• Olá Visitante, se gosta do forum e pretende contribuir com um donativo para auxiliar nos encargos financeiros inerentes ao alojamento desta plataforma, pode encontrar mais informações sobre os várias formas disponíveis para o fazer no seguinte tópico: leia mais... O seu contributo é importante! Obrigado.
Portal Chamar Táxi

Nova espécie de ave marinha descoberta nos Açores

xicca

GF Ouro
Membro Inactivo
Entrou
Abr 10, 2008
Mensagens
3,080
Gostos Recebidos
1

Às nove espécies de aves marinhas que nidificam nos Açores, veio agora juntar-se mais uma: o painho -de-monteiro. A descrição foi publicada há um mês na revista científica 'IBIS', por uma equipa internacional. A sua história vem já dos anos 90 e está ligada ao biólogo do qual ganhou o nome

Painho-de-monteiro tem o nome do seu descobridor

Se um trágico golpe do destino não tivesse travado abruptamente o curso da vida, talvez o painho-das-tempestades--de-monteiro (Oceanodroma monteiroi), uma ave endémica dos Açores que apenas há um mês foi reconhecida como tal, não tivesse Monteiro no nome.

Luís Rocha Monteiro, o jovem biólogo do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores (UA) que primeiro suspeitou, ainda nos anos 90, que aquela ave não era da mesma espécie que o painho-da--madeira (Oceanodroma castro), não teve, no entanto, oportunidade de o verificar. Morreu antes disso, a 11 de Dezembro de 1999, quando o avião da SATA em que seguia, de Ponta Delgada para a Horta, embateu no Pico da Esperança, na ilha de S. Jorge, vitimando os 35 ocupantes. Mas o trabalho para aquela caracterização já tinha sido lançado por ele.


310881.jpg


Em 1996 e em 1998, Luís Monteiro e os seus colaboradores publicaram, aliás, dois artigos científicos em que discutiam a possibilidade de aquela ser uma nova espécie, face às observações feitas. "Os amigos, às vezes, diziam-lhe: 'Então agora vais dar o teu nome à espécie.' Mas ele respondia que não. Não tinha esse objectivo", recorda Verónica Neves, também bióloga do DOP, que chegou a trabalhar com aquele investigador.

Concluído agora o estudo da ave marinha - a equipa foi coordenada por Mark Bolton, cientista do DOP e da Royal Society for the Protection of Birds, que tinha iniciado a pesquisa com Monteiro -, os investigadores tomaram a decisão. "Propomos assim o nome específico monteiroi, reconhecendo a grande contribuição para a descoberta desta espécie do dr. Luís Monteiro, que primeiro descreveu as populações sazonais dos petréis-das- -tempestades [painhos] nos Açores e que trabalhou sem descanso para a sua conservação", escrevem os autores no artigo publicado a 29 de Setembro na revista científica IBIS, da British Ornithologists Union.

"É uma homenagem justa", diz Verónica Neves. "Se ele não tivesse feito o trabalho inicial, não se teria percebido que aquela é uma nova espécie."

Ave marinha do mesmo grupo das cagarras e albatrozes, o painho-de- -monteiro tem várias características que o distinguem do seu "irmão" painho-da-madeira. Uma das mais notáveis, sabe-se agora, é o seu canto, com uma frase mais curta, detectável pelo ouvido humano treinado. Outros pequenos detalhes na plumagem e na dimensão das aves são menos evidentes, mas chamaram a atenção de Luís Monteiro, logo nos anos 90.

"Ele estava a fazer o trabalho de campo para o seu doutoramento sobre as concentrações de mercúrio nas aves e recolheu amostras das diferentes espécies em todas as ilhas e ilhéus do arquipélago, para fazer comparações, e para investigar a possibilidade de utilizar as aves marinhas como indicadores da contaminação por mercúrio na região portuguesa do Atlântico", conta Verónica Neves.

À quase certeza da nova espécie, o biólogo preocupou-se também com a sua conservação. Com efeito, o painho- -monteiro só nidifica nos ilhéus de Baixo e da Praia, junto à Graciosa, e nesta ilha também. "Há agora a suspeita de que nidifique igualmente na ilha das Flores, mas isso não está confirmado", adianta a bióloga. Fazer esse estudo é outra tarefa pela frente.

No artigo agora publicado pela equipa de Mark Bolton - que inclui outros sete investigadores de universidades do Canadá, de Espanha e da Escócia, além da Universidade dos Açores -, a população desta ave está estimada entre 250 e 300 casais nidificantes. E o facto de só existir nos Açores torna-a necessariamente vulnerável.

Um projecto de estudo e de conservação, proposto ainda por Luís Monteiro à Fundação para a a Ciência e Tecnologia, acabou por permitir, já depois da sua morte, colocar uma série de ninhos artificiais nos ilhéus onde a ave nidifica. "Isso foi importante para o seu estudo e monitorização", diz Verónica Neves, que participou nesse trabalho.

Para Joel Bried, investigador do DOP e um dos autores do artigo publicado na IBIS, esta espécie deverá ser classificada como "em perigo", dada a dimensão reduzida da sua população e o facto de não existir em mais nenhum sítio do mundo. Mas essa decisão "caberá à União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla inglesa) e à BirdLife International", explica o biólogo.

Quanto à estratégia necessária para a conservação desta ave, Bried (que continua a trabalhar sobre ela) adiantou ao DN que é preciso "evitar a introdução nos ilhéus de mamíferos, como ratazanas, gatos ou furões, que são seus predadores e que, felizmente, não existem nos ilhéus onde a espécie nidifica". Outra medida defendida pelo biólogo é a "proibição ou restrição do acesso de pessoas, para que não danifiquem ou perturbem os ninhos e as aves". O sucesso dos ninhos artificiais mostra, por outro lado, que é preciso "instalar mais" estruturas dessas. Afinal, como diz Verónica Neves, "esta é uma nova espécie para a ciência, mas um velho habitante destas ilhas, que já conhece os mares e as tempestades do Açores há pelo menos 70 mil anos".





DN
 
Topo