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Livro sobre Paco Bandeira: Vida de fama e violência

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Do suicídio da primeira mulher ao drama de Maria Roseta, todos os pormenores do caso que manchou Paco Bandeira. O SOL publica dois capítulos do livro Violência Silenciosa, de Margarida Davim, que é lançado hoje.
O suicídio da primeira mulher


'A participação da morte'

O telefone tocou à 1h30 da manhã, na esquadra da PSP de Sintra. Do outro lado da linha, o guarda Rosa, ao serviço no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, tinha uma ocorrência a reportar. O subchefe João Araújo preparou-se para tirar notas, enquanto o colega lhe explicava que, por volta das 22h10, tinha dado entrada naquele hospital a mulher do cantor Paco Bandeira.
«Deu um tiro na cabeça e está em estado muito grave», relatou o guarda Rosa, perguntando ao colega de Sintra se estava ao corrente do que se passava. João Araújo não sabia de nada. Mas tratou de perceber o que teria acontecido. Alguns telefonemas depois, soube que Maria Fernanda Mocinha Castelo Bandeiras tinha sido transportada pelos Bombeiros Voluntários de Sintra para o hospital daquela localidade.
A mulher de 51 anos deu entrada às 21h24 no Hospital de Sintra e foi socorrida pela Dra. Isabel Matos Cunha. Estava viva, mas inconsciente, e tinha perdido muito sangue. Não foi preciso muito tempo para os médicos perceberem que pouco poderiam fazer por ela(...)
No relatório que escreveu e assinou no dia 10 de Março de 1996, o subchefe explica que, face ao exposto, contactou o marido da falecida. Mas as horas registadas no processo arquivado na 3.ª Secção do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Tribunal de Sintra, mostram que Paco Bandeira terá comparecido na esquadra às duas da manhã: vinte minutos antes de o guardaRosa ter avisado o subchefe da PSP de queMaria Fernanda tinha morrido. O que ficou nos registos revela que Paco fez uma declaração breve para os autos policiais e entregou ao subchefe João Araújo a arma que tirou a vida à mulher. Segundo a participação lavrada na esquadra de Sintra da PSP, o revólver da marca Taurus de 32 mm, registado a 30 de Novembro de 1976 em nome de Francisco Veredas Bandeiras – o nome de baptismo do autor de «A Ternura dos Quarenta» –, foi entregue juntamente com o invólucro de uma bala e três munições por detonar na mesma noite em que Maria Fernanda perdeu a vida.(...)
Na Participação n.º 438/96 da esquadra de Sintra, com a data de 11 de Março, há porém uma nota escrita à mão por um oficial de Justiça, que lança a dúvida sobre se a arma estaria já em poder das autoridades no dia a seguir à morte. «Não recebi a arma, o invólucro e as três munições, que vão ser entregues no Comando da PSP. Só recebi o livrete», lê-se no documento, onde há uma outra nota que refere que «a arma está em Cascais», sem que se especifique onde. Na mesma folha oficial, a morte de Maria Fernanda é registada como «suicídio».

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'Violência Silenciosa' é lançado hoje

O início da violência a Maria Roseta

'De arma apontada à cabeça'

(...) Maria Roseta foi para o pátio com a filha e ainda estava a recuperar o fôlego do embate, quando foi surpreendida pelo companheiro, que apareceu de pistola em punho, proferindo ameaças, sem se perturbar com o facto de a filha de ambos estar ao colo da mãe, enquanto ele lhe encostava à cabeça a Taurus de 32 mm que poucos anos antes tinha roubado a vida a Maria Fernanda.
«Ainda sinto o metal frio da arma apontada à minha cabeça», descreve Maria Roseta, que não encontra explicação para uma cena que ainda hoje revive com ar assustado. «Não discutiu. Não me disse nada. Apareceu só com a arma a dizer que me ia matar.» Momentos antes, Roseta tinha feito um desabafo sobre o estranho desaparecimento do naco de picanha que tinha deixado a descongelar ao ar num parapeito. Estava convencida de que tinha sido Paula [a enteada] a levar a peça, com o intuito de a deixar ficar mal perante o pai. «As filhas não me suportavam. Estavam com medo que eu lhes viesse roubar um quinhão. E faziam-me a vida negra.»
Maria Roseta, que tinha encontrado a travessa onde a carne descongelava intacta e ainda cheia de sangue, não acreditava que pudesse ter sido um animal a roubar a picanha. Isso foi suficiente para que Paco fosse buscar a arma e lhe aparecesse com ela apontada, aproximando-se até a deixar encostada à cabeça. Roseta percebeu que não o podia fitar nos olhos. Com o olhar baixo, limitava-se a repetir, quase em surdina: «Não me mates. Não me mates. Não me mates.» Tinha a filha ao colo e era impossível Paco disparar sem atingir a criança. «Tenho a tua filha ao colo», disse-lhe Roseta. O músico aproximou-se mais e tirou-lha dos braços, ao mesmo tempo que se afastava, recuando, sempre com Roseta na sua mira Em pânico, sentindo a vida escapar-se-lhe por entre os dedos e temendo pela filha, Maria Roseta fugiu para dentro da casa, fechou-se num quarto e tentou pedir ajuda. Telefonou primeiro para a enteada, que acabara de sair do monte, e depois para um casal amigo. Dando meia-volta ao caminho iniciado, a enteada voltou em socorro da companheira do pai. Entretanto, Roseta falava com a amiga Helena, que a tentava acalmar. Helena, vizinha de monte do casal no Alentejo, acabou por passar o telefone ao então seu marido. E foi o socialista Armando Vara, quem terá acalmado Maria Roseta, convencendo-a a não apresentar queixa contra o companheiro. Paco tinha, entretanto, ligado para a irmã de Roseta, Maria da Assunção, ordenando- lhe que se dirigisse depressa ao Monte do Cortiço. «Se não vieres buscar a tua irmã, dou-lhe um tiro.» Estava descontrolado.
Do outro lado da linha, a irmã de Roseta não o deixou sem resposta: «Você toca na minha irmã e é um homem morto. Já teve sorte uma vez, mas desta vez não vai ter. Eu chamo já a Polícia e vai GNR, vai tudo.» Entretanto, a própria Roseta ligou para a irmã, convencendo-a a não se pôr a caminho do monte. O objectivo de Maria Roseta era sair de lá com a filha e estava convencida de que só o conseguiria fazer a bem, acalmando o companheiro.
Quando Maria Roseta saiu da divisão onde se tinha refugiado, já a filha mais velha tinha acalmado o pai. Os ânimos serenaram, como uma respiração descontrolada que acalma até os batimentos cardíacos encontrarem o seu ritmo. Paco terá, então, ordenado que fossem todos almoçar, fazendo de conta que nada tinha acontecido. E assim foi. (...)
No dia seguinte, Maria Roseta saiu do monte. «Meti-me num táxi com a minha filha e vim para Lisboa. Estivemos um dias sem nos ver», recorda, admitindo que acabou por ceder à sedução do companheiro e aos conselhos dos amigos do casal, que lhe diziam que, mais do que tudo, Paco precisava de ajuda e compreensão. Aliás, a cena passou-se no dia 15 de Abril de 2002, mas só foi relatada em Abril de 2009, numa queixa apresentada por Maria Roseta Ferreira, que procurou ajuda no Gabinete de Apoio à Vítima de Lisboa, onde uma assessora acabou por fazer a denúncia ao Ministério Público. Tinham-se já passado 12 anos de vida em comum com Paco Bandeira. (...)
Na verdade, aquela não era a primeira vez que via Paco explodir num acesso inexplicável de agressão. Cerca de uma semana antes, tinha visto a mesma reacção impulsiva de violência, ciúme e ameaça, no dia do baptizado de Constança. O momento era de festa e de descontracção. Mas uma troca de olhares imaginada pelo companheiro veio manchar para sempre a memória do que deveria ter sido um dia de celebração da filha de ambos. Maria Roseta recorda o momento como «um delírio» de Paco Bandeira, que o terá levado a acreditar que «andava metida» com o padre que celebrou a missa do baptismo. Roseta assegura que, no calor da discussão, Paco terá mesmo afirmado ter num vídeo as provas dos olhares trocados entre os dois na celebração realizada numa pequena igreja rural perto do Monte do Cortiço. «És pior que as prostitutas, és um monstro. Não mereces nada», atirou-lhe, no meio de um acesso de raiva. Sentia-se humilhado.
Apesar de ter dito ao psicólogo do Instituto de Medicina Legal que o avaliou que nunca pensou que «fosse verdade» que entre Roseta e o padre tivesse havido um relacionamento, e de até descrever os olhares entre os dois como uma «brincadeira», a verdade é que assumiu durante a perícia que se sentiu vexado. «Não gostei porque era humilhante, de mau gosto e inadequado.» Uma das coisas que mais o perturbaram nesse episódio foi o facto de Armando Vara e outros amigos importantes, que assistiam à cerimónia, se terem apercebido do «comportamento ostensivo» de sedução entre o religioso e a sua companheira.
Entre ameaças de morte e insultos, Roseta assegura que o companheiro chegou a telefonar ao pároco para o confrontar com a acusação de adultério e o ameaçar que o matava. Mas essa cena também não havia sido suficiente para a alertar.

Fonte: SOL
 
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