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Porto: abraço ao Teatro Nacional São João

florindo

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Profissionais das artes, públicos e até funcionários do Teatro Nacional de São João, no Porto, são esperados hoje no "abraço ao teatro". A iniciativa está marcada para as 13 horas e pretende, entre outras coisas, ser um protesto contra a perda de autonomia da estrutura.


Ainda que sejam muitos os considerandos e que se diga, em jeito de lema, que a iniciativa é por todo o teatro e por uma ideia de cidadania, a verdade é que o abraço significa, acima de tudo, um protesto contra a intenção do Governo de incluir o Teatro Nacional de São João (TNSJ) no Organismo de Produção Artística (OPART), em Lisboa. Os manifestantes vão dar as mãos e circundar o emblemático edifício reconstruído pelo arquitecto José Marques da Silva.

Até de Lisboa se espera que chegue gente para a iniciativa "Um abraço pelo teatro",que tem sido largamente difundida pela Internet. É o caso, por exemplo, de João Reis, um dos artistas mais convidados para as produções da sala portuense.

"É um teatro que merece todos os abraços do Mundo", começou por dizer ao JN. Considerando como "má" a pretensão do Governo, o actor disse ainda que se trata de um teatro que, "a nível nacional, se tem projectado de forma ímpar", além de "acolher muitas companhias que, de outra forma, não teriam oportunidade de apresentar o seu trabalho".

"Se estiver livre, estarei lá com certeza", disse-nos, por seu turno, o actor Albano Jerónimo. Na sua opinião, a inclusão do TNSJ no OPART vai levar a uma "descaracterização artística"."Existe um "modus operandi" de cada estrutura que se vai perder, que se vai esfumar", acrescentou. Também Fernando Mora Ramos confirmou ao JN a sua presença no abraço. O encenador e director do Teatro da Rainha considera a medida, prevista no Orçamento do Estado, como "uma coisa burra, que não se consegue entender nem sequer na lógica do corte".

Funcionário do TNSJ, José Luís Ferreira é um dos vários porta-vozes da iniciativa de hoje, que nasceu, segundo disse ao JN, por acção de profissionais das artes e de grupos de cidadãos, visando chamar a atenção para o "desinvestimento na cultura" e, em particular, para a situação do TNSJ. Apontando para a "necessidade de diálogo", José Luís Ferreira acrescentou ser "difícil falar de autonomia artística quando não há autonomia de gestão".

Somam-se as críticas, apesar das garantias oficiais. A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas,voltou a dizer, ontem, que colocar os teatros nacionais sob a alçada do OPART é a "única forma" de conseguir mais verbas para a programação.

Também ontem, o Bloco de Esquerda viu ser chumbada no Parlamento a sua proposta sobre esta matéria, que previa a manutenção da autonomia dos teatros nacionais. E os vereadores socialistas na Câmara do Porto apresentaram uma moção em que manifestavam repúdio pela medida do Governo. Por sugestão do presidente, Rui Rio, que primeiro quer esclarecer algumas dúvidas, aceitaram retirar o documento e voltar a apresentá-lo dentro de duas semanas.

JN
 

florindo

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Porto deu um abraço colectivo ao Teatro Nacional São João

Sob o lema "É nosso", o Teatro Nacional São João, no Porto, foi hoje, quarta-feira, envolvido num abraço colectivo de mais de um milhar de pessoas, em protesto pela integração da instituição na estrutura da OPART.

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Mário Laginha, ao centro, aplaude iniciativa

Todos quiseram estar presentes no abraço pelo teatro: anónimos curiosos, elementos da equipa dos bastidores do São João, personalidades destacadas da vida cultural portuguesa (desde João Reis a Manuela Azevedo), representantes das outras instituições da cidade, como a Casa da Música, ou directores artísticos de festivais ou companhias teatrais.

À frente do teatro nacional, tapado por andaimes que teimam em não desaparecer enquanto a fachada não tiver sido alvo de obras, crianças e idosos, pais e filhos, artistas e não artistas, gritaram em uníssono "O Porto não se vende" e pediram a demissão da ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas.

A recusa em "ceder" à tentativa de centralização da instituição portuense que, caso se funda na OPART, passará a ser gerida a partir de Lisboa e perderá a sua autonomia, uniu cerca de 1200 pessoas num apelo colectivo, na tentativa de demover o Ministério da Cultura.

"Pensar que este corpo perfeito, que tem uma cabeça que pensa bem, em que todos os membros funcionam ao mais ínfimo sinal, de repente vai ser desmembrado, com a cabeça a ir calhar não sei onde, com membros desse corpo a ser amputados com os cortes que se anunciam... E tudo isto para quê?", questionou Manuela Azevedo.

A vocalista dos Clã, fã confessa do TNSJ, referiu que esta medida representa um retrocesso de décadas na cultura em Portugal, considerando que, com a integração na OPART, vai ser criado um "monstro".

"A fusão pode abalar aquilo que o TNSJ, com a sua ambição de fazer muito pela vida cultural do Porto, muito pela vida cultural do país e por ter a ambição de sair fora de portas, conseguiu", disse ainda.

Para Manuela Azevedo, todo o trabalho e ambição que o teatro portuense tem, de repente, pode ser perdida. "E isso também é perder dinheiro, é perder valor", acrescentou.

Mário Laginha, em cena no TNSJ com o espectáculo "Sombras", defendeu que a instituição tem feito um trabalho ímpar na cidade ao longo dos anos.

"Percebo que estamos todos em crise, mas que o São João perca autonomia... ele não merece isso, por tudo o que fez e o que tem feito e aquilo que tem ainda para nos dar", disse.

O músico acredita que está em causa "uma morte artística de autonomia": "O São João é do Porto, pertence ao Porto".

No entanto, apesar do número surpreendente de pessoas que aderiram ao movimento "Um abraço pelo teatro" (eram esperadas 200 manifestantes), foi notória a ausência do conselho de administração da instituição, assim como do seu director artístico, Nuno Carinhas.

O dia de greve geral no Porto foi o dia do abraço colectivo de uma cidade a uma das instituições que faz parte do seu bilhete de identidade: o Teatro Nacional São João fez-se hoje ouvir, com uma dupla corrente humana a envolver o edifício, naquele que foi o maior movimento de cidadania da história do teatro.

JN
 
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