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Opinião enfurece fundação europeia que avaliou ciência portuguesa para a FCT

kokas

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Set 27, 2006
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Responsável da European Science Foundation, que organizou a avaliação dos centros de investigação portugueses a pedido da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, ameaçou processar a autora de um artigo de opinião que menciona “falhas” nesse processo. O alvo é a cientista Amaya Moro-Martín, conhecida por ter escrito uma carta a Mariano Rajoy a despedir-se do seu país.


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Uma referência ao processo de avaliação dos centros de investigação em Portugal, num artigo de opinião na revista Nature, está a desencadear uma “tempestade” que extravasou as fronteiras portuguesas. Tudo começou quando a autora do artigo, a astrofísica espanhola Amaya Moro-Martín, escreveu que o processo de avaliação, apoiado pela European Science Foundation (ESF), tinha “falhas”. Um responsável da ESF enviou-lhe um email a dizer que, se ela não retractasse publicamente essa afirmação, a fundação europeia iria avançar com um processo legal contra ela.

Publicado na edição da semana passada da Nature, o artigo intitulado Um apelo àqueles que se preocupam com a ciência na Europa dedica uma única frase à situação da ciência e dos cientistas em Portugal: “Já debilitada com cortes de 50% nos orçamentos das universidades e centros de investigação, Portugal pode agora ter de fechar metade das suas unidades de investigação, devido a um processo de avaliação com falhas apoiado pela European Science Foundation.”
Amaya Moro-Martín está a referir-se ao processo de avaliação em curso de 322 centros de investigação, que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), a principal financiadora pública da investigação portuguesa, encomendou à ESF (com sede em Estrasburgo, França), mediante um contrato.
Na primeira fase da avaliação, incluindo já os resultados das reclamações apresentadas pelos centros avaliados, quase metade deles ficou eliminada, tal como estava previamente estabelecido no contrato. Assim, ficaram para trás 144 centros (44,7%), que nenhum ou pouco dinheiro vão receber para despesas de funcionamento nos próximos cinco anos, e passaram à segunda fase da avaliação 178 (55,2%). O processo tem provocado polémica em Portugal desde que, no final de Junho, a FCT divulgou os primeiros resultados e, pouco depois, revelou o conteúdo do contrato com a ESF, ficando-se a saber da existência de uma quota a priori para eliminar 50% dos centros.
O que dizia o email
Mas a ESF não gostou de ver essa frase de Amaya Moro-Martín sobre a avaliação portuguesa numa revista científica de difusão mundial, e Jean-Claude Worms, responsável do Gabinete de Apoio à Ciência da fundação, reagiu. “A ESF vem pedir que se retracte da seguinte alegação na sua peça de opinião publicada a 8 de Outubro na Nature”, escreveu-lhe Jean-Claude Worms, referindo-se à frase já mencionada. “A ESF refuta qualquer alegação de falhas no processo e considera caluniosa a declaração citada, uma vez que o trabalho realizado no quadro da avaliação pela FCT das unidades de investigação seguiu as melhores práticas internacionais”, acrescentava. “Se a sua alegação não for retractada publicamente na Nature, a ESF será obrigada a tomar as acções legais apropriadas.”

Jean-Claude Worms mostrava, aliás, estar bem informado sobre a avaliação a nível interno, visto referir a denúncia feita em Setembro pelo Sindicato Nacional do Ensino Superior (de diversas ilegalidades) ao Ministério Público português. “Tal como deve saber, o sindicato nacional português para o ensino superior apresentou formalmente uma acção legal contra o processo de avaliação, que ainda não tem uma conclusão”, dizia Jean-Claude Worms no email, que a própria Amaya Moro-Martín confirmou ao PÚBLICO ter recebido.
A partir daqui, as reacções de apoio a Amaya Moro-Martín, por um lado, e de crítica à ESF e à FCT, por outro, foram aumentando. O físico Carlos Fiolhais, que tem contestado duramente a forma como este processo de avaliação tem decorrido, escreveu um post no blogue De Rerum Natura, de que é um dos fundadores, com o título Artigo na Nature aponta o dedo à avaliação defeituosa da ESF/FCT em Portugal. Também aí a frase já referida era destacada.
Acontece que entre os comentários ao post de Carlos Fiolhais encontrava-se um da socióloga portuguesa Rosário Mauritti, do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do ISCTE, em Lisboa, no qual tornava público o email de Jean-Claude Worms. Rosário Mauritti tinha-o recebido da própria Amaya Moro-Martín.
Tanto a astrofísica espanhola como a socióloga portuguesa estão, respectivamente em primeiro e terceiro lugar, na lista dos nove investigadores de vários países europeus que lançaram uma carta aberta sobre a ciência na Europa, publicada em vários jornais europeus, incluindo o PÚBLICO. Essa carta — Eles escolheram a ignorância, que pode ser assinada em openletter.euroscience.org desde 8 de Outubro — criticava as políticas europeias em geral de desinvestimento público na ciência.
Até ao final do dia desta quarta-feira (ontem), a carta aberta tinha sido assinada por mais de 10.000 cientistas de vários países — de Portugal ultrapassavam os 1150. Além de Carlos Fiolhais, entre os signatários está a imunologista Maria de Sousa, o biólogo Alexandre Quintanilha ou os sociólogos António Firmino da Costa e Karin Wall.




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