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"Uso a arte como protesto"

Satpa

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Entrevista: "Uso a arte como protesto"

Baltazar Torres tem, actualmente, obras em exposição na Áustria e em Espanha. Em Portugal, é muito menos requisitado. Aponta o conservadorismo como motivo.

É sem dúvida um artista plástico muito mais conhecido no estrangeiro do que no próprio país, Portugal. Baltazar Torres expõe nas mais conceituadas galerias internacionais e, actualmente, obras de sua autoria (esculturas, pintura e desenho) estão expostas, em simultâneo, em Viena e Salzburgo (Áustria), Saragoça, Valência e Vigo (Espanha) e também no Museu de Soares dos Reis, no Porto.

No Museu de Arte Contemporânea - Marco, de Vigo, está representado numa mostra colectiva, ao lado dos portugueses Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, Pedro Croft e Pedro Proença. Com 47 anos, este português de Figueira de Castelo Rodrigo, há vários anos a viver e a trabalhar no Porto, não hesita em apontar o dedo ao "conservadorismo" nacional.

É uma evidência que o seu trabalho é mais conhecido e reconhecido lá fora do que em Portugal. Tem alguma explicação para isso?

Admito que a minha obra tem maior visibilidade no estrangeiro, sobretudo em Espanha, Áustria e Alemanha.

Sim, mas porquê?

Porque os mercados são diferentes e muito mais exigentes. Os portugueses são mais conservadores. O meu trabalho é muito particular, não anda atrás de receitas e de fórmulas, tem uma consistência conceptual muito forte. Julgo que o ser menos conhecido em Portugal se deve às políticas e prioridades expositivas, devido ao conservadorismo e à falta de contacto directo com as obras. Lá fora, as pessoas não perguntam pelo currículo quando vêem uma peça de que gostam.

Cá, em sua opinião, o mercado liga muito ao currículo do artista?

Sim, em Portugal, as obras de arte são compradas por "ouvido".

O que quer dizer com isso?

Compra-se pelo que se ouve, ou seja, dou um exemplo: a pessoa ouviu dizer que o Baltazar Torres expôs em determinado museu ou esteve presente numa feira internacional e acaba por comprar. Cá, as pessoas ainda não compram pelo interesse da obra em si, mas pelo nome do autor.

E no estrangeiro, não é assim?

Não, poderá haver excepções, mas, de uma maneira geral, em Espanha, Itália, Áustria e Alemanha, o mercado gere-se pela capacidade de escolha e as compras de determinadas obras são feitas pelo valor estético e conceptual e não pelo nome de quem a assina. O provincianismo existe e ainda está bem vivo em Portugal.

A crítica de arte que se vai fazendo em Portugal ajuda a promover o que por cá se vai concebendo? Acha que existe, realmente, crítica de arte no país?

A crítica existe, mas é conservadora, ou seja, não tem ou não quer ter meios de provocação. O que se escreve é pouco e quase sempre em torno dos mesmos nomes, dos mais conhecidos. Acho mesmo que existe uma cegueira na crítica de arte em Portugal de uma forma generalizada, exceptuando alguns casos.

O seu trabalho vai continuar a ter mais visibilidade no estrangeiro?

Sinceramente, confesso que me interessa mais estar representado lá fora, porque o trabalho é mais visto e há uma maior visibilidade. Além disso, as galerias promovem o trabalho com mais facilidade. Neste momento, estou a trabalhar directamente com galerias em Palma de Maiora, Barcelona, Vigo, Áustria e Roma.

Abandonou recentemente a docência no Ensino Superior, na Faculdade de Belas-Artes do Porto e na Universidade Católica, onde ministrava as cadeiras de Pintura e Desenho. Porquê?

Porque preciso de mais tempo para me concentrar no trabalho artístico, de forma a conseguir dar resposta aos compromissos assumidos com as galerias.

As questões ambientais têm sido, ao longo dos tempos, tema a que vem recorrendo. Esta temática é para continuar a desenvolver nas suas pinturas, esculturas, desenhos e instalações?

Esse tema integra, na realidade, o trabalho que tenho desenvolvido, que assenta numa preocupação que tenho desde os fins dos anos 80 e que se ancora numa perspectiva política, não politizadora, no sentido de encontrar no discurso artístico meios de provocação e de chamadas de atenção para os riscos das atrocidades ambientais que se têm cometido ao longo do século XX. Essas preocupações são vitais porque estamos a falar de uma questão que é muito nobre, que é a vida, a vida no sentido global da existência humana.

Quer dizer que usa a arte como forma de protesto, de denúncia?

É, uso a arte como protesto, ou seja, mostro com iromia e humor o Mundo catastrófico que construímos e habitamos.

O tema vai continuar na base do seu trabalho futuro?

Sim, pois é nesse sentido que o meu trabalho ganhou raízes. Trabalho com conceitos, com preocupações e a minha investigação plástica direcciona-se nesse sentido. Irei, pois, naturalmente, continuar.


JN
 
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