato multi-étnico que incluía italianos, judeus, polacos e irlandeses, que ficou conhecido como «The Outfit» (A Unidade) até aos dias de hoje. Os rendimentos de Al Capone, estimados em 100 milhões de dólares por ano entre 1925 e 1930, permitiam-lhe controlar a maior parte da polícia e dos políticos de Chicago, enquanto instalava postos avançados da Máfia por todo o país e no Canadá. Neste último país, o barão do álcool Samuel Bronfman, abastecia a organização de Al Capone com um fornecimento interminável de uísque barato para revenda a preços inflacionados. Al Capone possuía uma enorme propriedade em Palm Island, na Flórida.
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O extravagante estilo de vida de Al Capone e as festas loucas que dava na sua propriedade na Flórida atraiu a atenção de um dos seus vizinhos, o Presidente dos E.U.A., Herbert Hoover, que exigiu uma acção federal contra Capone. O Departamento do Tesouro enviou Eliot Ness e os seus «intocáveis» a fazer uma razia às destilarias ilegais, enquanto Elmer e Frank Wilson reuniam provas de evasão de imposto sobre o rendimento de Al Capone. Em 1931, Al Capone foi condenado pela justiça americana por fuga aos impostos, com 11 anos de prisão. Cumpriu a pena na Penitenciária Federal de Atlanta, na Geórgia, e depois na Ilha de Alcatraz, na Baía de São Francisco. A sua pena foi revisada em 1939, em decorrência de seu estado de saúde: tinha sífilis em estado avançado e não tratado e apresentava traços de distúrbios mentais e morreu dessa doença em 1947. O seu último ano de vida foi passado no hospital para doente mentais em Baltimore, antes de se retirar para a Flórida. Aí, Al Capone sofreu um AVC em 21 de Janeiro de 1947, falecendo quatro dias mais tarde.

 
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