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O desaparecimento do saltimbanco das letras

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O desaparecimento do saltimbanco das letras

Poeta, declamador e actor, Joaquim Castro Caldas faleceu,este Domingo, no Porto, vítima de doença prolongada. Mais do que os livros de poesia publicados, fica a tremenda devoção que nutria pela palavra.

Gostava de definir-se como "um saltimbanco das letras", alguém que confessava sem problemas que "no dia em que deixar de dizer poesia, morro". Não era simples retórica - o desprendimento e a aversão ao materialismo eram uma constante na vida de Joaquim Castro Caldas, nascido em Lisboa, mas estabelecido no Porto desde o final da década de 80.

Em entrevista concedida ao "Jornal de Notícias" em 2003, a propósito do lançamento do seu livro de poesia "Só cá vim ver o sol", recusava a ideia do cansaço, apesar das três décadas ao serviço de actividade cultural nas suas múltiplas variantes. "Cheguei a uma idade em que, além de sentir que tenho de dar lugar a outros, a escrita torna-se mais importante do que a fala. A minha função é divulgar, da forma que posso, a utilidade da língua, o prazer da língua", adiantou, ao mesmo tempo que se manifestava entusiasmado com as regulares visitas a estabelecimentos de ensino, durante as quais procurava incutir nos jovens o gosto pela literatura.

Durante sete anos, Castro Caldas dinamizou as conhecidas noites de poesia, às segundas-feiras no café Pinguim, no Porto, construindo um estatuto de culto tal em redor dessas sessões que fez com que o conceito se disseminasse através de vários outros locais, desde espaços de diversão nocturna a teatros.

Como autor de poesia, publicou 11 livros, separados por mais de duas décadas. Irregularidade que atribuía à sua ausência de disciplina ("sou muito intuitivo e repentista: não passo horas em frente ao computador à espera de uma frase..."). O livro mais recente foi publicado pela Deriva já este ano e intitula-se "A mágoa das pedras".

Igualmente marcante foi sua colaboração, como redactor principal, no extinto guia da cidade "Metro". Ao longo de nove anos, de 1987 a 1996, contribuiu, com a sua prosa acutilante, para fazer desta publicação gratuita de divulgação cultural uma referência devido à criatividade e ousadia.

O corpo do poeta segue hoje para a igreja de Santa Isabel, em Lisboa, local escolhido para a missa de corpo presente. O velório realiza-se a partir das 21 horas, na capela mortuária da igreja do Bonfim, no Porto.

O funeral, antecedido de missa de corpo presente, está marcado para amanhã, às 9.30 horas, no Cemitério do Prado de Repouso, onde será cremado.


SÉRGIO ALMEIDA
JN
 
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