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Desde a mais remota antigüidade as mulheres procuravam posições que facilitassem o parto. Nas gravuras antigas o mais comum é ver mulheres ajoelhadas, de cócoras, ou em banquinhos baixos de parto. De um jeito ou de outro o que se observa é que as costas estão em posição vertical. A posição das pernas é variável.
Também é muito comum ver nessas figuras alguém dando suporte por trás, segurando a parturiente por baixo dos braços. Às vezes é um homem, em outras é uma mulher. Até hoje, nas comundades nativas (índios brasileiros, por exemplo) o parto ainda acontece dessa forma.
É claro que estamos falando aqui do parto em si, e não do trabalho de parto, que pode durar horas e até dias. A posição de cócoras é vantajosa durante o período expulsivo, que dura de alguns minutos a uma hora, na maioria dos casos. Durante todo o trabalho de parto a mulher deve ficar em poses variadas, sentada, ajoelhada, andando, etc.
Na civilização ocidental, com a entrada da figura do obstetra no parto, as mulheres foram colocadas deitadas de costas em mesas cada vez mais específicas, com as pernas abertas, para que a região genital pudesse ser bem observada. E assim é que funciona até hoje, para a maioria dos médicos e hospitais.
Por outro lado vários artigos já foram publicados enumerando as vantagens do parto verticalizado em relação à posição de litotomia (deitada de costas).
Entre as vantagens podemos citar algumas:
- O parto é mais rápido, pois é auxiliado pela gravidade;
- A oxigenação do bebê é melhor, pois não ocorre a compressão da veia cava pelo peso do útero;
- A necessidade de episiotomia é menor;
- A mulher se sente mais no controle da situação;
- O companheiro tem uma participação mais ativa ao prover o suporte da posição
A desvantagem é que os médicos não conseguem controlar o parto da forma como foram ensinados.
Pensando nisso foi criada uma cadeira para parto de cócoras, onde a mulher fica em uma altura suficiente para que o obstetra fique com um bom campo visual. No entanto, um fenômeno curioso tem ocorrido. Alguns hospitais que adquiriram a cadeira alegam que há pouca procura e que elas foram "encostadas". Muitos obstetras afirmam que não fazem parto de cócoras porque não têm a cadeira especial à diposição.
A realidade é que não há necessidade de cadeiras especiais para se fazer um parto de cócoras. Basta que a mulher suba na cama comum, ajoelhada entre as contrações e acocorada na hora das contrações, apoiando-se de um lado no companheiro, do outro em uma enfermeira ou auxiliar. Também é possível para o companheiro ficar sentado sobre a banqueta que fica ao lado da cama, enquanto a parturiente se acocora e se apoie nas pernas abertas do companheiro, de costas para ele.
Enfim, um pouco de boa vontade, criatividade e confiança no instinto da mulher são suficientes para se fazer um parto de cócoras em qualquer ambiente, hospitalar ou não. Muitas vezes a presença da doula pode ser uma fonte de inspiração e sugestões para um médico que há muito tempo não presencia um parto natural. Para eles é difícil fugir dos protocolos que imperam na instituição, mas depois que o fazem, ficam surpresos com os resultados e muitas vezes emocionados.
Com relação à preparação, não há necessidade de ser uma atleta ou uma índia para parir de cócoras. O hábito de se agachar durante a gestação, ou mesmo ficar alguns minutos de cócoras diariamente, por exemplo na hora da TV, já é o suficiente. Mas mesmo uma mulher sem essa preperação, que não costuma ficar acocorada, pode perfeitamente ficar alguns minutos nessa posição durante as contrações do período expulsivo.
No entanto a posição melhor para o parto não é a de cócoras, deitada, de quatro ou de joelhos. A melhor posição é aquela que a mulher escolhe, por se sentir melhor e mais no controle de seu processo de parto. Esse deveria ser o objetivo da obstetrícia e da boa assistência ao parto: oferecer um ambiente de parto onde a mulher possa se concentrar naquilo que seu corpo pede.
Ana Cris Duarte
Amigas do Parto