• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.

'Nunca conseguimos a realização total, só fazemos tentativas'

florindo

Administrator
Team GForum
Entrou
Out 11, 2006
Mensagens
39,007
Gostos Recebidos
366
ng1052174_435x200.jpg


Foi para uma plateia cheia e extremamente curiosa que a aclamada compositora russa Sofia Gubaidulina falou, ontem ao início da noite, sobre a sua constante necessidade de «liberdade de consciência» no acto de criação. Inserido no ciclo A Hora da Alma que o Centro Cultural de Belém (CCB) dedica, até amanhã, à artista, este encontro com o público português também permitiu testemunhar a intensidade com que a compositora fala da sua obra. A oito meses de completar

80 anos, Gubaidulina mostra ainda uma lucidez artística e intelectual invejável.

«O maior drama na minha vida na União Soviética foi a limitação da ditadura. Era tão asfixiante que afectava o meu fluxo criativo, o meu inconsciente. Por isso, a palavra mais actual para a minha geração era libertação. Parecia que a única coisa que tinha de atingir era a liberdade absoluta», disse Gubaidulina que chegou à sala Almada Negreiros, onde decorreu a palestra, acompanhada por António Mega Ferreira, director do CCB, Filipe Pinto-Ribeiro, director do festival, e António Pinto Vargas, que moderou o encontro.

Nascida na República Tártara, da ex-União Soviética, Sofia Gubaidulina revelou que só depois de se mudar para a Alemanha, em 1991, compreendeu que «só quem tinha uma boa educação cultural pensava obsessivamente na liberdade de consciência». «Para mim era muito estranho nem todas as camadas sociais terem cultura. Não compreendia isso porque não vivi assim. Por isso é que este tipo de eventos são muito importantes. Temos de ser nós a participar e manter a actividade cultural. Não podemos ficar à espera que nos venham oferecer», acrescentou.

Antes de se radicar na Alemanha, Gubaidulina viveu em Moscovo, onde compôs para cinema. «Foi um trabalho que fiz só para sobreviver, mas acabou por dar resultados muito positivos porque havia troca de ideias musicais muito ricas», mencionou. Da capital russa partiu para a Alemanha e foi então que obteve a tão desejada liberdade. «Foi uma prenda da vida. Podia usar todas as minhas forças».

Essa entrega total à composição é uma característica permanente em Gubaidulina, que a obriga a permanecer na cama durante dias seguidos depois de terminar cada acto de criação. «A minha alma fica cansada e tenho de descansar. É um trabalho muito longo e intenso e a seguir tenho de relaxar», confessou a compositora.

Sobre o seu processo de trabalho, a artista russa explicou que começa quase sempre por imaginar o fim da obra, «ao contrário do que é suposto fazer». «No início ouço um acorde, um fecho sonoro, que tem muitas tonalidades e às vezes até é visual. Só depois é que penso no que vêm antes e quando descubro toda a composição fica pronta. É uma coisa fantástica ter a imaginação a trabalhar», reforçou.

A par disto, Gubaidulina - que revelou um carácter bastante generoso com o público português, ao esclarecer de forma detalhada todas as dúvidas -, diz fazer parte do grupo de artistas «intuitivos». «Sou muito espontânea na recepção do cosmos e da natureza sem qualquer profundidade analítica. Tenho uma percepção muito directa da natureza», assegurou. No entanto, por mais intuitiva que seja, a compositora admite que a criação é sempre uma tentativa falhada de compor o que inicialmente se pensou fazer. «Nunca conseguimos a realizar total. Só fazemos tentativas».

SOL
 
Topo