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Aos 85 anos, Joaquim Veríssimo Serrão, o homem que presidiu, durante 31 anos, à Academia Portuguesa da História, tem entre mãos a escrita do último dos 19 volumes da História de Portugal que começou a escrever em 1977.
Apesar da amizade que o ligou a Marcello Caetano, a que se manteve sempre fiel, Veríssimo Serrão garante que, em nome da verdade histórica, consegue manter o distanciamento para escrever o livro que retrata o período em que Caetano chefiou o Governo, antes da Revolução de Abril de 1974, embora já sem a «vivacidade» que teve no passado.
«A História não é política», disse, frisando que, ao longo da sua vida, nunca teve qualquer envolvimento partidário.
Veríssimo Serrão, professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ultima um projecto em que se lançou em 1977, quando publicou o primeiro volume da sua História de Portugal, relativo ao período de 1080 a 1415.
«Foi concebida para ser em três volumes. Acabou por se transformar no instrumento de trabalho do professor Veríssimo Serrão», revelou à Lusa Martinho Vicente Rodrigues, director do Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão (CIJVS).
A viver agora num lar residencial, Veríssimo Serrão vai preenchendo os seus dias no ultimar desse projecto, ao mesmo tempo que procura inteirar-se da «construção» do seu Centro de Investigação, em vias de ser instalado numa parte do antigo Presídio Militar de Santarém.
Aí vão ficar à disposição de investigadores, mas também de curiosos e interessados pela História, os milhares de ficheiros que constituíram as «alfaias» da investigação desenvolvida ao longo de uma vida, bem como os 30 mil livros, 90 caixas de manuscritos, entre os quais a correspondência que trocou com Marcello Caetano, condecorações, telas, que legou em 2009 à câmara municipal de Santarém, cidade onde nasceu.
Duas terças-feiras por mês, das 18h às 19h30, o centro acolherá uma «assembleia de investigadores», um espaço aberto a todos os membros para apresentação de comunicações e debate de ideias, prevendo ainda «assembleias extraordinárias» para oradores convidados.
O CIJVS procurará beneficiar da teia de relações criada por Veríssimo Serrão com academias e investigadores espanhóis e da América Latina, sobretudo do Brasil e Venezuela, disse Martinho Vicente Rodrigues, sublinhando o compromisso da edição de uma revista, nos primeiros dois anos semestral e depois anual.
«Não gosto de uma estátua. Quero ser recordado pela minha biblioteca», disse Veríssimo Serrão, admitindo que o facto de ter sido reitor da Faculdade de Letras de Lisboa antes do 25 de Abril (demitiu-se em 1974) não lhe granjeou simpatia entre os abrilistas .
Para Martinho Vicente Rodrigues, «não há dúvida» de que Veríssimo Serrão «é um dos grandes historiadores portugueses», um reconhecimento patente nas muitas condecorações de que foi alvo, em Portugal (recebeu a Grande Cruz da Ordem de Santiago da Espada), mas sobretudo no estrangeiro, nomeadamente em Espanha, de que destaca o Prémio Príncipe das Astúrias de Ciências Sociais (1995).
Lusa / SOL