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Há um renascer do nuclear

xicca

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Entrevista a Patrick Monteiro de Barros


A escalada dos preços do petróleo veio para ficar?
Há três anos, alvitrei que iríamos atingir os 100 dólares por barril. Quase me chamaram de louco mas infelizmente acertei. Há uma parte importante de especulação que explica esta subida e acentua os movimentos, mas depois desvanece. No espaço de cinco anos, houve uma série de países, como a China, Índia e Indonésia (que saiu da OPEP e se tornou importador) que fizeram disparar o consumo. E o crescimento demográfico continua. A procura aumenta e a oferta mantém-se. Há uma grande tensão.

Que alternativas restam às economias ocidentais?
Negociar garantias formais de acesso às matérias-primas. É preciso estar também preparado para reagir com força se esses compromissos não forem respeitados. Só que a Europa não tem força. Na Europa não há um líder, não há coesão. Tem de admitir que é refém dos produtores de petróleo e de gás do Norte de África e da Rússia.

A Europa e os EUA devem trabalhar no desenvolvimento de energias alternativas?
Tudo o que pode contribuir para diminuir a dependência energética do exterior e das energias fósseis, como o petróleo e o gás, convém ser feito. O problema é o custo. Se, para produzir algo tiver à cabeça uma energia que custe 30% a 50% mais, temos um problema porque estamos num mundo globalizado. No “El País”, de 14 de Agosto, a associação espanhola de produtores de electricidade dizia que os custos das centrais a carvão são 52 a 55 euros/MW; 72 euros nas eólicas; 45 a 60 euros na hidráulica e 35 na nuclear.

E como vencer o fantasma de Chernobyl?
Há um renascer do nuclear. E porquê? É limpo, não produz CO2, é seguro e é a fonte de energia mais barata.

Mas houve algumas fugas em Espanha…Não se lembra da barragem de Fréjus, em França [morreram mais de 400 pessoas, em 1959]? É seguro. Até hoje não houve um único acidente mortal nuclear no Ocidente.

Mas continua a haver uma grande expectativa em relação à questão dos resíduos…
Há um país que é certamente dos mais avançados na Europa, a Finlândia, que tem nuclear há não sei quantos anos. Está a construir um reactor de nova geração. Eu pergunto: se um povo altamente sofisticado e competitivo, com muitas preocupações ambientais, a solução serve aos finlandeses não serve aos espanhóis e aos outros? A França teve outro dia uma sondagem que diz que 70% dos franceses são a favor do nuclear. Eu acho que há um renascer do nuclear.

Sobretudo fora da Europa…Não, não. Olhe: a Inglaterra vai construir dez centrais. Na Alemanha, onde havia compromissos de reduzir ou não expandir, estão a rever o assunto. Na Itália, que era anti-nuclear, o Governo estabeleceu agora uma nova companhia que vai estudar a entrada no nuclear. Nos EUA, McCain, se for eleito, autoriza a construção de 30 ou 40 centrais novas. Porque há aqui um aspecto importante: um dos principais problemas no consumo energético é o transporte, ou seja, substituir o consumo de gasolinas e gasóleo. E contra mim falo pois sou refinador.

Está a falar da era dos carros eléctricos?
A decisão está tomada. A GM e a Nissan vão lançar o carro eléctrico. Agora, não fazemos mais de 200 quilómetros por dia, em média. Em Lisboa, a velocidade média é de 26km/hora, portanto um carro que dê para 70 km ou 80 km chega perfeitamente. Mas para isso é preciso electricidade. E onde é que se vai buscar? Para ir buscar electricidade em quantidades massivas e constantes, sem produzir CO2 e a custo competitivo, só vejo hoje uma solução: o nuclear. Não há outra, de momento. Podem falar do hidrogénio e outras coisas que ainda estão no papel, mas é para daqui a 40 ou 50 anos. E até lá? Porque há outro problema: o caso da dependência energética. Não esqueçamos que cada 12 dólares de aumento do preço do petróleo é igual às exportações, por exemplo, da Autoeuropa, o maior exportador português. E é por isso que o défice da balança comercial já vai em 8,8 mil milhões de euros no final do semestre.

Há quem diga que o nosso consumo e o número de centrais convencionais e renováveis programadas não justificam apostar no nuclear…Eu acerca do nuclear já disse o que tinha a dizer. O Governo foi muito claro. Não está no programa desta legislatura. É um compromisso assumido. Agora, os números falam por si.

E se o Governo mudasse de ideias na próxima legislatura. Estaria disponível para avançar?
O meu papel foi lançar a ideia. Acho que foi um grande serviço que fiz ao meu país. Lancei o assunto para cima da mesa, provoquei o debate. Agora nunca me passou pela cabeça ter uma central nuclear com o meu nome em cima.

Mas houve ali umas alturas em que pareceu estar zangado com Portugal…Porque é que iria zangar-me com o meu país?

Não se sente desiludido com o poder político, depois de ter visto os seus projectos não avançarem?
São coisas que acontecem. Houve projectos que não correram como eu queria mas agora vira-se a página e anda-se para a frente. Teria tido muito gosto de os ter feito, não foi possível. Fomos para fora e criámos a Petroplus, que é hoje o maior refinador independente da Europa.




Diário Económico
 

xicca

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Energia Nuclear: O medo tornou-se esperança!

O que era medo se tornou esperança
Duas décadas após o desastre de Chernobyl, a energia nuclear está novamente em expansão para enfrentar o preço do petróleo e o aquecimento global
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Há duas décadas, a devastadora explosão de um dos reatores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, chocou o mundo e alterou a percepção dos governos e da opinião pública sobre a energia produzida pelo urânio. O acidente espalhou toneladas de material radioativo por uma área de 150 000 quilômetros quadrados e matou nas primeiras semanas três dezenas de pessoas. Segundo um levantamento da Organização Mundial de Saúde, devido às pessoas que morreram nos anos seguintes em razão de doenças relacionadas radiação, o total de vítimas pode chegar a milhares. Diante desse horror, vários países, como a Inglaterra e a Alemanha, resolveram desativar gradativamente suas usinas nucleares.

Na Itália, a decisão veio por consulta popular. Os Estados Unidos já haviam interrompido a construção de novos reatores desde 1979, quando ocorreu um superaquecimento do reator de Three Mile Island. A novidade é que a roda da história voltou a girar a favor da energia nuclear. O que até pouco tempo atrás era visto como uma tecnologia sinistra passou a ser encarado, em muitos países, como uma esperança de energia limpa e barata. Hoje, 35 usinas estão sendo construídas em vários países e outras 93 deverão ser erguidas nos próximos anos mais da metade delas na Ásia.

Nos Estados Unidos, os dois candidatos à Presidência, Barack Obama e John McCain, já anunciaram que são favoráveis à multiplicação das usinas no país. O governo da Inglaterra divulgou que pretende fazer o mesmo. A Itália, único país do G8 que não produz energia nuclear, embora a importe, informou há dois meses que vai construir usinas. O Brasil, por sua vez, acaba de comunicar a retomada da construção de Angra III, no litoral do Rio de Janeiro. Ao longo de quinze anos, até o acidente de Chernobyl, em 1986, a parcela da eletricidade produzida no planeta vinda da energia nuclear saltou de 2% para 16% patamar que se mantém ainda hoje. Calcula-se que em 2050 essa proporção suba para 22%. Trata- se da maior expansão do parque nuclear mundial desde a década de 70.

O renascimento da energia nuclear é explicado por uma conjunção de fatores. O primeiro é econômico. A disparada do preço do petróleo e do gás natural, que juntos respondem por 25% da eletricidade produzida no planeta, torna cada vez mais cara a energia obtida desses combustíveis fósseis. O quilowatt/hora gerado com petróleo e gás dobrou de preço desde 1995. Em contrapartida, a energia produzida por usinas nucleares, benefi ciadas por tecnologias que aumentaram a produtividade, ficou mais barata. Para comparar: o custo da eletricidade gerada com petróleo é hoje seis vezes superior ao da nuclear. As termelétricas a carvão, que produzem 40% da eletricidade do mundo, continuam a ser construídas a todo o vapor, principalmente na Rússia e na China. O custo da energia produzida com carvão perma nece equilibrado há uma década mas, mesmo nesse caso, o átomo pesa menos no bolso.

O segundo fator que impulsiona o renascimento da energia nuclear é o combate
ao aquecimento global, uma causa que mobiliza governos e opinião pública. Uma termelétrica que usa matérias-primas fósseis emite 1 quilo de dióxido de carbono (CO2), o principal gás do efeito estufa, por quilowatt/hora gerado. Uma usina nuclear emite apenas 30 gramas de CO2 para produzir a mesma quantidade de energia mesmo assim, entram nessa conta apenas fatores externos ao funcionamento do reator, como transporte de matéria-prima. A energia nuclear tinha má fama, mas o cenário mudou drasticamente com o aumento de preços dos combustíveis fósseis e a preocupação com o aquecimento global , disse a VEJA o alemão Hans-Holger Rogner, coordenador de estudos econômicos da Agência Internacional de Energia Atômica.

Além da questão do custo das matérias-primas e da preocupação verde, o renascimento da energia nuclear é impulsionado por questões geopolíticas. Na visão de muitos governantes dos países democráticos, as usinas nucleares são uma maneira de diminuir a dependência em relação ao petróleo e ao gás natural, cujas maiores jazidas se encontram em mãos de governos que merecem pouca confiança, como Rússia, Líbia, Irã e Venezuela. Ignorar o potencial da energia nuclear equivaleria a se deixar indefinidamente à mercê de ditadores e governantes imprevisíveis.

Na matemática do aquecimento global, um aumento expressivo no número de termelétricas significa um futuro ainda mais quente para a humanidade. Por isso, até mesmo ambientalistas, antes agressivos opositores da energia nuclear, passaram a defendê-la como alternativa aos combustíveis fósseis. O inglês James Lovelock, autor da teoria de que a Terra é um enorme organismo vivo capaz de regular a si mesmo, defende as usinas nucleares como a melhor alternativa para produzir energia sem poluir o ambiente.

O apelo de Lovelock é engrossado por Patrick Moore, fundador da organização ambiental Greenpeace, sempre pronta a fazer protestos ruidosos contra a energia do átomo. Segundo dados da Agência Internacional de Energia, o planeta pode precisar de 1.300 novos reatores nucleares até 2050 para combater o aquecimento global e atender ao aumento da demanda energética. Além disso, será preciso fazer um investimento maciço em fontes de energia renováveis, como eólica e solar. Por enquanto, a eletricidade produzida pelas fontes renováveis é muito cara e insuficiente para atender a regiões de alto consumo.

Apesar da adesão de ambientalistas ilustres à causa nuclear, muitos integrantes da tropa que rejeita as usinas continuam em ação. No início deste mês, quando o governo francês anunciou a ocorrência de um vazamento de material radioativo em dois rios próximos à usina de Tricastin, na região de Avignon, organizações como a Sortir du Nucléaire fizeram protestos e voltaram a criticar o fato de que quase 80% da eletricidade consumida no país vem da energia nuclear. A avaliação de que as usinas nucleares são perigosas é basicamente um mito. Assim como a quantidade de desastres aéreos é pequena diante do número de vôos realizados no mundo diariamente, a quantidade de vítimas fatais de acidentes em reatores é ínfima perto de seu volume de produção.

Desde que as primeiras usinas entraram em funcionamento, nos anos 50, estima-se que 9.000 pessoas tenham morrido em decorrência de acidentes com reatores nucleares, a maioria em Chernobyl. É o mesmo número de pessoas que morrem todo ano por inalar ar poluído decorrente da queima de carvão. Mesmo os reatores mais antigos ainda em operação passam por reformas que os tornam mais seguros. A indústria da energia nuclear aprendeu a lição de Chernobyl e investiu pesado para diminuir a ocorrência de acidentes. Sistemas e sensores analógicos foram substituídos por controles digitais e computadorizados. Os dispositivos de segurança foram duplicados e até quadruplicados para criar um efeito de redundância se um deles falha, outro é
acionado. Parte dos reatores hoje em construção no mundo, assim como os 93 planejados, pertence a uma nova geração de máquinas dez vezes mais seguras.

A rigor, o único problema das usinas nucleares é o que fazer com o lixo atômico que produzem. Até agora não se tem uma solução prática para os rejeitos radioativos que não seja o armazenamento, o que ainda deixa boa parte da opinião pública desconfi ada com a nova escalada na construção de reatores. A maioria das usinas é projetada com prédios anexos capazes de armazenar o lixo radioativo produzido durante toda a sua vida útil. Os rejeitos são colocados em cilindros blindados e estocados em locais refrigerados ou em piscinas cuja água é mantida gelada. Mesmo depois de usados no reator, os rejeitos ainda liberam calor e outras formas de radiação que podem acabar corroendo o metal dos cilindros de armazenamento.

Uma das saídas é estocar o lixo atômico em depósitos subterrâneos, como o de Onkalo, na Finlândia, e o de Yucca Mountain, nos Estados Unidos. Há esperança de que, no futuro, se descubra uma forma mais eficiente de descartar esse material ou reutilizá-lo. De qualquer maneira, pela determinação com que os governos vêm se voltando para a energia nuclear e investindo em novas usinas, é certo que nas próximas décadas se viverá uma nova era atômica.

Veja aqui o mapa geográfico da energia nuclear

Energia concentrada em uma pastilha de urânio com 1 centímetro de comprimento e 1 centímetro de diâmetro produz a mesma quantidade de eletricidade que:
- 565 litros de petróleo
- 810 quilos de carvão
- 480 metros cúbicos de gás natural


MAIS EFICIENTES E MAIS SEGURAS
A maior parte das usinas nucleares em operação hoje usa tecnologias desenvolvidas nos anos 70 e 80. A nova geração de usinas nucleares, que entrará em funcionamento nos próximos anos, é mais eficiente e segura. A seguir, uma comparação entre as duas gerações de usinas

Usinas atuais
Duração do combustível: 11 meses
Sistema de segurança: Depende de eletricidade ou de comandos eletrônicos e mecânicos para funcionar. Sujeito a falhas e erro humano
Vida útil: 40 anos
Probabilidade de ocorrer um acidente grave: 0,005%

Nova geração de usinas
Duração do combustível: 18 a 24 meses
Sistema de segurança: Passivo, baseado em forças da natureza como gravidade, diferenças de pressão e circulação natural do ar
Vida útil: 60 anos
Probabilidade de ocorrer um acidente grave: 0,0005%

Fontes: International Atomic Energy Agency (IAEA), World Nuclear Association (WNA), Paulo Berquó Sampaio, chefe da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Aquilino Senra e Nivalde de Castro, professores da UFRJ

A FATIA DO ÁTOMO
Participação de cada fonte energética na eletricidade consumida no mundo

Carvão: 40%
Petróleo: 10%
Hídrica e outras: 19%
Nuclear: 16%
Gás: 15%

Fonte: WNA

Países que têm 25% ou mais da eletricidade gerada por usinas nucleares: - França
- Lituânia
- Eslováquia
- Bélgica
- Ucrânia
- Suécia
- Armênia
- Suíça
- Eslovênia
- Hungria
- Coréia do Sul
- Bulgária
- República Checa
- Finlândia
- Japão
- Alemanha





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