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Em "Mulheres que amaram demais", lançado recentemente, a escritora faz o retrato psicológicode nove mulheres a partir do que amaram na vida
Depois de ter escrito sobre nove portuguesas - "As nove magníficas" - Helena Sacadura Cabral regressa com "Mulheres que amaram demais", num registo diferente pelo qual pretende desmistificar a mulher e apresentá-la como emancipada e capaz de amar sobretudo a si própria: "As mulheres são seres humanos que estão a ganhar o seu terreno, e com estas histórias pretendo mostrar que o amor a si próprio é uma coisa muito importante na vida". São nove vidas - Marie Curie, Coco Chanel, Gala Dali, Wally Simpson, Golda Meir, Marlene Dietriech, Madre Teresa de Calcutá e Jacqueline Kennedy Onassis - contadas com a pena leve e atractiva de Helena Sacadura Cabral que realça os aspectos menos conhecidos destas mulheres.
Por exemplo, Marie Curie, uma mulher de olhar grave e sério, surpreende na forma como é apresentada por Helena, como tendo convivido, à altura de receber o segundo Prémio Nobel, com um enorme escândalo por ter desviado o marido de uma amiga, colega de laboratório...
Não encontrou em Portugal nenhuma mulher que tenha "amado demais"?
Seguramente que sim. Desde Florbela a Natália Correia e haveria várias. Mas, aqui, existem famílias que ainda transportam o mesmo nome e que a experiência me diz não quererem ver desvendados os lados menos públicos dos seus afastados parentes.
É possível, de facto, amar demais? Não é mais certo dizer que nunca se ama demais?
É possível amar demais sempre que esse amor se transfigura em tragédia ou oblitera a percepção da realidade que nos rodeia.
Depois de ler o livro, fico com a impressão de que retrata antes as paixões a que se entregaram estas mulheres, mais do que o quanto amaram. Quer falar sobre isto?
Há uma parte de verdade na sua pergunta. Estas mulheres amaram-se, sobretudo, a si próprias. Depois, amaram obcecadamente o seu trabalho e, finalmente, amaram homens que serviram, apoiaram, valorizaram esse trabalho. Julgo que quando se fala de paixão é algo tão forte que nem sequer permite outros amores. Ora, estas mulheres conciliaram sempre amor e carreira, ou amor e poder, ou mesmo amor e dinheiro. Não creio que tenham tido paixões no sentido exclusivo que lhes atribuo!
Acentua as suas infidelidades, os adultérios, as perversões, os caprichos. Vê em tudo isso o amor por excelência?
Não acentuo. Relato-os porque fizeram parte da forma como essas mulheres conduziram a sua vida. Mas não faço juízos de valor. Ora "infidelidades", "adultérios", "perversões", "caprichos" são expressões que projectam um conceito moral relativamente à sociedade desse tempo.
Diz que "durante muito tempo o conceito de amor era algo intrigante" para si. Ficou mais esclarecida sobre esse conceito?
Fiquei mais esclarecida quanto aos matizes que essa expressão pode comportar. Exactamente como acontece com a palavra "moral" que, conforme a época e a geografia, assume formas diferentes.
É um livro descritivo, mas que deixa transparecer a sua admiração por estas mulheres. Alguma ou algumas delas são especialmente inspiradoras para si?
Inspiradora não direi. Mas, para quem, como eu, viveu no tempo delas, tê-las conhecido na intimidade alterou a visão que tinha a seu respeito. A título de exemplo, cito o caso de Yourcenar, de quem conheço toda a obra. Ter investigado a sua vida permite--me uma outra leitura dos seus livros.
Acha que a sociedade actual dignifica a mulher?
Acho a sociedade actual mais igualitária do que a da minha geração. Creio que hoje, de um modo geral, a dignidade da mulher não está em causa na maioria dos países ocidentais. Mas continuam a existir no Mundo locais onde os homens se permitem ser donos do destino das mulheres e onde estas nem sequer conhecem o conceito de dignidade.
Há alguma coisa ou alguém que "ame demais" nesta vida?
Do meu ponto de vista estas mulheres terão amado - num estranho conceito de amor - demais. Não se esqueça que ainda há quem acredite que a violência do ciúme pode ser uma prova de amor...
JN

Depois de ter escrito sobre nove portuguesas - "As nove magníficas" - Helena Sacadura Cabral regressa com "Mulheres que amaram demais", num registo diferente pelo qual pretende desmistificar a mulher e apresentá-la como emancipada e capaz de amar sobretudo a si própria: "As mulheres são seres humanos que estão a ganhar o seu terreno, e com estas histórias pretendo mostrar que o amor a si próprio é uma coisa muito importante na vida". São nove vidas - Marie Curie, Coco Chanel, Gala Dali, Wally Simpson, Golda Meir, Marlene Dietriech, Madre Teresa de Calcutá e Jacqueline Kennedy Onassis - contadas com a pena leve e atractiva de Helena Sacadura Cabral que realça os aspectos menos conhecidos destas mulheres.
Por exemplo, Marie Curie, uma mulher de olhar grave e sério, surpreende na forma como é apresentada por Helena, como tendo convivido, à altura de receber o segundo Prémio Nobel, com um enorme escândalo por ter desviado o marido de uma amiga, colega de laboratório...
Não encontrou em Portugal nenhuma mulher que tenha "amado demais"?
Seguramente que sim. Desde Florbela a Natália Correia e haveria várias. Mas, aqui, existem famílias que ainda transportam o mesmo nome e que a experiência me diz não quererem ver desvendados os lados menos públicos dos seus afastados parentes.
É possível, de facto, amar demais? Não é mais certo dizer que nunca se ama demais?
É possível amar demais sempre que esse amor se transfigura em tragédia ou oblitera a percepção da realidade que nos rodeia.
Depois de ler o livro, fico com a impressão de que retrata antes as paixões a que se entregaram estas mulheres, mais do que o quanto amaram. Quer falar sobre isto?
Há uma parte de verdade na sua pergunta. Estas mulheres amaram-se, sobretudo, a si próprias. Depois, amaram obcecadamente o seu trabalho e, finalmente, amaram homens que serviram, apoiaram, valorizaram esse trabalho. Julgo que quando se fala de paixão é algo tão forte que nem sequer permite outros amores. Ora, estas mulheres conciliaram sempre amor e carreira, ou amor e poder, ou mesmo amor e dinheiro. Não creio que tenham tido paixões no sentido exclusivo que lhes atribuo!
Acentua as suas infidelidades, os adultérios, as perversões, os caprichos. Vê em tudo isso o amor por excelência?
Não acentuo. Relato-os porque fizeram parte da forma como essas mulheres conduziram a sua vida. Mas não faço juízos de valor. Ora "infidelidades", "adultérios", "perversões", "caprichos" são expressões que projectam um conceito moral relativamente à sociedade desse tempo.
Diz que "durante muito tempo o conceito de amor era algo intrigante" para si. Ficou mais esclarecida sobre esse conceito?
Fiquei mais esclarecida quanto aos matizes que essa expressão pode comportar. Exactamente como acontece com a palavra "moral" que, conforme a época e a geografia, assume formas diferentes.
É um livro descritivo, mas que deixa transparecer a sua admiração por estas mulheres. Alguma ou algumas delas são especialmente inspiradoras para si?
Inspiradora não direi. Mas, para quem, como eu, viveu no tempo delas, tê-las conhecido na intimidade alterou a visão que tinha a seu respeito. A título de exemplo, cito o caso de Yourcenar, de quem conheço toda a obra. Ter investigado a sua vida permite--me uma outra leitura dos seus livros.
Acha que a sociedade actual dignifica a mulher?
Acho a sociedade actual mais igualitária do que a da minha geração. Creio que hoje, de um modo geral, a dignidade da mulher não está em causa na maioria dos países ocidentais. Mas continuam a existir no Mundo locais onde os homens se permitem ser donos do destino das mulheres e onde estas nem sequer conhecem o conceito de dignidade.
Há alguma coisa ou alguém que "ame demais" nesta vida?
Do meu ponto de vista estas mulheres terão amado - num estranho conceito de amor - demais. Não se esqueça que ainda há quem acredite que a violência do ciúme pode ser uma prova de amor...
JN