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Tudo o que quer saber sobre os testes pré-natais não invasivos

Luz Divina

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Tudo o que quer saber sobre os testes pré-natais não invasivos




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O Professor Sérgio Castedo, Presidente da Sociedade Portuguesa de Genética Humana, explica o que são e quais as vantagens dos chamados testes pré-natais não invasivos; um método que deteta trissomias 13, 18 e 21.


Sérgio Castedo, Professor Associado de Genética Médica na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, desde 1994, tem mais de 60 estudos publicados nesta área. Desde 1997, dirige um laboratório privado de Genética, o GDPN – Genética Médica de Diagnóstico Pré-Natal, sendo ainda investigador do IPATIMUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto), Presidente da Sociedade Portuguesa de Genética Humana (desde 2002) e membro do Editorial Board of Cancer Genetics and Cytogenetics.

Foi exatamente com o Professor Sérgio Castedo que falámos, para saber o que são e quais as vantagens dos chamados testes pré-natais não invasivos; um método que deteta trissomias 13, 18 e 21 e que representa um avanço inegável nos testes de genética.


Numa entrevista recente que deu, disse que os testes não invasivos para detetar trissomias eram o melhor rastreio pré-natal de anomalias cromossómicas atualmente disponíveis. O que é que faz destes testes assim tão eficazes?

O facto de um teste detetar mais de 99% dos casos de trissomia 21, através do estudo do sangue da grávida, com apenas 0,1% de falsos positivos, representa, efetivamente, um enorme avanço na área do rastreio pré-natal.

Os métodos correntes de rastreio pré-natal, baseados em análises de sangue, dados da ecografia e idade da grávida, permitem detetar entre aproximadamente 70% e 90% dos casos de trissomia 21 (dependerá do tipo de rastreio a taxa de deteção), com cerca de 5% de falsos positivos.

Ou seja, com os métodos tradicionais de rastreio (que são, note-se, muito bons), 1 em cada 20 grávidas (5%)que recorra a esses testes, será identificada como rastreio positivo e terá indicação para a realização de uma amniocentese ou de uma biópsia de vilosidades coriónicas, para verificar se o bebé tem ou não trissomia 21.

Embora seja verdade que 70 a 90% dos casos de trissomia 21 estarão nesse grupo de rastreios positivos, a maioria das grávidas que têm um rastreio positivo, terão bebés normais. Dito de outra forma, a maioria dos rastreios positivos nesses testes são falsos alarmes, falsos positivos. Com os testes não invasivos, só 1 em 1000 (e não 1 em 20) grávidas fará uma amniocentese (ou biópsia das vilosidades) inutilmente. E serão detectados mais de 99% (e não 70 a 90%) dos casos de trissomia 21

Como é que o teste é feito?

O teste é feito através de uma colheita de sangue à grávida, a partir das 10 semanas de gestação.

Nesse sangue, será medida a quantidade de ADN proveniente dos cromossomas 13, 18 e 21 (e, se tal for requisitado, dos cromossomas X e Y), sendo essa quantidade comparada com a quantidade de outros cromossomas não envolvidos em trissomias.

Se houver, por exemplo, trissomia 21, haverá uma quantidade de DNA proveniente deste cromossoma que é ligeiramente superior à esperada. São essas diferenças subtis de quantidade de ADN que são avaliadas e valorizadas em centros muito especializados.

Em que é que ele difere da amniocentese?

A amniocentese implica picar o útero e recolher líquido amniótico para poder estudar as células do bebé que aí se encontram, enquanto que os testes não invasivos recorrem a uma vulgar colheita de sangue.

E picar o útero de uma grávida associa-se a um risco de aborto, de cerca 0,5% a 1%.

Estes testes são caros, podendo chegar aos 700 euros. Como é que um teste que consiste numa recolha de sangue é tão dispendioso?

Claro que não é a colheita que é cara, mas sim o trabalho laboratorial e de análise. De facto, os equipamentos que permitem a análise e valorização das diferenças mínimas de quantidade de ADN dos cromossomas analisados são muito caros, o que obriga a um número muito elevado de amostras processadas, para o teste ser rentável. Por isso é que as amostras são enviadas e analisadas para um laboratório central nos E.U.A, sendo que também há testes que os enviam para a China.

Estando provada a eficácia destes testes, como é que se justifica que o Serviço Nacional de Saúde não os comparticipe?

O Ministério da Saúde tem, como se compreende, de gerir prioridades de investimento, tanto mais que os nossos recursos são muito limitados.

Assim, não me surpreende que haja presentemente investimentos que o Ministério da Saúde considere mais prioritários. Por outro lado, haverá seguramente a convicção de que os preços irão baixar nos próximos tempos, tal como sucede quase sempre com novas tecnologias.

E em relação às seguradoras, a que é que acha que se deve a resistência das mesmas na comparticipação?

As seguradoras avaliam, mais do que o interesse em saúde pública, o retorno financeiro do investimento realizado. Se perceberem que podem comparticipar um estudo e, com isso, ganhar (ou poupar) dinheiro, fá-lo-ão, com toda a certeza. Mas admito que também contem com uma redução dos preços deste tipo de testes.

Tendo em conta que é cada vez mais comum as mulheres engravidarem depois dos 35 anos - e tudo indica que esta tendência irá acentuar-se ainda mais face à economia atual e ao facto dos jovens terem uma estabilidade financeira cada vez mais tarde - não se impõe que um teste como este faça parte do SNS?

Tudo leva o seu tempo. Repare, durante quase 20 anos, usou-se apenas a idade da grávida como indicação para fazer, ou não, a amniocentese. Mesmo depois de surgirem os métodos atualmente usados de rastreio pré-natal (que usam a idade da grávida, a ecografia e as análises bioquímicas ao sangue) demorou muito até que o SNS comparticipasse esses rastreios e, ainda hoje, só parte dessas análises são comparticipadas! Por isso, não é de estranhar que a comparticipação dos testes não invasivos também demore bastante tempo a ter lugar.

Um artigo da Deco Proteste diz que, apesar das vantagens inegáveis deste teste, ele não deteta malformações, não é fiável a 100% e que, por isso, perante um resultado positivo, a amniocentese continua a ser necessário. Pode comentar?

É verdade.

Os testes não invasivos não são para detectar outra coisa que não seja a trissomia 13, 18 ou 21 e, se requerido, as anomalias de número dos cromossomas X e Y. Ou seja, não detectam todos os problemas do bebé, detectam trissomias.

Por outro lado, como têm falsos positivos (ainda que, para a trissomia 21, seja de apenas 1 em 1000), mesmo quando estes testes detectam uma trissomia, é necessário confirmar a sua existência através da amniocentese.

Mas é indiscutível que, se o objetivo for detectar bebés com trissomia 21, estes testes permitem reduzir cerca de 20 vezes o recurso à amniocentese.

Os testes de genética têm evoluído imenso nos últimos anos. Qual é o próximo passo? O passo desejável a curto prazo?

É difícil prever o futuro, para mais numa área de tão rápido desenvolvimento. Em todo o caso, no que diz respeito ao diagnóstico pré-natal, julgo que a evolução (diria tentação) previsível no curto/médio prazo, é a de conseguir analisar mais e mais doenças do bebé através do sangue da mãe, isto é, não apenas trissomias, mas todas as alterações cromossómicas e outras doenças não associadas a anomalias dos cromossomas.

No âmbito do diagnóstico genético, de uma forma geral e não apenas no diagnóstico pré-natal, admito que a tendência seja a de permitir a análise de mais e mais genes, de uma forma mais rápida e barata do que é possível hoje.


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