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Polícia Civil do RJ precisa arrumar seu próprio quarto antes de tentar mudar o mundo

Roter.Teufel

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Polícia Civil do RJ precisa arrumar seu próprio quarto antes de tentar mudar o mundo

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Na quinta, a PF prendeu quatro policiais civis por tráfico de 16t de maconha; na sexta, mais quatro agentes, inclusive um delegado, foram afastados por desvio de 280kg de cocaína

"Antes de tentar arrumar o mundo, tente arrumar seu próprio quarto". O trecho atribuído ao jornalista norte-americano Charlie Sykes, ex-apresentador de um talk show conservador no estado de Wisconsin, retrata a situação atual da Polícia Civil do Rio de Janeiro. A "faxina", no caso, é uma analogia ao combate ao crime.

Como combater o tráfico de drogas nas favelas e asfalto, por exemplo, se parte da própria força de segurança do estado, que deveria zelar por seus cidadãos, também se corrompeu ao dinheiro fácil?

Ao longo desta semana, duas notícias amplamente divulgadas alarmaram a opinião pública:

Quinta-feira (19)

A Polícia Federal (PF), em ação conjunta com o Ministério Público (MPRJ), deflagrou a Operação Drake, que culminou na PRISÃO de quatro policiais civis, então lotados na Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DPRC), em plena Cidade da Polícia, na Zona Norte da capital, por suspeita de TRÁFICO DE DROGAS. Junto com os agentes, foi preso também um advogado - representante da maior facção criminosa do Rio - que se acomunou com os agentes da lei.

De acordo com a investigação, duas viaturas ostensivas da DRFC abordaram um caminhão com 16 toneladas de maconha na divisa entre São Paulo e Rio de Janeiro. Após escoltarem o cargueiro até a delegacia, o quarteto de supostos criminosos - aqui não falo do motorista ou possíveis comparsas que eventualmente estivessem no veículo com a droga apreendida - negociaram, por meio de um advogado, a liberação integral do entorpecente e a soltura do condutor, mediante ao pagamento de propina.

Segundo a denúncia do MPRJ, assim que o motorista foi abordado pelos policiais, ele comunicou ao chefe que estava sendo levado para a Cidade da Polícia, onde a negociação com o traficante aconteceu. Via telefone celular, sem qualquer cerimônia e produzindo provas contra si, os agentes (entre aspas) negociaram com o chefe do tráfico, que ofereceu R$ 300 mil - R$ 75 mil para cada - em troca da não realização do flagrante.

O chefão também pediu a liberação do veículo apreendido e a identificação do informante que teria delatado aos policiais o transporte das drogas, chamado de “X-9”. Em nota, a PF informou que a operação está sendo acompanhada pela corregedoria da Polícia Civil. O crime de corrupção também foi atribuído aos alvos.

Nesse caso, foram presos Alexandre Barbosa da Costa Amazonas, Eduardo Macedo de Carvalho, Juan Felipe Alves da Silva e Renan Macedo Villares Guimarães, que já estavam lotados em outras especializadas após uma troca de comando em setembro. Ao chegar na sede da PF, na praça Mauá, onde ficarão detidos provisoriamente, todos os quatros cobriam seus rostos. Resta saber se a vergonha é pelo crime em si ou por terem sido descobertos.

Sexta-feira (20)

A população carioca ainda assimilava a primeira notícia quando, nesta sexta-feira (21), mais um suposto caso de tráfico de drogas dentro da Polícia Civil ganhou os noticiários televisivos. Foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão em endereços ligados a três agentes e um delegado de Polícia Civil na capital fluminense e em Araruama, na Região dos Lagos.

A ação, nomeada "Déjà Vu", é um desdobramento da Operação Turfe, deflagrada em 15 de fevereiro de 2022 para desarticular uma organização criminosa (Orcrim) especializada no tráfico internacional de drogas. Na ocasião, policiais federais acompanhavam uma carga de cocaína que seria exportada - em um contêiner - possivelmente para a Antuérpia, na Bélgica.

Por meio do setor de inteligência, a PF tinha conhecimento da exata quantidade de substância contida no caminhão, 500 quilos, acondicionados em 17 malas, que seriam levados ao Porto do Rio de Janeiro por um integrante da Orcrim.

Em meio ao monitoramento da Federal, uma equipe da 25ª Delegacia de Polícia Civil (Engenho Novo) abordou, na saída da Comunidade da Maré, o caminhão que transportava a droga, e efetuou a prisão em flagrante do motorista. Todavia, os policiais civis apresentaram "somente" sete malas contendo 220kg de cocaína, apropriando-se das outras 10 que totalizavam 280kg do entorpecente.

Após a investigação patrimonial, a Polícia Federal conseguiu atestar que, além dos condutores da ocorrência, houve o envolvimento do delegado titular da unidade, Renato dos Santos Mariano, de um outro policial civil e da irmã de um dos policiais.

Além dos mandados de busca e apreensão, a Justiça Federal determinou que os policiais sejam afastados dos respectivos cargos, proibição de se ausentar da circunscrição, bem como a implementação de tornozeleira eletrônica. Por fim, fora determinado ainda o sequestro patrimonial de quantia equivalente a R$ 5 milhões de reais.

Polêmica bônus

Em cima do prejuízo à imagem da polícia, o governador Cláudio Castro (PL) nomeou, na quinta-feira, o comentarista do SBT e "policial influencer", Marcus Amim, à Secretaria de Polícia Civil. Amim estava na presidência do Detran-RJ há menos de três meses. Saiu de lá e assumiu o posto do delegado José Renato Torres, que estava há menos de um mês no cargo.

Torres pediu exoneração após saber – pela imprensa – das decisões sobre seu futuro. Em seu discurso de despedida, disse que “a polícia está rachada“. A nomeação de Torres ocorreu contra a vontade de boa parte dos deputados. Já Amim tem o apoio dos parlamentares aliados, especialmente de Marcio Canella, do União Brasil, e do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, do PL.

Para aprovar a posse do seu pupilo como secretário, Bacellar mudou a lei orgânica da Polícia Civil, onde era estabelecido que a corporação seja comandada por delegados que estejam há 15 anos na instituição. Isso não é pouca coisa. Amim está há 20 anos na polícia, mas entrou como inspetor e só tem 12 anos como delegado – ele não poderia ocupar esse cargo.

O sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro, o Sindepol, criticou a mudança na Lei Orgânica feita a toque de caixa e disse que “infelizmente, a prática corriqueira de interferências políticas diretas na escolha do chefe da Polícia Civil pelos mais diversos agentes externos se tornou tão banal e escancarada no Estado do Rio de Janeiro, que não causa mais sequer surpresa ou perplexidade à sociedade carioca”.


Jornal do Brasil
 
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