brunocardoso
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“Vamos a caminho de ter só duas estações”
Discurso directo
Anthímio de Azevedo, Meteorologista, fala ao CM sobre o tempo frio que se abate sobre Portugal.
Correio da Manhã – Este frio vem antes de tempo?
Anthímio de Azevedo – Nós é que precisamos de acertar os nossos relógios biológicos pela realidade astronómica. Está dentro da tendência de evolução normal, irreversível do ponto de vista astronómico, da crescente inclinação do eixo da terra, que já vai nos 24 graus e leva por exemplo os equinócios a começarem mais cedo, as andorinhas a aparecerem mais cedo e algumas plantas a nascerem mais cedo. São fenómenos com periodicidades muito grandes, neste caso são 28 mil anos.
– Quais as consequências?
– Vamos a caminho de ter situações meteorológicas muito parecidas de regiões com latitudes mais a sul como Cabo Verde ou Guiné, com apenas duas estações do ano: uma estação seca e outra de chuvas. Com diferenças, como este frio é exemplo, porque estamos mais perto do Pólo Norte e há mais influência continental.
– A acção do Homem não contribui então para isto?
– Os disparates do Homem, como a poluição, também têm influências negativas e têm vindo a perturbar isto tudo. Hoje [ontem] acordei às 06h45, fui ver imagens de satélite no site da Universidade de Dundee e vi o Atlântico como nunca tinha visto. Invadido por ar frio, sobre um oceano quente e todo coberto com faixas nebulosas. Isto explica este tempo: o oceano envia ar húmido e quente, que com o frio condensa e provoca nebulosidade, com estas condições de instabilidade em que chove um bocado e pára.
– Por que é que Portugal quase sempre escapa a grandes tragédias meteorológicas que sucedem aqui ao lado, em Espanha e França?
– Estamos numa situação geográfica privilegiada. Se formos mais para o interior há os problemas da continentalidade, com maiores diferenças de temperaturas. Nós estamos perto do mar e temos o estabilizador da presença da água.
Bernardo Esteves
Fonte: C.M