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Um livro: Um Rei na manga de Hitler

p.rodrigues

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José Goulão: «O mito da neutralidade salazarista tornou-nos neutros no sentido de amorfos»

Com uma vasta experiência jornalística, José Goulão escreveu agora o seu primeiro romance: «Um Rei na Manga de Hitler», editado pela Gradiva, uma história que apresenta uma conspiração real que aconteceu em Lisboa durante a II Guerra Mundial é que ainda hoje é desconhecida por muitas pessoas. Uma estreia empolgante e de fôlego.

Goulão é o primeiro a reconhecer que o romance sempre esteve no seu horizonte, mas, por suposta «falta de tempo», sempre foi adiado. Felizmente que a «desculpa» foi esquecida e o jornalista escreveu «Um Rei na Manga de Hitler», uma obra que mexe com brio a realidade com a ficção, embora seja sempre «verificável» a distinção entre os dois Mundos. Uma obra que merece ser lida e que podemos considerar como um dos livros do Verão (mas também do Outono, Inverno e Primavera…).

Tem uma vasta experiência como jornalista, já escreveu alguns livros. Porque decidiu apenas agora escrever um romance?
A vida intensa de jornalista não deixa muito espaço para outras aventuras na área da escrita. Os romances estiveram sempre no meu horizonte, ideias e vontade não faltavam, até que percebi, com a passagem do tempo, que o tempo também funcionava parcialmente como uma desculpa. Decidi arranjá-lo e felizmente encontrei em Guilherme Valente, o editor da Gradiva, a pessoa ideal para passar o projecto à prática porque agarrou a ideia no primeiro instante e nunca me deixou esmorecer. Trabalhei muito mas também me diverti muito a escrever este livro.

Há diferenças latentes entre a literatura e o jornalismo. Poderia citar algumas? E as pontes que ligam uma a outra?
Há bastantes diferenças técnicas, na organização da narrativa, nos espaços e tempo disponíveis, mas a fonte criativa, a escrita, é a mesma e inesgotável. Depois há a diferença, rigorosa, entre a realidade e a ficção, mas existe também a convergência através de um conceito que já se tornou lugar comum, o de que a realidade é a maior fonte de ficção e chega a ultrapassá-la. Posso responder mais concretamente à sua pergunta partindo deste romance. A investigação e o factos reais que nela apurei deram origem a uma obra de ficção; mas o próprio romance pode ser fonte de notícia para jornalistas. Alguns dos acontecimentos nele revelados são mal conhecidos, ou mesmo desconhecidos.

A página em branco de um romance pesa menos que a página em branco da primeira página de um jornal?
A partir do momento em que tem de ser preenchida, a página em branco pesa sempre muito, creio que a qualquer criador, seja ela um papel, um monitor informático ou uma tela. Não acho que exista uma hierarquia de importância e situações porque qualquer autor, pela responsabilidade de a sua obra se ir tornar pública, de ser um veículo de comunicação influenciando outros seres humanos, deve conhecer o peso real do que regista num espaço originalmente em branco. É uma questão de respeito pelos outros e por si próprio.

Até que ponto o tema da II Guerra Mundial o fascina?
Não sinto um fascínio especial pela II Guerra Mundial, aliás por guerra alguma. A guerra é um horror, é irracional, é o terrorismo na sua essência. Mas há elementos que me fascinam nos acontecimentos que vão passando a fazer parte da nossa existência e da nossa experiência, vividos ou não. São as pessoas, os ambientes, as projecções que essas ocorrências têm na nossa vida imediata ou futura. Procuro perceber a vida durante esses fenómenos, como ela se molda às circunstâncias; e, no limite, durante a guerra há uma noção mais crua da vida porque, de modo consciente ou não, todos sentimos a proximidade da morte. Neste romance as mulheres vão adquirindo um papel fortíssimo, não para desmontar qualquer mito tonto de que a guerra é coisa de homens, mas simplesmente porque é esse o papel das mulheres na sociedade e não apenas hoje - para isso não são precisas as cotas na política. Neste aspecto concreto do papel das mulheres, o romance aproxima-se mais da realidade do que da ficção, ainda que algumas das principais personagens femininas sejam ficção.

Acredita que os portugueses estão conscientes do que foi Lisboa durante esse período?
É difícil responder a essa pergunta. Os portugueses que sentiram a situação na carne não se identificam com a ideia romântica de uma cidade de espiões, heróis ou vilões, um refúgio de realezas caducas e até com as mãos cheias de sangue, com o jogo de oportunismos e propaganda praticado pelo regime nacional. Lisboa cosmopolizou-se, durante algum tempo deixou de ser apenas uma grande aldeia dominada por uma mentalidade ultramontana, e esse abanão social e cultural deu frutos, alguns dos quais sobreviveram apesar do fortíssimo contra-ataque do salazarismo, apoiado, como se sabe, por muitos dirigentes que se consideraram a si mesmos faróis da democracia. Ontem como hoje. Mas não tenho dúvidas de que essa Lisboa é ainda desconhecida para muitos e muitos portugueses, talvez até misteriosa, fascinante, mas dramática.

A importância estratégica da nossa capital na II Guerra Mundial deveria ser mais debatida entre nós?
Tudo deveria ser mais debatido entre nós. Esses tempos terríveis, anteriores e posteriores à guerra, soterraram os hábitos de debate entre os portugueses, promoveram o conformismo contra a contestação, a subserviência contra a personalidade, a submissão contra a utilização de direitos. O regime salazarista deixou a nossa cidadania em coma profundo, de que tardamos em sair. Não há exemplo mais actual disso do que a situação em que vivemos. Se debatêssemos a fundo esses tempos da II Guerra ficaríamos a conhecer-nos muito melhor e a entender com mais profundidade o que somos e como somos agora. O mito da neutralidade salazarista tornou-nos neutros no sentido de amorfos, indiferentes a muita coisa que nos cerca e que deveria fazer-nos mexer, passivos no mundo, bem comportados e governados por bons alunos que “fazem figura” lá fora. Houve o 25 de Abril, é certo, mas não resistiu. Não é por acaso que a primeira tentativa de golpe contra o 25 de Abril, a de 28 de Setembro de 1974, assentou na chamada “maioria silenciosa”. Maiorias silenciosas geram governos autoritários.

Mas está tudo dito em relação a essa época?
Está quase tudo por dizer. Não há que ter medo dos factos, do debate, de enfrentar mitos e tabus. Nada disso é um sacrilégio contra a Pátria; pelo contrário, o que faz mal á Pátria são os dogmas. Seríamos um país muito melhor se recuperássemos a cidadania e tudo o que ela significa em termos de liberdade e essência republicana.

Apresenta factos reais com ficcionais. Até que ponto o leitor está apto para distinguir uns e outros?
Creio que não será difícil ao leitor estabelecer as fronteiras. O enredo não altera a realidade histórica. No romance, as personagens que justificam a trama ficcional seguiram o seu destino tal como tudo se passou na verdade. Inseri alguns dados complementares às suas biografias oficiais, dados esses que são reais, factuais e que foram abolidos, certamente devido às sacrossantas “razões de Estado”, dessas biografias oficiais. O leitor perceberá facilmente o que estou a dizer. A ficção é um contexto, não uma adulteração da História.

Dos vastos personagens históricos que refere, qual aquele que mais admira como homem?
Neste contexto, sem dúvida Winston Churchill. Confesso que entrei nas investigações com algum preconceito, coisa feia num jornalista, porque era uma figura com uma imagem do mundo e da sociedade nos antípodas da minha, monárquico, imperial, conservador... Mas rendi-me aos factos. Ele teve uma percepção crua e seriíssima da gravidade da conspiração nazi em torno do duque de Windsor e da receptividade deste ao “namoro” de Hitler. Churchill não foi apenas o homem que teve a imensa coragem, na época uma loucura assumida provavelmente contra a maioria dos dirigentes políticos, de arriscar tudo na resistência da Inglaterra ao poderio nazi. Teve também a noção precisa do perigo do que germinava em Madrid e Lisboa à volta do casal Windsor, anteviu o paralelismo latente com a França de Pétain, e jogou com a máxima dureza para fazer abortar a conspiração. Churchill validou em tempo real, e liquidou-a de modo fulminante, uma ameaça que muitos historiadores ainda hoje tratam como um fait-divers. Uma perspicácia admirável de um grande estadista, em estatuto caído, infelizmente, em desuso.

E como escritor?
Eça, sem dúvida. O conteúdo da sua escrita tem um dom de visão que nos permite transportar os seus personagens através das épocas, mantendo-se vivos, actuantes, em grande forma e sempre na onda. Que geniais romances, cartas ou crónicas ele teria escrito sobre o Portugal desses tempos da II Guerra quando estavam no auge tiques e comportamentos que ele desmontava com aquela escrita incisiva, brilhante e incomparável!

Preparado para o segundo romance?
Completamente preparado. Já ultrapassei a fase da tortura da página em branco.

SINOPSE

«No Verão de 1940, a Inglaterra resistia ao fogo cerrado da aviação nazi. Portugal vivia a chamada neutralidade salazarista, através da qual a elite da ditadura tirava proveito da tragédia alheia.

Na vivenda de um banqueiro português, em Cascais, Hitler tinha debaixo de olho o seu «Pétain inglês», o ex-rei Eduardo VIII de Inglaterra, então Duque de Windsor que se debatia com um dilema: seguir o caminho da traição, que o faria regressar ao trono ao serviço dos nazis; ou tomar o paquete rumo às Bahamas para assumir o lugar de governador, que o irmão e sucessor, o rei Jorge VI, lhe atribuíra.

Um manuscrito saído de uma gaveta onde esteve sepultado durante meio século, num casarão da Avenida Elias Garcia, em Lisboa, revela os segredos desta intriga internacional vivida entre Lisboa, Peniche e o Tejo fronteiriço. Uma intriga cujo desfecho foi decisivo na Segunda Guerra Mundial e nas intenções do ditador Franco para atacar Portugal.

Através de uma narrativa inspirada em factos reais, interpretada por heroínas e heróis de carne e osso que arriscaram a vida para desatar as tramas tecidas entre chefes nazis e regimes colaboracionistas, José Goulão traça, neste seu primeiro e surpreendente romance histórico, o retrato escondido de uma época dramática, num país vigiado e subjugado, mas em que muita gente lutou inconformada e corajosamente pela liberdade.»

Fonte: DD

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Satpa

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Obrigado pela partilha amigo P. Rodrigues

Tudo sobre a 2ª Guerra me fascina, vou tentar ler o livro:espi28::espi28:

Depois deixo aqui a minha critica.

Satpa
 

p.rodrigues

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Obrigado pela partilha amigo P. Rodrigues

Tudo sobre a 2ª Guerra me fascina, vou tentar ler o livro:espi28::espi28:

Depois deixo aqui a minha critica.

Satpa

Sim, eu também gosto de tudo o que é tema sobre a 2ª Grande Guerra. Ficamos è espera da tua critica.

Esta história,também não li, daria um bom filme... Lisboa, à data, devia ser fascinante! "Neutra" era um paraíso da "Inteligência" dos Aliados e das forças do Eixo... a somar a isto existia as colónias ultramarinas.
 
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