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O arquitecto Eduardo Souto de Moura, distinguido com o Prémio Pritzker, considerado o Nobel da Arquitectura, mostrou-se surpreendido com a atribuição do galardão, afirmando que não o ganhou «por ser excepcional».
«Uma das coisas que Siza Vieira (o outro arquitecto português vencedor do Pritzker) diz é que a primeira condição para ganhar prémios é não pensar neles. E, portanto, eu nunca esperei ganhar o Pritzker», disse Souto de Moura ontem à noite, em conferência de imprensa, num hotel de Lisboa.
«Se mo deram a mim, não é por ser excepcional. Eu adivinho que, com a crise internacional, a crise económica, os arquitectos excepcionais não vão ter grande futuro, porque acabou um certo estrelato na arquitectura», disse.
Sublinhando tratar-se de uma interpretação sua, «porque o júri foi unânime» e não conhece lá «ninguém pessoalmente», o arquitecto considerou «que tem algum significado esta entrega a um arquitecto português».
«Porque é um prémio americano, que entregam à Europa, que entregam ao país mais marginal da Europa, e talvez ao menos vistoso dos arquitectos portugueses, talvez dos mais sóbrios, por uma questão de formação, que defende quase a arquitectura anónima - bem feita, mas quase anónima -, a arquitectura simples, objectiva e pouco narrativa», argumentou.
Sobre as consequências deste prémio, Souto de Moura observou: «Para mim, é muito bom, porque estava muito preocupado com a minha actividade de arquitecto [no atelier de Lisboa emprega 10 arquitectos e no do Porto 35]. Praticamente, só trabalho lá fora (.) e assim vai haver mais trabalho».
Mas frisou: «Onde eu gosto mais de construir é aqui em Portugal, constrói-se bem (.) mas por mais boa vontade que haja não há investimento público».
Em Portugal, o arquitecto gostaria de acabar as suas obras: «Está tudo parado por falta de verbas», observou.
E deu alguns exemplos, como o Centro Cultural de Viana do Castelo, o metro do Porto - que «é um sucesso em termos de público» mas que gostaria que tivesse «uma segunda fase» - e, por último, um convento em Tavira, também por concluir.
Sustentou ainda que o facto de ter sido um português a ganhar o Pritzker pode ser benéfico para «o futuro dos escritórios de arquitectura em Portugal», porque, neste momento, «não há emprego, está tudo a emigrar».
«Temos bons arquitectos e a chamada geração à rasca está mesmo à rasca, está mesmo a sair [do país]. E não há para onde ir. Neste momento, os únicos sítios para onde os arquitectos jovens e sem ser jovens - da minha idade, cinquenta e tal - estão a ir é para a Suíça, porque a Europa não está famosa, e para o Brasil», comentou.
Se tivesse de destacar só uma das suas obras, escolheria o estádio de Braga, porque foi feita «no momento certo, no sítio certo».
Quanto às características que definem o seu estilo, Souto de Moura diz que este «transporta as tradições da arquitectura».
«Eu não acredito em saltos epistemológicos nem em invenções. Aliás, a imaginação é uma coisa perigosa na arquitectura. Acho que é preciso trabalho e há uma evolução e a arquitectura tem de ter um sentido de continuidade, tem de pegar na tradição e usar os meios actuais para ser melhor», defendeu.
Lusa/ SOL