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Raymond Roussel, autor desconhecido mas crucial no século 20

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Raymond Roussel, autor desconhecido mas crucial no século 20

Serralves abre hoje uma exposição sobre Raymond Roussel, um escritor que pode ser um nome praticamente desconhecido da generalidade das pessoas mas que, na opinião de João Fernandes, «influenciou uma plêiade de artistas ao longo de um século».

Para se ter uma ideia, basta pensar que Marcel Duchamp ou Salvador Dalí, com obras que integram esta exposição, são dois dos nomes que terão recebido influências fundamentais dos livros de Raymond Roussel, que tem um papel determinante no surrealismo.

Duchamp sempre admitiu que fez a sua obra A noiva despida pelos seus celibatários influenciado pela representação teatral de Impressões de África, e Dali, que chegou a transpor para as suas telas pressupostos das obras de Roussel, tinha na mesa-de-cabeceira do seu leito de morte Locus Solus, a outra obra essencial do francês.

Locus Solus é o título escolhido para esta exposição, que é uma co-produção do Museu de Serralves e do Museu Rainha Sofia, patente até 1 de Julho e que integra livros, filmes pinturas e esculturas, para, nas palavras de João Fernandes, director do museu e um dos comissários da exposição, «interrogar de uma maneira diferente a história da arte do século 20, confrontando-a com a obra deste escritor».

O trabalho em torno de Raymond Roussel (1877-1933) era como um hobby para João Fernandes que, ao longo dos anos foi coleccionando referências sobre «esta história secreta» até que o Museu Rainha Sofia mostrou interesse em avançar com uma exposição.

«Pegar uma história que eu achava fascinante e que só contava em conversas de amigos e poder torná-la publica e materializa-la numa exposição é sem dúvida extraordinário, e, por outro lado, agrada-me a ideia de tornar popular (em Madrid foi extraordinariamente visitada e considerada uma exposição do ano no Rainha Sofia) um assunto que não é popular» afirmou à Lusa João Fernandes.

«Por outro lado», acrescentou, «é uma boa definição do que deve fazer um museu contemporâneo: não se deixar aprisionar pela lógica de mostrar aquilo que já se conhece e mostrar o que não se conhece porque isso também pode despertar a curiosidade das pessoas».

Para François Piron, o outro comissário, «esta exposição tenta navegar numa história paralela da arte ao longo do século XX, já que Raymound Roussel nunca fez parte da academia ou da história oficial de arte». O que valeu foi «o boca-a-boca que o leva de artista para artista, R e é realmente fascinante procurar e registar a forma como ele pode ‘aparecer’, num local ou noutro, como o podemos ver ‘aparecer’ em Buenos Aires nos 50 ou em Itália nos anos 60»…

Para além de Duchamp ou Dali, é possível ver na exposição aproximadamente trezentas peças em que se encontram obras de André Breton, Micchel Foucault, Man Ray, Henri Rousseau, Giorgio Chirico, Pedro Morais, Francis Picabia, Julio Cortazar até peças etnográficas africanas, nomeadamente um dente de marfim oferecido a Marcelo Caetano.

Não se pense que Raymond Roussel se assumia como um vanguardista, já que, segundo João Fernandes, «ele era um autor extremamente conservador em termos sociais e ideológicos, mas conseguiu ser uma fonte de inspiração para os artistas mais vanguardistas e revolucionários da sua época de quem mantinha distância».

O seu sonho era ser o Vítor Hugo da sua geração, era ser tão popular como Júlio Verne, só que a sua fantástica imaginação acabaria por levá-lo por um caminho que influenciar a arte do século 20, nas muitas maneiras que se podem descobrir nesta exposição, a primeira grande mostra internacional sobre este escritor.

Lusa/SOL
 
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