Função Pública em risco de perder poder de compra em 2008
Ao contrário do que prometeu José Sócrates, os salários no Estado podem subir menos que a inflação no próximo ano.«Tudo faremos para que os funcionários públicos não percam no próximo ano nenhum poder de compra», diz o «Diário Económico».
A frase é do primeiro-ministro e foi dita no dia 11 de Outubro, no final do Conselho de Ministros em que José Sócrates anunciou que o défice das contas públicas ficaria abaixo dos 3%, este ano.
Menos de um mês depois, os economistas e analistas contactados pelo «Diário Económico» consideram que a promessa do primeiro-ministro está em risco, essencialmente por duas razões: a previsão de inflação para este ano, por um lado, e os aumentos salariais, ontem fechados com os sindicatos da função pública.
Com o aumento de 2,1% para os salários dos trabalhadores do Estado, «o Governo deu um sinal de moderação salarial para o resto da economia», mas «há muitos riscos sobre a evolução da economia europeia e mundial», alerta o antigo ministro das Finanças Eduardo Catroga.
Conclusão? «Há uma grande margem de incerteza no valor da inflação»alerta a antiga secretária de Estado do Orçamento de António Guterres. Manuela Arcanjo sublinha que «o Governo quer restringir ao máximo os encargos com a função pública» e conclui que «o valor do aumento serve também para dinamizar pouco a procura, apostando antes no investimento público».
Assim, conclui a antiga ministra da Saúde, «a contenção salarial explica-se porque o Governo não quer crescer pelo consumo privado, mas sim pelas exportações e investimento público».
O crescimento do Produto, em 2008, «estará na vizinhança dos 2%», antecipa o economista do Santander Rui Constantino. Reitera que «o grau de incerteza é grande», razão pela qual os funcionários públicos não têm grandes razões para sorrir. «Os aumentos reais estarão muito próximo do zero pois a inflação rondará os 2,3%», diz Rui Constantino, que afirma, no entanto, que «o descongelamento das carreiras pode permitir um aumento das remunerações dos funcionários públicos sem que isso se reflicta na percentagem» de 2,1% que foi ontem decidida pelo Governo.
Depois das duras críticas dos sindicatos à manutenção do valor de aumento de 2,1%, no final da última ronda de negociações salariais, o ministro das Finanças falou aos jornalistas para responder aos sindicatos: «Eu não finjo que negoceio, o Governo oferece o que as condições reais das contas do país permitem oferecer», disparou o ministro, acrescentando que «apresentar uma proposta mais baixa para depois a subir é um simulacro de negociação».
Teixeira dos Santos argumenta que «2,1%, tendo em conta a situação do país, é um aumento que permite manter o poder de compra». Isto, claro, se a previsão de inflação para o próximo ano se mantiver.
Opinião diferente tem a antiga secretária de Estado do Orçamento: «Esta negociação só existe porque é legalmente exigível, mas serve também para o Governo fugir à crítica do autoritarismo».
Fonte:Agencia Financeira