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Doenças dos Corais em Aquário

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Doenças dos Corais em Aquário
(Parte I – Introdução e RTN )


Começamos por fazer uma introdução ao tema e por tratar uma «doença» que tem provocado muita discussão e levantado muitas dúvidas, dadas ainda as respostas algo inconclusivas sobre qual o agente provocador desta condição.

INTRODUÇÃO

Vejamos as principais causas de mortalidade nos corais:

- Danos físicos ou traumatismos

Ocorrem durante manipulações incorrectas (por exemplo, quando são colhidos e transportados) ou quando caem dos seus locais por estarem mal fixados ou pela acção de bombas, peixes e invertebrados. Podemos evitar estas situações utilizando técnicas de manipulação correctas, idealmente com luvas, e fixando bem a rocha viva, bem como os próprios corais, com resina epoxi adequada para o efeito

- Danos por sedimentação

Este tipo de danos pode ocorrer no aquário quando não existe corrente suficiente para remover partículas, restos de comida ou outros detritos que se acumulam na superfície dos corais. Certos Góbios e outros peixes, bem como bombas mal orientadas, podem atirar areia para cima dos corais, especialmente para cima daqueles que se encontram no fundo.

Ao cobrirem os corais, estes detritos, muitas vezes ricos em matéria orgânica, podem privá-los de oxigénio e favorecer a infecção bacteriana dos tecidos. Podemos evitar estas situações melhorando a circulação no aquário e reorientando algumas bombas, reposicionando alguns corais e evitando a existência de certos Góbios de maiores dimensões em aquários pequenos, bem como fazendo regularmente o flushing de certas zonas com a ajuda de uma bomba ou de uma seringa.

- Predação animal

Temos de ter presente que muitos peixes e invertebrados comem corais ou infligem-lhes lesões através de picadas e toxinas. Os exemplos mais frequentes são: anémonas que deambulam pelo aquário, Aiptasia (pequena anémona urticante para os corais que se multiplica rapidamente competindo pelo espaço e transformando-se numa autêntica praga), estrelas-do-mar, caranguejos e vermes carnívoros, peixes anjo, peixes borboleta, peixes porco e peixes papagaio.

- Destruição pelas algas

As algas colonizam os corais lesionados, provocando a progressão da recessão do tecido. Se tivéssemos de resumir o sucesso de um aquário de recife numa frase curta seria «Controlo de algas indesejáveis!»

- Doenças

As doenças podem resultar de alterações físico-químicas da qualidade da água (salinidade, temperatura, pH, alcalinidade, amónia, nitritos, nitratos, fosfatos, cálcio, etc.), iluminação incorrecta, má nutrição, circulação deficiente, toxinas exógenas (aerossóis, detergentes, insecticidas presentes no ar ou na água) e toxinas endógenas (produzidas por outros corais, anémonas e algas que excretam substâncias alelopáticas, ou seja, substâncias irritantes e/ou inibidoras do crescimento).

Todos estes factores induzem stress nos corais, o que pode, por si só, levar à morte ou, através de uma quebra no sistema imunitário, favorecer o aparecimento de infecções provocadas por bactérias e vírus, das quais ainda muito pouco se sabe porque raramente se conseguiu isolar um agente específico.

RTN

A «doença» mais conhecida dos corais de aquário é a «necrose rápida dos tecidos» (RTN, ou seja, Rapid Tissue Necrosis). Segundo alguns autores a denominação «degeneração rápida dos tecidos» seria mais correcta.

Nos casos típicos, pode verificar-se que após a introdução de um novo coral do género Acropora ou Pocillopora, ele sofre um peeling, perdendo tecido rapidamente, usualmente a partir da base. Na maioria dos casos, o coral perde todo o tecido num período de horas ou dias, deixando um esqueleto sem qualquer hipótese de recuperação. Esta «infecção» pode afectar outros corais do mesmo género presentes na vizinhança ou no mesmo sistema de aquários.

O problema é que as várias tentativas de isolamento de um agente patogénico, seja ele uma bactéria ou um vírus, nos corais afectados não produziram quaisquer resultados, embora estudos microbiológicos mais sofisticados não tenham sido efectuados na maioria dos casos.
Na opinião de Borneman, a RTN não é uma doença em si, mas sim uma forma de morte dos corais com uma camada fina de tecido, como resposta a vários agentes indutores de stress.

É possível até que esta resposta produza uma auto-rejeição ou autólise, isto é, uma digestão química do tecido do coral efectuada por ele próprio. A libertação em massa destas enzimas, ou compostos químicos tóxicos presentes no tecido morto que se desprende, poderia provocar uma reacção análoga nos outros corais vizinhos explicando o «contágio». Por exemplo, num estudo de 400 casos de RTN feito por Borneman e Lowrie, em 1988, as culturas bacterianas realizadas não permitiram isolar, de uma forma consistente, uma população de bactérias suspeita.

Entre 1992 e 1997, Lowrie conseguiu induzir RTN em culturas de Acropora e Pocillopora, usando químicos, mudanças de temperatura e sedimentação com terra de diatomáceas. No entanto, não podemos excluir a hipótese de, em alguns casos, bactérias oportunistas presentes no muco poderem acelerar o processo (foi nestes casos que o antibiótico Cloranfenicol mostrou ter algum sucesso no tratamento).

Os corais mais afectados são do género Acropora, seguidos de Pocillopora, Seriatopora, Galaxea, e Trachyphyllia. As Turbinaria, Stylophora e Hydnophora também podem ser afectadas embora com menos frequência. As Montipora, Pectinia e Lobophyllia são mais raramente atingidas.

É curioso verificar que esta resposta dos corais de aquário ao stress é praticamente idêntica à resposta dos corais nos recifes da natureza quando sujeitos também a stress agudo ou crónico, geralmente por aumento de temperatura, situação descrita em 1997 por Antonius e apelidada de SDR (Shut-down reaction). Provavelmente estaremos em presença de dois nomes diferentes para o mesmo fenómeno.

Presentemente, o único tratamento aconselhável é a fragmentação, descartando-se as partes afectadas, e o isolamento rápido do coral afectado para evitar que os outros corais presentes no aquário sejam atingidos. O uso de carvão activado poderá minorar os danos colaterais provocados pelas substâncias químicas tóxicas que se suspeita estarem presentes nos tecidos desprendidos, impedindo que estas afectem os outros corais.

Não nos podemos esquecer que um episódio de RTN pode acontecer mesmo que não haja uma introdução de um novo coral, desde que existam factores de stress, embora sejam os corais recém introduzidos os mais susceptíveis devido às alterações físico-químicas a que são sujeitos durante a recolha, transporte e aclimatização.



Texto: Rui Ferreira de Almeida
Médico Veterinário
 
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