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O pintor Ângelo de Sousa morreu hoje, cerca das 22:00, na sua casa no Porto, vítima de cancro, anunciou fonte da família. Ângelo de Sousa era natural de Moçambique e tinha 73 anos de idade.
Com uma obra em permanente mutação pelo seu carácter experimentalista, Ângelo de Sousa insistiu no simples e elementar no seu trabalho, que percorre desde pintura, escultura, desenho, filme, fotografia e cenografia.
Recusou molduras, estudou diversas técnicas e veio a interessar-se progressivamente nos meios de trabalho mais elementares e nos materiais mais simples.
Ângelo César Cardoso de Sousa nasceu na então Lourenço Marques, hoje Maputo, Moçambique, a 02 de Fevereiro de 1938 e com 17 anos foi viver para o Porto, onde estudou pintura na Escola Superior de Belas-Artes, onde acabou por ficar como docente.
Ainda muito jovem, faz a primeira exposição pública em 1959, na Galeria Divulgação, na mesma cidade, ao lado do já consagrado Almada Negreiros.
Seguem-se inúmeras exposições em galerias como a 111, a Cooperativa Árvore - da qual foi co-fundador -, a Buchholz, Alvarez e a Sociedade Nacional de Belas-Artes.
No final dos anos 1960 foi bolseiro pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo British Council, onde frequentou a Slade School of Art e a Saint Martin's School of Fine Art.
Nessa altura formou, com os colegas Armando Alves, Jorge Pinheiro e José Rodrigues, o grupo "Os Quatro Vintes", assim chamado por todos terem tido a classificação máxima na licenciatura.
O grupo foi formado com a finalidade essencial de divulgar as obras através de exposições colectivas.
Na pintura foi influenciado pelo movimento expressionista, a gravura oriental, as artes exóticas e primitivas, a pop art, artistas como Mondrian, Klee e Kandinsky, mas manteve-se sempre afastado das discussões sobre figuração e abstracção.
Ilustrou livros de poetas e romancistas portugueses como Eugénio de Andrade, Maria Alzira Seixo, Mário Cláudio e Fiama Hasse Pais Brandão.
Participou na XIII Bienal de São Paulo, em 1975, onde foi premiado, e na Bienal de Veneza, de 1978.
Em 2008, Ângelo de Sousa e o arquitecto Eduardo Souto de Moura representaram Portugal na 11.ª Mostra Internacional de Arquitectura de Veneza, em Itália, num projecto que discutia a dicotomia dentro/fora através do uso de espelhos.
Artista de forte personalidade, conhecido pela irreverência e generosidade, Ângelo de Sousa também se envolveu em causas políticas e cívicas, tendo sido mandatário de Jorge Sampaio nas eleições presidenciais de 1995.
O museu da Fundação de Serralves, no Porto, dedicou-lhe uma grande retrospectiva em 1993, com desenho e pintura, e em 2001 sobre fotografia e cinema, e o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, organizou uma sobre a obra em desenho dois anos mais tarde.
A obra está representada em colecções particulares e nos principais museus de arte contemporânea do país, como a Fundação de Serralves, Museu Berardo, Fundação Calouste Gulbenkian e o Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado.
Aposentou-se no ano 2000 da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, onde tinha sido, na disciplina de Pintura, um dos primeiros professores catedráticos.
Em 2010, o encenador e realizador Jorge Silva Melo estreou o filme "Ângelo de Sousa - Tudo o que sou capaz", cuja criação resulta de uma série de encontros e entrevistas com o pintor, o primeiro deles em 2007.
Lusa/ SOL