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Uncle Tito: o palhaço inesperado que faz rir as crianças de Gaza
Mohammed Nayef Salem garante que "riso ultrapassa o som de drones de guerra".
Jardineiras vermelhas com bolinhas, um chapéu preto com flores coloridas, tinta facial branca e um nariz vermelho não é a indumentária que costumamos associar à Faixa de Gaza, mas é assim que Mohammed Nayef Salem se apresenta às crianças. O jovem de 18 anos é um palhaço de circo que age de forma pateta para trazer um sorriso ao rosto dos mais pequenos que vivem no meio do conflito Israel - Hamas.
O tio de Salem introduziu-o no mundo da arte circense quando o jovem tinha apenas 12 anos. "O trabalho dele era ensinar pessoas a fazer truques e a ser engraçadas", afirmou o palhaço de guerra em entrevista ao Independent. "Foi ele que escolheu o meu nome artístico, Uncle Tito [Tio Tito, em português], que as crianças adoram", acrescentou.
O palhaço Uncle Tito nasceu em Gaza, na Palestina, e treinou na Escola de Circo de Gaza, mas nunca pensou que o trabalho se tornasse "um salva-vidas para centenas de crianças a passar por horrores inimagináveis". Atualmente, Salem mora no norte da região palestiniana. Os locais por onde passou ao crescer foram "quase todos destruídos pelos bombardeamentos israelitas", explicou o jovem, realçando o quão difícil é a vida em Gaza.
Apesar da situação complicada em que se encontra, Salem, um dos poucos que tem uma missão além de sobreviver, assumiu um compromisso com a comunidade para manter as pessoas felizes durante a guerra. "Faço o meu melhor, porque não sei se verei as crianças outra vez", garantiu o palhaço.
Segundo o Ministério da Saúde palestiniano, citado pela rádio americana National Public Radio, quase metade da população de Gaza são crianças e jovens abaixo dos 18 anos. Numa zona onde 96 por cento das crianças temem que a morte é iminente, de acordo com um relatório de uma organização não governamental de Gaza, o trabalho de Uncle Tito ajuda a dar apoio psicológico aos pequenos cidadãos. "Pode ser o único momento do dia em que elas [as crianças] sorriem", salientou Salem.
Vestido com as jardineiras vermelhas ou com um casaco azul, amarelo e verde, o palhaço viaja para vários sítios no norte da região palestiniana, incluindo escolas onde milhares de crianças deslocadas se refugiaram. A UNICEF estima que existam pelo menos 17 mil crianças desacompanhadas ou separadas dos pais na Faixa de Gaza.
Salem faz todo o tipo de atividades que um palhaço faria noutro sítio qualquer: "Faço performances para elas [crianças], faço coisas patetas, ando de bicicleta, faço objetos desaparecer e brinco com as crianças. Faço competições e dou-lhes presentes". Mas, devido ao encerramento das escolas, Uncle Tito também introduz aspetos didáticos e pedagógicos. "Às vezes trago um ângulo educacional para o que faço, como ensinar os números", exemplificou o jovem.
"Mas há também um lado negro", admite Salem. A energia animadora da tarefa de palhaço nem sempre é suficiente para esconder as dificuldades de quem vive num cenário de guerra: "Tenho dificuldade para encontrar comida para as minhas irmãs mais novas. A minha casa foi destruída, por isso vivo num centro onde muitas pessoas se refugiaram".
O jovem palhaço, com uma família de sete pessoas, reconhece que "tem sorte por estarem vivos", mas salientou que teme pela própria segurança e da família. "Podemos ser bombardeados a qualquer momento, em qualquer sítio. Uma vez estávamos numa escola quando foi bombardeada. Também ficámos feridos na nossa casa antes de ser destruída", enumerou Salem. O marido da irmã mais velha de Salem não teve a mesma sorte do resto da família. "Descobrimos que o marido da minha irmã Shahd foi assassinado. Não consigo descrever a dor que sentimos", relatou o jovem.
As adversidades trouxeram um novo propósito de vida a Salem: "Trazer experiências de infância felizes para crianças a passar por dificuldades extremas". Uncle Tito espera que fazer o trabalho que ama, fazer as crianças rir, lhes traga alguma esperança. "Espero conseguir fazer todas as crianças do mundo felizes", desejou o jovem
Mohammed Nayef Salem, também conhecido como Uncle Tito, acredita que "cada criança é honrada e protegida através da arte do palhaço". E garante: "O riso ultrapassa o som de drones de guerra".
Correio da Manhã

Mohammed Nayef Salem garante que "riso ultrapassa o som de drones de guerra".
Jardineiras vermelhas com bolinhas, um chapéu preto com flores coloridas, tinta facial branca e um nariz vermelho não é a indumentária que costumamos associar à Faixa de Gaza, mas é assim que Mohammed Nayef Salem se apresenta às crianças. O jovem de 18 anos é um palhaço de circo que age de forma pateta para trazer um sorriso ao rosto dos mais pequenos que vivem no meio do conflito Israel - Hamas.
O tio de Salem introduziu-o no mundo da arte circense quando o jovem tinha apenas 12 anos. "O trabalho dele era ensinar pessoas a fazer truques e a ser engraçadas", afirmou o palhaço de guerra em entrevista ao Independent. "Foi ele que escolheu o meu nome artístico, Uncle Tito [Tio Tito, em português], que as crianças adoram", acrescentou.
O palhaço Uncle Tito nasceu em Gaza, na Palestina, e treinou na Escola de Circo de Gaza, mas nunca pensou que o trabalho se tornasse "um salva-vidas para centenas de crianças a passar por horrores inimagináveis". Atualmente, Salem mora no norte da região palestiniana. Os locais por onde passou ao crescer foram "quase todos destruídos pelos bombardeamentos israelitas", explicou o jovem, realçando o quão difícil é a vida em Gaza.
Apesar da situação complicada em que se encontra, Salem, um dos poucos que tem uma missão além de sobreviver, assumiu um compromisso com a comunidade para manter as pessoas felizes durante a guerra. "Faço o meu melhor, porque não sei se verei as crianças outra vez", garantiu o palhaço.
Segundo o Ministério da Saúde palestiniano, citado pela rádio americana National Public Radio, quase metade da população de Gaza são crianças e jovens abaixo dos 18 anos. Numa zona onde 96 por cento das crianças temem que a morte é iminente, de acordo com um relatório de uma organização não governamental de Gaza, o trabalho de Uncle Tito ajuda a dar apoio psicológico aos pequenos cidadãos. "Pode ser o único momento do dia em que elas [as crianças] sorriem", salientou Salem.
Vestido com as jardineiras vermelhas ou com um casaco azul, amarelo e verde, o palhaço viaja para vários sítios no norte da região palestiniana, incluindo escolas onde milhares de crianças deslocadas se refugiaram. A UNICEF estima que existam pelo menos 17 mil crianças desacompanhadas ou separadas dos pais na Faixa de Gaza.
Salem faz todo o tipo de atividades que um palhaço faria noutro sítio qualquer: "Faço performances para elas [crianças], faço coisas patetas, ando de bicicleta, faço objetos desaparecer e brinco com as crianças. Faço competições e dou-lhes presentes". Mas, devido ao encerramento das escolas, Uncle Tito também introduz aspetos didáticos e pedagógicos. "Às vezes trago um ângulo educacional para o que faço, como ensinar os números", exemplificou o jovem.
"Mas há também um lado negro", admite Salem. A energia animadora da tarefa de palhaço nem sempre é suficiente para esconder as dificuldades de quem vive num cenário de guerra: "Tenho dificuldade para encontrar comida para as minhas irmãs mais novas. A minha casa foi destruída, por isso vivo num centro onde muitas pessoas se refugiaram".
O jovem palhaço, com uma família de sete pessoas, reconhece que "tem sorte por estarem vivos", mas salientou que teme pela própria segurança e da família. "Podemos ser bombardeados a qualquer momento, em qualquer sítio. Uma vez estávamos numa escola quando foi bombardeada. Também ficámos feridos na nossa casa antes de ser destruída", enumerou Salem. O marido da irmã mais velha de Salem não teve a mesma sorte do resto da família. "Descobrimos que o marido da minha irmã Shahd foi assassinado. Não consigo descrever a dor que sentimos", relatou o jovem.
As adversidades trouxeram um novo propósito de vida a Salem: "Trazer experiências de infância felizes para crianças a passar por dificuldades extremas". Uncle Tito espera que fazer o trabalho que ama, fazer as crianças rir, lhes traga alguma esperança. "Espero conseguir fazer todas as crianças do mundo felizes", desejou o jovem
Mohammed Nayef Salem, também conhecido como Uncle Tito, acredita que "cada criança é honrada e protegida através da arte do palhaço". E garante: "O riso ultrapassa o som de drones de guerra".
Correio da Manhã