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O autor que confundem com a própria criação
LUÍS FILIPE RODRIGUES
Culto. Na primeira metade da década de 1960, José Mojica Marins afirmou-se como o principal precursor do terror enquanto linguagem cinematográfica no Brasil. Hoje, é considerado um dos mestres do género e o seu Zé do Caixão é um ícone da cultura 'pop'.
O realizador afirma que é "completamente diferente" da personagem que interpreta
José Mojica Marins confunde-se muitas vezes com o Zé do Caixão, a personagem que criou em 1963. Desde que o sinistro coveiro lhe "apareceu num pesadelo", na noite de 11 de Outubro de 1963, até este se ter tornado um autêntico símbolo do folclore brasileiro, bem como um ícone da cultura popular, que os americanos conhecem como Coffin Joe, vai um longo percurso, marcado por sucessos comerciais, mortes e combates contra a censura. Nos anos 60, o regime brasileiro chegou a obrigar o realizador a alterar o final de um dos seus filmes.
Tendo em conta a notoriedade que esta personagem conquistou, é normal que muitas pessoas não consigam separar o autor do seu alter-ego, apesar de os dois terem pouco em comum. "Somos completamente diferentes um do outro", declara com veemência. "Eu tenho sete filhos, 11 netos, casei sete vezes. O Zé do Caixão não tem um único filho", lembra. "Se uma mosca ou um mosquito estiverem a voar no quarto eu não consigo sequer dormir. O Zé do Caixão até ao lado de aranhas e cobras dorme. Não tem quaisquer problemas."
O mesmo ocorre ao nível da relação de ambos com a religião. Enquanto o coveiro anuncia a sua descrença e renuncia aos valores cristãos, acreditando apenas na "liberdade total " das pessoas, José Mojica Marins é católico, apesar não ser praticante. De resto, a barba que, juntamente com as enormes unhas, é uma das suas imagens de marca, reflecte essa mesma crença. "Os meus cunhados fizeram uma promessa", explica. "Só que em vez de serem eles a deixar [crescer] a barba, prometeram que eu o faria".
O criador não compreende, por isso, os rótulos que muitas vezes lhe são colados. "Eu nem sabia quem era Nietzche", refere. "Tal como não sabia quem era Dante Alighieri, que eu pensava ser um director de cinema. Depois li A Divina Comedia e fiquei a saber quem ele era. Não sabia quem era Buñuel. Depois fui assistir às fitas."
Estes pormenores ajudam a compreender melhor o universo criado por Mojica Marins, que poderá ser revisitado amanhã, pelas 19.00, na Masterclass Zé do Caixão promovida pelo MOTELx. A entrada é gratuita, apesar de limitada aos lugares existentes. Uma oportunidade única de ouvir, na primeira pessoa, um realizador que já foi homenageado em festivais de renome internacional, como são os casos de Veneza ou de Sundance.
DN
LUÍS FILIPE RODRIGUES
Culto. Na primeira metade da década de 1960, José Mojica Marins afirmou-se como o principal precursor do terror enquanto linguagem cinematográfica no Brasil. Hoje, é considerado um dos mestres do género e o seu Zé do Caixão é um ícone da cultura 'pop'.
O realizador afirma que é "completamente diferente" da personagem que interpreta
José Mojica Marins confunde-se muitas vezes com o Zé do Caixão, a personagem que criou em 1963. Desde que o sinistro coveiro lhe "apareceu num pesadelo", na noite de 11 de Outubro de 1963, até este se ter tornado um autêntico símbolo do folclore brasileiro, bem como um ícone da cultura popular, que os americanos conhecem como Coffin Joe, vai um longo percurso, marcado por sucessos comerciais, mortes e combates contra a censura. Nos anos 60, o regime brasileiro chegou a obrigar o realizador a alterar o final de um dos seus filmes.
Tendo em conta a notoriedade que esta personagem conquistou, é normal que muitas pessoas não consigam separar o autor do seu alter-ego, apesar de os dois terem pouco em comum. "Somos completamente diferentes um do outro", declara com veemência. "Eu tenho sete filhos, 11 netos, casei sete vezes. O Zé do Caixão não tem um único filho", lembra. "Se uma mosca ou um mosquito estiverem a voar no quarto eu não consigo sequer dormir. O Zé do Caixão até ao lado de aranhas e cobras dorme. Não tem quaisquer problemas."
O mesmo ocorre ao nível da relação de ambos com a religião. Enquanto o coveiro anuncia a sua descrença e renuncia aos valores cristãos, acreditando apenas na "liberdade total " das pessoas, José Mojica Marins é católico, apesar não ser praticante. De resto, a barba que, juntamente com as enormes unhas, é uma das suas imagens de marca, reflecte essa mesma crença. "Os meus cunhados fizeram uma promessa", explica. "Só que em vez de serem eles a deixar [crescer] a barba, prometeram que eu o faria".
O criador não compreende, por isso, os rótulos que muitas vezes lhe são colados. "Eu nem sabia quem era Nietzche", refere. "Tal como não sabia quem era Dante Alighieri, que eu pensava ser um director de cinema. Depois li A Divina Comedia e fiquei a saber quem ele era. Não sabia quem era Buñuel. Depois fui assistir às fitas."
Estes pormenores ajudam a compreender melhor o universo criado por Mojica Marins, que poderá ser revisitado amanhã, pelas 19.00, na Masterclass Zé do Caixão promovida pelo MOTELx. A entrada é gratuita, apesar de limitada aos lugares existentes. Uma oportunidade única de ouvir, na primeira pessoa, um realizador que já foi homenageado em festivais de renome internacional, como são os casos de Veneza ou de Sundance.
DN