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As crianças expostas a substâncias ilícitas na gravidez são bebés «mais difíceis» nos primeiros tempos, com «menos disponibilidade» para estímulos, como a brincadeira, o que em certos casos conduz ao remorso da mãe, revela um estudo inédito. A investigação sobre a «Exposição pré-natal a substâncias ilícitas» foi realizada por Maria Raul Xavier, do Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano da Faculdade de Educação e Psicologia (FEP) da Universidade Católica no Porto.
Trata-se de um trabalho que, pela primeira vez, avaliou o período dos dez anos após exposição a substâncias como heroína ou metadona durante a gravidez. A primeira fase avaliada foi a imediata ao nascimento e a segunda entre os dois e três anos. A maioria das crianças avaliadas passou por um período de privação, com os respectivos sintomas, físicos e não só, como disse à Agência Lusa a autora do estudo. O estudo baseou-se, contudo, no seguimento das crianças, após o período de privação.
No período neonatal, a investigação identificou «diferenças significativas entre o grupo de crianças expostas e o grupo de comparação constituído por crianças não expostas a substâncias ilícitas, sem qualquer patologia médica, nascidas na mesma unidade hospitalar na mesma época que o grupo exposto». As crianças expostas registaram «períodos de alerta menos estruturados e com menos disponibilidade para os estímulos do mundo exterior, uma maior necessidade de apoio do examinador para que o bebé tenha um bom desempenho e menor capacidade reguladora».
As crianças manifestaram «menos robustez e endurance [resistência], testemunhando as dificuldades que estes bebés têm de se manterem, necessitando de mais ajuda do cuidador e também a maior dificuldade para se defenderem de estímulos negativos e organizarem o controlo interno sobre as reacções motoras e autonómicas que podem interferir na relação que estabelecem no meio». «São pois bebés mais difíceis», concluiu a investigação, que identificou igualmente «diferenças no que diz respeito ao peso, comprimento e perímetro cefálico».
Mais velhos
O segundo grupo avaliado tinha dois e três anos, uma «idade importante do ponto de vista motor, de linguagem e relacionamento com o mundo», segundo a sua autora. Apesar de se tratar de um grupo já conhecido dos investigadores – por os terem seguido no período neonatal –, os investigadores tiveram dificuldades em voltar a identificá-los, devido, nomeadamente, a moradas falsas ou mudança de residência.
No grupo mais pequeno, os resultados obtidos não indicam diferenças significativas entre as crianças que foram expostas às substâncias ilícitas e as outras. A ausência de diferenças significativas também se mantém no último grupo, dos 10 anos de idade, quando as crianças passam por «novos desafios e novos momentos de vida».
A autora alerta, relativamente aos 10 anos, para a necessidade de se entender a questão da exposição pré-natal não como um factor de risco, mas sim como um estatuto de risco, ultrapassando-se «a ideia de causalidade linear da exposição sobre o desenvolvimento da criança».