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RecomendaÇÕes - Centro De ReabilitaÇÃo De Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian

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RECOMENDAÇÕES
CENTRO DE REABILITAÇÃO DE PARALISIA CEREBRAL CALOUSTE GULBENKIAN
biotecnologia.jpg

RECOMENDAÇÕES SOBRE INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA
NA CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL


Define-se Paralisia Cerebral como um conjunto amplo de situações
clinicas heterogéneas, caracterizada por uma perturbação permanente
mas não inalterável do controlo do movimento e/ou postura e da
função motora, devida a uma alteração/lesão/anomalia não progressiva
que afecta o cérebro imaturo e em desenvolvimento.

A deficiência motora é habitualmente a mais evidente, mas existem
frequentemente várias deficiências e incapacidades associadas,
nomeadamente: défice de visão ou audição; perturbações no
desenvolvimento da linguagem e comunicação; problemas perceptivos;
dificuldades de aprendizagem e défice cognitivo, podendo também
haver epilepsia. Na medida em que se trata de uma perturbação que afecta o cérebro
imaturo e em desenvolvimento, várias funções cerebrais podem ser
afectadas mas, também face ao facto da plasticidade cerebral ser maior na criança existe algum potencial de habilitação sendo sempre muito
importante a detecção e intervenção precoces com apoio e orientação
aos Pais para dar à criança e família todas as oportunidades do
desenvolvimento máximo das suas capacidades.
Não existe possibilidade de “cura” das lesões mas apenas apoio do
desenvolvimento das capacidades emergentes da criança.

No início a Paralisia Cerebral foi considerada principalmente como um
problema ortopédico, pois era diagnosticada tardiamente havendo já
deformidades e sendo por vezes as actuações desajustadas e pouco
eficazes.

As técnicas de fisioterapia eram também no início as usadas para
tratamento da poliomielite e portanto mais dirigidas à actividades dos
músculos para desenvolver a força muscular e evitar deformidades e,
portanto pouco eficazes visto que o nosso cérebro não controla a acção
de músculos isolados mas sim movimentos complexamente
organizados em padrões de movimentos ajustados às várias funções.
Assim, foram posteriormente desenvolvidas outras técnicas com base
em princípios neurofisiológicos quer de facilitação de padrões de
movimento e controlo postural, quer baseados em actividade
reflexogénea, quer ainda nos princípios da integração sensorial motora.
Apareceram também, técnicas mais ligadas à educação “Educação
conduzida com actividades de carácter repetitivo facilitadas” pela
verbalização através do ritmo e canções e pela actuação em grupo.

Todas as técnicas têm aspectos positivos e negativos, devendo ser
ajustadas a cada criança e, dependendo a sua aplicação da formação dos técnicos terapeutas e das características dos Serviços.

Estudo comparativo das várias técnicas não têm demonstrado
diferenças significativas nos resultados que estão dependentes mais do
potencial da criança e da colaboração familiar no desenvolvimento
máximo das suas capacidades.Salientamos a importância da intervenção precoce e continuada
baseada nos princípios do respeito pelo ritmo do desenvolvimento da
criança e de modo a facilitar-lhe todas as experiências de vida,
essenciais ao seu desenvolvimento, com o envolvimento dos Pais e
educadores em todo este processo.
A motivação e participação da criança são aspectos muito
importantes e, nos primeiros anos de vida é essencial o brincar no
desenvolvimento da criança.Estão portanto contra-indicadas na criança e constitui um atentado aos
seus direitos a prática de terapias intensivas e rígidas para controlo da
motricidade sem dar à criança o espaço e o tempo para o
desenvolvimento das suas próprias experiências.
São sobretudo condenáveis promessas de “cura” ou de capacidade de
andar ou falar através de “tratamentos intensivos” que não são
justificados, pois são desajustados ao desenvolvimento harmónio da
criança.

Estudos comparativos de Fisioterapia intensiva diária e intervenção 2 a
3 vezes por semana, não revelaram vantagens em relação aos
resultados esperados, sendo estes a longo prazo idênticos.

Nos primeiros anos a criança com problemas de desenvolvimento e
nomeadamente com Paralisia Cerebral não é fácil de avaliar e torna-se
difícil por vezes fazer uma previsão do seu futuro.

Será que vai andar? Será que vai falar?
São muitas vezes as perguntas dos Pais.
Só progressivamente as capacidades da criança se vão revelando e
desenvolvendo e perante a sua evolução podemos prever o seu futuro.

Contudo, em relação à motricidade, são realmente os primeiros anos de
vida que nos dão uma indicação relativa ao prognóstico e previsão da
capacidade de andar ou necessidade de usar cadeira de rodas.

A cadeira de rodas não é uma limitação, é uma ajuda para a
participação e desenvolvimento da criança, devendo ser usada a par do
treino da independência no andar.

Os novos conhecimentos a nível da intervenção na Paralisia Cerebral
são iguais em todo o mundo nos países mais desenvolvidos, mas
infelizmente há por vezes alguns profissionais ou Serviços que, por
interesse financeiro e/ou outros, prometem resultados impossíveis à
custa de despesas incomportáveis para os Pais e esforço desajustado
para a criança com atentado aos seus direitos como criança.

Muitas situações evoluem para melhor mesmo sem estas medidas mais
invasivas e outras não têm qualquer benefício, havendo sempre os
prejuízos dos gastos incomportáveis e da violação dos direitos da
criança.Os Pais das crianças com deficiência são mais vulneráveis a promessas
enganadoras que são muitas vezes divulgadas por entidades sem
conhecimentos científicos.Não criticamos os Pais pois se lhe prometem “cura” ou grande
melhoria funcional, tais como: “vir a andar” ou “a falar”, vão atrás
dessa esperança.

É no entanto de criticar o aproveitamento da situação de deficiência
para promessas de êxitos que nem sempre são atingidos e que levam as
famílias a maior perturbação e desajustamento face à situação, já de si difícil.

Na nossa opinião são condenáveis notícias jornalísticas sem bases
científicas credíveis e promessas de resultados que são impossíveis de
prever, pois dependem essencialmente de características específicas de
cada situação e não de programas intensivos de reabilitação
(essencialmente fisioterapia) de cerca de oito horas diárias.

Fonte:Semanário da CNOD nº 32/2008
 
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