Crise portista: dirigentes criticam passividade
A decisão da Comissão Disciplinar da Liga de Clubes, que anteontem enviou ao FC Porto uma nota de culpa dando-lhe conta de que no âmbito da justiça desportiva haviam sido considerados como culpados de dois crimes de tentativa de corrupção, está a gerar uma verdadeira onda de mal-estar nos azuis-e-brancos. O gabinete jurídico dos portistas está a estudar os processos, mas deverá aceitar as punições para evitar o prolongamento dos casos.
O FC Porto opta assim por perder seis pontos já esta época, evitando que o caso transite para a Federação e que a punição seja aplicada na próxima época. Onde o previsível campeão nacional seria obrigado a começar com seis pontos a menos, podendo colocar em causa as aspirações ao título.
Dirigentes e destacados elementos portistas disseram ao CM discordar da posição dominante na SAD. 'Se o clube não contestar a nota de culpa é uma forma de aceitar a culpa. O FC Porto fica com essa mácula e entendo que, se tem a consciência tranquila, não deve aceitar a punição. Não nos podemos esquecer que estamos a falar de um clube que na épocaemcausa (2003/2004) foi campeão europeu e que as conclusões agora tiradas pela Liga são ridículas e absurdas', disse ao CM um dirigente do FC Porto que no entanto pediu o anonimato.
ESCUTAS TELEFÓNICAS
Os dirigentes portistas foram anteontem surpreendidos com a decisão da Liga de Clubes. Embora a conclusão dos processos não tenha sido muito gravosa para o clube (a manter-se a acusação do Ministério Público, corrupção consumada, o FC Porto arriscava a descida de divisão), a verdade é que Pinto da Costa não contava sequer com a indicação de que teria cometido qualquer infracção disciplinar.
Além disso, os dirigentes portistas contestam a utilização das escutas telefónicas nos processos disciplinares, numa altura em que ainda estão pendentes recursos no Tribunal Constitucional para aferir a validade das mesmas.
O assumir da culpa do FCPorto nos processos disciplinares pode também ter consequências na acção cível, pelo menos em termos das convicções do julgador. Numa altura em que Pinto da Costa se prepara para mais uma decisão instrutória no processo FC Porto-E. Amadora.
CONSELHO DE JUSTIÇA DA FPF DECIDE RECURSOS
Se os clubes contestarem as notas de culpa poderão recorrer para o Conselho de Justiça da FPF. Um órgão constituído por sete elementos, todos licenciados em Direito: presidente: António José da Rocha Gonçalves Pereira; vice-presidente: Elísio da Costa Amorim; vogais: José António Fialho Silva e Sousa, Francisco José Cerqueira Mendes da Silva, Álvaro Manuel Reis Batista, Eduardo dos Santos Pereira e Francisco José Baixinho Cravo.
Se o processo se arrastar no CJ da FPF além de 11 de Junho, o FCPorto arrisca-se, no caso de condenação, a ser punido com a perda de seis pontos na época de 2008/09.
DEPOIMENTO DE ÁRBITRO NA BASE DE PROCESSO
Um dos jogos que dá origem a processo disciplinar ao clube axadrezado é o Boavista-Académica (0-0), de 2003/04, foi considerado irrelevante pela equipa de Maria José Morgado. A falta de investigação judicial não evitou que a Liga ouvisse os árbitros do encontro, equipa liderada por Jorge Sousa. O depoimento de um deles, segundo fontes contactadas pelo CM, está na base da acusação à SADdoBoavista, alvo de três processos disciplinares, sendo o caso do jogo com a Briosa o único em que João Loureiro não é referenciado. A testemunha ter-se-à apenas cingido a Valentim Loureiro, sendo que, à data, o major não tinha qualquer ligação oficialà SAD axadrezada. Valentim é líder da AGda Liga e só a Federação poderá instaurar-lhe um processo.
DISCURSO DIRECTO: 'FALAREI DE TUDO QUANDO FOR OPORTUNO': Hermínio Loureiro, presidente da Liga de Clubes
Correio da Manhã – – A Liga de Clubes já enviou as notas de culpa ao FC Porto e ao Boavista. Que comentários faz aos castigos a aplicar?
Hermínio Loureiro – Não comento a decisão. São assuntos que a seu tempo ficarão resolvidos e não me compete falar deles agora porque estão em segredo de justiça.
– Para quando, então, uma posição oficial da Liga?
–Falareidetudo quando for oportuno, inclusive, das muitas mentiras que têm sido ditas e escritas em relação ao processo ‘Apito Dourado’.
– Que tipo de mentiras? Pode exemplificar?
– Só quando for oportuno.
– Mas esperava estes desenvolvimentos?
– Não vou comentar nada por agora. Com todo o respeito que a Comunicação Social me merece, este não é o momentodeprestar qualquer tipo de declarações sobre estes acontecimentos.
DEPOIMENTOS
'NOTIFICAÇÕES SÃO NORMAIS': Laurentino Dias | Sec. de Estado
'As notificações são factos normais. No que respeita à justiça desportiva, o Governo deve estabelecer regras de funcionamento de todo o sistema. A partir daí, ficam às Federações desportivas e respectivas Ligas as obrigações de cumprir dentro dos prazos e proceder em conformidade quando há conhecimento de possíveis infracções.'
'QUE A JUSTIÇA SEJA JUSTA': D. Soares Oliveira | Dirigente
'Aguardamos por aquilo que a Justiça, quer desportiva quer civil, está a fazer. Esperamos resultados com celeridade e depois pronunciamo-nos. Ninguém fica satisfeito quando uma situação tão triste como esta ocorre, sendo, porém, fundamental que a justiça seja, de facto, justa e devidamente aplicada.'
'ISTO SÓ SERVE PARA ENTRETER': Pôncio Monteiro | Advogado
'Isto só serve para entreter. Não concebo que se tomem atitudes por parte em relação a uma Liga de há quatro anos e não se veja o que se passou mais para trás, como quando uma equipa precisava e marcava oito golos à CUF para ser campeã [o Benfica]. Qualquer dia, vamos ao tempo de Calabote.'
'PARECE-ME EXTEMPORÂNEO': Luís Duque | Empresário
'Parece-me extemporâneo que possam tirar pontos ao FC Porto pelo que se passou numa Liga há quatro anos e logo num campeonato que o FC Porto vai ganhar bem e de uma forma limpa. Há coisas estranhas para mim, que penalizem tão à posteriori em relação ao que se investiga.'
'NÃO PRESTIGIA O PAÍS E O FUTEBOL': Vicente Moura | Presidente doCOP
'Não prestigia o país nem o desporto português. Parece que os indícios são muitos, mas as matérias provadas em tribunal são poucas. Significa que um acusado, por intermédio de paliativos da própria justiça, pode protelar uma decisão, ou um inocente ver-se condenado em praça pública porque decorrem meses até se provar a sua inocência.'
'AGORA SABEM DO QUE FALAVA'. Octávio Machado | Treinador
'É caso para dizer que agora é que eles sabem do que é que eu estava a falar. Isto só me surpreende pela dimensão muito pequenina. A corrupção e o tráfico de influências não são de agora. Acho péssimo que se tirem pontos aos clubes. Técnicos e jogadores não têm culpa.'
'MAIS IMPORTANTE É AGIR RÁPIDO': Pedro Henriques | Árbitro
'Neste momento o mais importante é que as instâncias, no plano desportivo e da Justiça, ajam o quanto antes e tomem as medidas que acharem correctas para punir os infractores. Como agente desportivo só posso apelar à calma e tranquilidade no que respeita à arbitragem.'
'ACUSAÇÕES SÃO DIFERENTES': Cunha Leal | Advogado
'Causa-me estranheza que a acusação da justiça desportiva não coincida com a que foi feita nos tribunais judiciais. A da justiça desportiva coloca-se num patamar com ilícito de penalização inferior, porque fala de tentativa de corrupção, que tem uma pena inferior à de acusação de corrupção. Custa-me a entender.' CM