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"Seria hipócrita se tentasse ser um músico árabe"

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"Seria hipócrita se tentasse ser um músico árabe"

TIAGO PEREIRA

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Entrevista. Rabih Abou-Khalil regressa a Portugal para dois concertos com o fadista Ricardo Ribeiro amanhã no CCB e domingo em São Martinho do Porto

Está em Portugal para dois concertos que cruzam a tradição árabe, o jazz, a composição clássica e o fado. Onde está a sua identidade entre tais referências?

Vou confessar-lhe um segredo: não sou um músico árabe. Seria hipócrita se o tentasse ser. Na verdade, não sinto ligação especial com qualquer cultura. É certo que a minha música surge de locais específicos. Mas apenas porque são as experiências que melhor conheço. Por exemplo, desde que gravei com o Ricardo [Ribeiro, um disco editado em Março deste ano], a língua portuguesa faz parte da minha criatividade.

Podemos então esperar por novas composições para versos em português?

Naturalmente. Aliás, nestes concertos poderei apresentar algumas surpresas, com canções novas com poesia de um Portugal muito rítmico. Sei que esta não é a forma mais politicamente correcta de fazer música mas esse é o meu objectivo.

O meio onde se move é preconceituoso?

Não. Mas as raízes árabes que me ensinaram aquilo que faço a nível instrumental poem ser. Como é, na sua generalidade, a cultura árabe. Existem algumas excepções mas mesmo Beirute já foi uma cidade diferente. Antes da guerra civil, era um centro atístico e criativo, hoje é um local que ainda está a renascer, como se tivesse estado adormecido, ignorante perante o resto do mundo. O impacto dos conflitos de 2006 ainda está muito presente.

As decisões políticas e as questões religiosas têm influência na realidade cultural do Médio-Oriente?

De um forma incrível. Naturalmente, as raízes e as tradições mais fortes são preservadas com muita intensidade. Mas, ao mesmo tempo, perde-se uma abertura que é fundamental para novas contaminações, para que a divulgação seja uma realidade. No entanto, já vivemos períodos mais complicados.

Mas a instabilidade em países como o Iraque ou o Afeganistão não são preocupantes?

Claro, mas a vontade das populações começou a mudar. O mundo árabe sofre de um mal complexo: a representatividade do poder nem sempre corresponde aos desejos reais das pessoas. Mas se durante décadas o silêncio foi a solução mais habitual, hoje a reacção pacífica começa a ser palpável.

Vive há 30 anos na Europa. A visão ocidental sobre o Médio-Oriente é verdadeira ou distorcida?

A Europa é um encontro de culturas e gentes, de vários países e diferentes continentes. Um povo que encara as diferenças como riqueza a preservar. Como em qualquer lugar do mundo, também aqui se registam algumas resistências à mudança, ao que é diferente ou menos previsível. Mas são situações pontuais, que, em muitos casos, desaparecem quando a cultura se manifesta. A música, em particular, tem o dom de unir geografias distantes como se estivéssemos perante a vizinhança quotidiana.

Está dividido entre Munique, na Alemanha, e o Sul de França. Na própria Europa também encontra grandes separações?

Não me parece. As grandes diferenças entre os países europeus encontram-se nas realidades económicas. Tudo o resto é vivido com um sentido de comunidade que torna as individualidades, sobretudo as culturais, mais-valias de enorme importância.

DN
 
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