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Happy Days e Eco

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Vasco Araújo (Lisboa 1975), artista que se move com igual cuidado no território da instalação e do vídeo, da encenação de objectos e da imagem, é o autor do cartaz para a edição deste ano do Festival de Teatro de Almada e, como tal, apresenta, na Casa da Cerca, uma exposição dupla, já que reúne dois trabalhos: «Dias Felizes» (2006), na galeria do pátio, com direito a tratamento especial e catálogo próprio, e, à maneira de complemento, o vídeo «Eco», ali mesmo ao lado, na capela. Trabalhos imaginados a partir de Samuel Beckett e de Cesare Pavese, a sua situação, contígua no espaço e no tempo, força uma comparação proveitosa numa contaminação vertiginosa, possível de se imaginar entre as duas instalações.

«Dias Felizes» é uma montagem de fotografias, organizados por vezes em dípticos e trípticos, de interiores vazios, abertos sobre a luz da rua, ou fechados sobre o fundo negro de um corredor, numa conseguida evocação da pintura holandesa de interiores do século XVII, isto enquanto a presença de Beckett se abre em escrita branca sobre vidros, com as indicações de cena (e nunca as falas) da peça que empresta o seu nome à instalação, insinuando a presença fantasmática de personagens que não se vêem nem se ouvem.

«Eco» apresenta-nos seis personagens e uma mesma voz, a do próprio Vasco Araújo, em torno de uma mesa, as personagens enfrentam-se: homem e menino, homem e mulher, homem e o seu duplo, ou a sua imagem ao espelho, numa dissimulada evocação Magritteana, isto enquanto a mulher nos remete para o Caravagio.


Um singular vazio habita as duas peças, uma voz escrita sem corpo dando indicações para um espaço desabitado, logo acolhida por uma outra voz, múltipla e una, onde uma criança profere interrogações sem fim e sem resposta aparente, a não ser do eco que a transforma e repete; dir-se-ia que o lugar do eco são os espaços vazios dos dias felizes ou que eles são o que resta depois de o eco ir desaparecendo. A presença e a ausência, o silêncio e a voz, o corpo e o vazio... O teatro está ali, presente, por excesso ou por diferença, como igualmente presente está a memória de muita pintura. Assim, estas duas instalações contaminam-se, completam-se, como os dois lados de uma mesma realidade a partir da qual podemos, ou melhor, somos obrigados a inventar o nosso próprio espectáculo, sempre no limiar do vazio.

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Vasco Araújo, instalação Happy Days

HAPPY DAYS E ECO | CASA DA CERCA - ALMADA | ATÉ 13 DE SETEMBRO
 
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