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Estreia hoje, quinta-feira, nas salas portuguesas "Biutiful", o novo filme do realizador mexicano Alejandro González Iñarritu, que, além de candidato ao Oscar para Melhor Filme Estrangeiro, valeu mais uma nomeação para Melhor Actor a Javier Bardem.

Nas ruas de Barcelona, Uxbal é um sobrevivente. Ajuda os emigrantes africanos e chineses que são explorados nas fábricas locais e serve de intermediário entre os mortos e os que cá ficaram. Tem dois filhos, mas já não vive com a mãe deles. Um dia, recebe uma notícia que o vai obrigar a repensar toda a sua existência...

"A morte é a única certeza que temos na vida. Há muita gente que pensa que é o grande tema com que temos de lidar nas nossas vidas", disse-nos o realizador, pouco depois da apresentação do filme no Festiavl de Cannes, no ano passado. "Mas o filme não é sobre a minha morte. É sobre as pessoas de que gosto e que tenho medo de perder. O meu pai ou os meus filhos. Ou como irão eles sobreviver sem mim. São estas as questões que me atormentam."

O filme aborda, entre outros, o tema da exploração dos emigrantes ilegais. "Fiz imensa pesquisa. Mas não estava a fazer um documentário", referiu. "Grande parte das pessoas que aparecem no filme foi escolhida nos locais onde vivem. Muitos daqueles chineses foram mesmo explorados em fábricas com aquelas mesmas condições. É a realidade. Todos os dias, se lêem histórias destas nas primeiras páginas dos jornais espanhóis. Não inventei nada."

O mexicano filmou pela primeira vez no velho continente. "Queria que o filme se passasse na Europa, que está a viver este imenso fenómeno da emigração". Todas as grandes cidades, mesmo as mais bonitas do mundo, como Paris, têm bairros como este. Basta sair um pouco dos centros para se encontrar uma enorme diversidade de pessoas. Mas não podia ser no México. No México, não há africanos, nem chineses."

O realizador trabalha pela primeira vez um guião seu. "Foi muito libertador explorar uma linha narrativa única. Mas foi um grande desafio", confessou. "Qualquer coisa que estivesse mal via-se logo. É como um comboio sempre em marcha, não admite nenhum erro de percurso."

O filme seria, naturalmente, diferente sem a presença intensa de Javier Bardem. "Foi o meu actor desde o início. Desde que percebi como é que a personagem seria, que tinha de ser o Javier", disse Iñarritu. "A influência da personagem nele e dele na personagem foi recíproca. Sabendo que ia ter o Javier, quando escrevi a personagem, foi como fazer um fato à medida para ele. Ajudou bastante conhecer qual a natureza dele."

Os títulos só lhe chegam mesmo no final. "Durante a rodagem, ri-me imenso da forma como os espanhóis falam Inglês. A pronúncia é muito má. Achei hilariante a maneira como eles dizem "beautiful"". Mas também há um significado mais profundo: "Há aquele momento em que a miúda, numa das piores alturas da sua vida, tenta descobrir o que a palavra significa. Para mim, é uma das contradições da vida. A vida é um inferno, mas a beleza pode aparecer a qualquer momento."

No entanto, o realizador não gosta que se pense que os seus filmes têm uma qualquer mensagem. "Há um tema e questões que quero abordar. Mas não tenho necessariamente a resposta. O meu filme não é propaganda. Há filmes que desde o princípio sabemos que nos vão dar as respostas todas. O espectador sente-se muito confortável; quando sai da sala, esquece tudo. Espero que este meu filme seja terminado pelo espectador."

Jornal de Notícias
 
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