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Tirar doentes das instituições exige cuidado

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Tirar doentes das instituições exige cuidado

Patt Franciosi, da Federação Mundial de Saúde Mental,assume luta pela igualdade entre doença mental e física


IVETE CARNEIRO

Tirar pessoas com doença mental dos hospitais e integrá-los na comunidade é o caminho certo. Mas tem que ser cuidadoso para não resultar em abandono. "Só funciona se os serviços comunitários estiverem preparados para isso".

Patt Franciosi é a mentora do Dia Mundial de Saúde Mental, que se assinala a 10 de Outubro. Americana, não tem papas na língua. E insta Portugal - que prepara uma nova abordagem da doença mental centrada na comunidade - a "olhar atentamente para o exemplo de outro países". A começar pelo dela.

"Os EUA iniciaram o programa de desinstitucionalização de pessoas com doença mental nos anos 1970. Na altura, prometeu-se que o dinheiro gasto nos hospitais iria para os serviços na comunidade. Isso não aconteceu. E ficámos com o sério problema dos sem-abrigo com doença mental, a dormir nas ruas, a acabar presos". E, para lá de dinheiro, são precisos técnicos. Mas, antes disso, é preciso que os governos olhem a saúde mental como olham a saúde física.

A vice-presidente da Federação Mundial da Saúde Mental passou recentemente por Portugal, para ver com os próprios olhos o trabalho de uma associação - a Encontrar-se - que tem lutado contra o estigma e a discriminação de que são alvo as pessoas com doença mental. E que são o maior obstáculo à descoberta dos apoios de que necessitam.

Fazer do tema uma "prioridade através da acção cívica" é justamente o lema do Dia Mundial da Saúde Mental. E Patt Franciosi explica muito sucintamente porquê: calcula-se que uma em cada quatro pessoas no Mundo sofra, em algum momento da vida, de alguma perturbação mental. E a depressão é já a sexta causa de incapacidade no planeta. "Em 2020, será a segunda".

A necessidade de os governos olharem para estes problemas - que redundam em perda de produtividade e em isolamento social - e alocarem recursos é a mensagem de Patt Franciosi, segundo a qual o investimento público continua "muito pequeno face às necessidades". Porque se há doentes graves, há pessoas que, "com cuidados adequados e tratamento, conseguem recuperar dos sintomas" e reconquistar "padrões normais de qualidade de vida". Pessoas que sofrem de depressão, bipolaridade, esquizofrenia, perturbações de ansiedade.

"Só quando a saúde mental for tratada da mesma forma que a saúde física saberemos que atingimos o nosso objectivo". E isso implica tratamento e cuidados continuados. Como quando se parte uma perna e se segue para a fisioterapia. E se os EUA são um mau exemplo, por terem tudo nas mãos de seguros de saúde que se furtam a cobrir a doença mental, os países escandinavos, diz, são casos a seguir. Portugal, diz a dirigente, "pode ser um modelo. Porque é um país pequeno, homogéneo, onde é fácil implementar o plano de cuidados de saúde mental certo".

"Sem psicólogos e psicoterapeutas no SNS, pergunto como vamos caminhar para cuidados na comunidade". É Filipa Palha, presidente da Encontrar-se, que intervém. Psicóloga clínica, lembra que 30% dos portugueses sofrem de perturbações psiquiátricas - 12% são casos graves - e alerta para o facto de a psicoterapia dever obrigatoriamente acompanhar a farmacologia nos tratamentos: "É urgente criar serviços para responder às necessidades desde o princípio". "Dar só medicação é pôr um penso rápido numa ferida ainda infectada", ilustraria Patt Franciosi.

No que toca à progressiva extinção de hospitais psiquiátricos, Patt Franciosi alerta para a desumanidade de tirar gente de sítios que foram a sua casa ao longo de décadas.

"Precisam de continuidade no tratamento e de protecção". Uma análise deve ser feita caso a caso, porque alguns poderão mesmo não ter condições para ser desinstitucionalizados, alerta.


JN
 
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