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Um só comprimido no combate à Sida

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Não é a pílula mágica, mas tornou muito mais cómodas algumas das terapias de combate ao HIV. Há dez anos, um seropositivo tomava mais de 20 comprimidos por dia, hoje um pode ser suficiente.

Mário Lino, correspondente no Algarve

17:55 | Sábado, 11 de Out de 2008



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"A pill a day keeps the doctor away" (uma pílula por dia mantém afastado o médico, em tradução livre). Poderia ser este o slogan do novo comprimido "três em um", utilizado na luta contra o HIV1, ontem oficialmente apresentado no VII Congresso Nacional da Sida, que decorre em Vilamoura.

O comprimido promete revolucionar sobretudo a qualidade de vida dos pacientes, não porque os seus princípios activos sejam novos ou tenha menos efeitos secundários, mas sobretudo na simplificação de um ritual diário que chegou a ser de quase 30 comprimidos, e actualmente se cifra nos 3 a 5 comprimidos por dia.

"É bom poder ter só um comprimido e as pessoas valorizam bastante a quantidade de comprimidos", afirma Ricardo Fernandes, presidente da Associação Positivo, mas deixa a ressalva: "O número de comprimidos não é no entanto aquilo que mais preocupa os seropositivos, mas sim os efeitos secundários a médio e longo prazo". E aí a conversa é outra.

O novo comprimido, "inventado" por uma joint-venture farmacêutica entre dois dos maiores produtores de anti-retrovirais (a Gilead e a Brystol-Myers-Squidd) tem, segundo os especialistas, exactamente os mesmos efeitos, até porque não passa de uma simples combinação ou mistura de três princípios já usados habitualmente nas terapêuticas (o Efavirenz e o Truvada, que junta emtricitabina e tecnofovir). Qual é então a grande novidade? "É que um é melhor que dois", diz Franco Maggiolo, infecciologista dos Hospitais Reunidos de Bérgamo, em Itália.

"Nós detectamos em estudos que a adesão dos pacientes à terapia, isto é, a regularidade com que tomam os comprimidos é extremamente importante na eficácia do processo terapêutico, e com apenas um comprimido a probabilidade de esquecimentos ou tomas erradas é menor, o que acaba por tornar mais eficaz o tratamento".

Também Mark Nelson, director-adjunto do Chelsea-Winchester Hospital, em Londres, se tornou num defensor do Atripla (assim se chama o comprimido), mas apressa-se a desmistificar a cura da doença: "Isto não é a pílula mágica, nem sequer é a droga perfeita para todos. Existe toxicidade, mas não há drogas não-tóxicas, temos é que saber lidar com elas", afirma.

Uma coisa é certa, em apenas dez anos os pacientes seropositivos passaram de terapêuticas que incluíam dezenas de comprimidos (8 de manhã, 2 ao meio-dia, 8 à tarde e 2 ao deitar) para a possibilidade - que agora está nas mãos dos médicos - de tomarem apenas um.

Um salto quantitativo (também qualitativo) relativizado pelos problemas vividos no dia-a-dia pelos seropositivos: "Ser seropositivo em Portugal é ter consultas de adesão só um ano depois de se ter diagnosticado, é ter uma consulta de alguns minutos só de 3 em 3 meses, para ver a carga viral, ter apoio psicológico uma vez por mês no hospital, não ter informação de qualidade sobre a doença e as terapêuticas e não saber lidar com os efeitos secundários", afirma Ricardo Fernandes, cuja experiência na primeira pessoa lhe tem dado força para não baixar os braços. "Nós, seropositivos, temos de ser parte da solução, porque é possível viver com VIH em Portugal", garante.

Um só comprimido, o mesmo preço

O Atripla, que foi autorizado pelo Infarmed em Dezembro passado, está agora a ser negociado com os diferentes hospitais do Serviço Nacional de Saúde, mas o facto de apenas um comprimido substituir dois ou três não vai traduzir-se para já em poupanças para o Estado, caso os médicos comecem a prescrever o fármaco.

"O preço é exactamente o mesmo das substâncias em separado", garante Cristina Bernardo, directora-geral da Gilead Portugal. Aliás, dependendo dos hospitais, pode até sair mais caro, uma vez que as unidades hospitalares negoceiam a compra de drogas "por grosso", podendo obter descontos, por exemplo, num princípio e não noutro.

O custo de cada caixa de Atripla, que dá para um mês, é de 801,33 euros e como todos os fármacos utilizados no tratamento de seropositivos, será integralmente suportado pelo Estado português.

Segundo vários especialistas presentes no encontro, o custo médio diário por paciente, em Portugal, ronda os 28 euros. Face à estimativa de 10 mil seropositivos portugueses, a SIDA terá um custo directo, só nesta terapêutica, de 8 milhões de euros por mês.


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