B@eta
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E a Marcha pela Igualdade aconteceu...

Ao ter alta depois de um ano de reabilitação, deram-me adaptações que escolheram. A mim ninguém perguntou se gostava ou se me sentia bem nesta ou naquela cadeira de rodas. Por isso andei durante 10 anos a utilizar mesmo material. Usava uma cadeira de rodas sanitária imprópria. Era horrível. Ao sentarem-me ficava todo torto e com pés fora da estrutura. A minha almofada antiescaras era uma câmara de ar. Minha vizinha fazia-me umas capas em pano, com um fecho lateral para as cobrir. Colchão antiescaras nunca tive. Cama era normal. Acessibilidades? Não fazia ideia que isso existia.
Desde que tenho computador tudo mudou. Vi que existia outro mundo. Fiquei a saber que tenho direitos. Que há legislação própria. Conheci melhor o que tenho. Que EU posso ter voz activa nos equipamentos que uso e minha vida mudou. Comecei a exigir respeito e não mais viver de esmolas e como coitadinho.
Ao conhecer esse novo mundo, imediatamente me apresento através do TETRAPLÉGICOS. Estou aqui. Renasci. Foi o começar a viver, conhecer gente como eu. Quis agir. Mas como? Tento todas as maneiras, mas nada flui. Coisas continuam sempre iguais. Mas desistir nem pensar. Por isso GRITEI por ajuda e apareceram 2 amigos que disseram presente.
Sandra Freitas e Miguel Loureiro. Daí a Marcha pela Igualdade. Eu a viver numa aldeia onde transporte adaptado nem pensar. Carro próprio adaptado também não tenho. Para ir a Lisboa só de táxi, custo 200,00 € e com alguém ter que me pegar ao colo em peso: da cama para a cadeira, da cadeira para o banco do carro, no destino do carro para a cadeira e vice-versa, ao chegar a casa do carro para a cadeira e por último da cadeira para a cama. Fizeram a contagem? São 6 vezes. Seis vezes que uma pessoa me pega ao colo só para ir a um lugar. Isto só indo a um lugar e bebendo o cafezinho etc sem sair do carro. Já para não falar que recebo mensalmente de pensão 395,00 €.
Estas e outras dificuldades não fizeram com que não avançássemos com a Marcha pela Igualdade. Convidamos todas as grandes associações e empresas ligadas á deficiência. Quase ninguém nos quis apoiar. Maioria nem respondeu. Mesmo assim continuamos e a Marcha aconteceu.
“Na primeira passeata só tinha eu, um cara do basquete que eu “seqüestrei” no farol da Rebouças, um indigente amputado, junto com 14 amigos andantes e várias faixas com as Leis da Matrix (termo utilizado por Jairo Marques do blog Assim como Você quando se refere a nós).”
Esta frase foi dita pelo Billy Saga, criador do Movimento Superação e da primeira passeata de pessoas com deficiência em São Paulo. Hoje realizada em vária cidades e até na Argentina.
Pelas minhas contas na 1ª passeata realizada em plena Avenida Paulista, da grande cidade de São Paulo, participaram 17 pessoas.
Na portuguesa participaram mais. Mas infelizmente não os que desejava. Esperava muito mais. No inicio não. No inicio se me dissessem que participariam 50 já ficava muito feliz. Mas ao ver que se registaram no evento do facebook 409 pessoas e de tantos outros, sem se inscreverem, a confirmarem presença…não entendo porque pessoas se inscrevem e depois não aparecem. Eu se recebo convite digo sim ou não, e se sim, vou.
Mas não pensem que dei tempo por perdido. Nem pensar. Foi muito bom ter estado em Lisboa. Pessoas que estavam lá foram fantásticas. Aquelas é que contam. Marcaram presença e jamais as esquecerei. Senti a atmosfera da mudança. O espectáculo dos 5ª Punkada…impressionante!

Um jornalista dizia-me que nunca tinha visto tanta pessoa com deficiência junta. Que maioria das manifestações de pessoas com deficiência, praticamente não nos notam no meio da multidão.
Falando em jornalistas, eles que quase nunca nos dão destaque, aparecemos no Jornal Público, Correio da Manhã, Lusa, SIC Noticias online, IOL, TVI 24 online, JN, Jornal da Madeira, DN, Record, Portal Sapo, Correio do Minho, TSF, Rádio Ocidente, Rádio Universitária do Algarve, EPA – European Pressphoto Agenci, Agência Directa…mas na RTP só em rodapé no Telejornal. E dizem eles que são serviço público.
Eu estou de consciência tranquila. Fiz a minha parte e continuarei lutando, mas FIQUEI COM MAIS CERTEZA AINDA, QUE MUITO HÁ A FAZER e quero deixar alguns apontamentos para os que continuam a achar que ficando quietos as coisas vão mudar.
Enquanto não entenderem que só unidos conseguiremos vencer. Nada acontecerá. Continuaremos a ser os coitadinhos de sempre e seremos olhados e tratados como merecedores de umas migalhas como esmola.
Ponham nas vossas cabeças que os políticos (poder) só nos respeitarão se os olharmos nos olhos. Sem medo e preconceitos de inferioridade. Se depender deles nada teremos.
E eu que nem sou muito de poesias, tenho que concordar com o nosso Fernando Pessoa, quando escreveu:
Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
Obrigado a todos, e porque os agradecimentos eram comigo, esqueci-me de referir a Vexelpor que comercializa o Canta em Portugal, á Soluções Globais de Comunicação e Multimédia empresa do nosso amigo João Matias e ao grupo trazido pela GEDI – Grupo Esperança de Direitos Iguais da Ameixoeira.
Fonte: tetraplegicos.blogspot.com