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Exigências dos cegos portugueses
"Tem de haver uma sensibilização dos professores para que, numa fase inicial, não permitam a utilização de métodos de estudo centrados na voz, mas sim na escrita Braille", defende Carlos Lopes. Em sua opinião, todos os deficientes visuais devem saber ler em Braille, "o que nem sempre acontece" em Portugal.
O presidente da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) defendeu a reactivação da Comissão de Braille, extinta em 2003, para promover este sistema de leitura e escrita em Portugal, onde ainda há poucos professores especializados.
Carlos Lopes falava à agência Lusa a propósito das comemorações do bicentenário do nascimento de Louis Braille - criador deste processo de escrita em relevo para invisuais - que a ACAPO assinala com um conjunto de inicitivas que decorrerão ao longo deste ano.
"Essa comissão deve ser reactivada brevemente", afirmou Carlos Lopes, avançando que tem esta garantia da secretária de estado Adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz.
Importância do Braille
Para o presidente da ACAPO, é necessário haver uma entidade que "certifique, valide e defina as regras do Braille e que realize estudos que permitam saber por que muitas vezes não é utilizado".
Assinalou também a importância desta comissão a nível internacional, numa altura em que, "no âmbito da Organização Mundial dos Cegos, está a ser criado um Conselho Mundial do Braille em função das diferentes línguas".
"O Brasil tem uma Comissão do Braille e nós estávamos a trabalhar em estreita colaboraç~´ao com aquele país, mas entretanto a nosa Comissão foi extinta e, neste momento, corremos o risco de a Língua Portuguesa ser apresentada no Conselho Mundial do Braille pelo Brasil", justificou à Lusa.
Carlos Lopes defendeu que todos os deficientes visuais deviam saber ler em Braille, o que nem sempre acontece.
"Tem de haver uma sensibilização das próprias pessoas com deficiência visual para a importância da utilização do Braille e do contacto directo com as palavras", frisou o responsável.
Carlos Lopez fez um paralelismo com o que está a acontecer com os alunos do segundo ciclo, que utilizam uma linguagem muito telegráfica, tipo mensagens de telemóvel, que está a ter "repercussões grandes no modo como escrevem em aulas".
"No caso das pessoas com deficiência visual o facto de utilizarem sistematicamente o gravador ou o programa de voz, ou seja, terem por base unicamente o método de estudo auditivo, está a ter grandes repercussões ao nível das construções de frases e erros ortográficos, porque a pessoa não tem o contacto directo com a palavra", acrescentou.
Por outro lado, também tem de haver uma sensibilização dos professores para que, numa fase inicial, não permitam a utilização de métodos do estudo centrados na voz, mas sim na escrita Braille, referiu.
Por fim, acrescentou, terá de haver um "esforço grande" dos conselhos executivos e do Ministério da Educação no sentido de disponibilizar aos professores e às escolas os equipamentos e os recursos necessários para o ensino do Braille.
Carlos Lopes lembrou que há escolas de referência criada pelo Ministério da Educação que têm esses recursos, mas são em número insuficiente e muitas vezes ficam distantes, o que pode incentivar o abandono escolar dos invisuais.
Selo comemorativo
Para colmatar a falta de professores especializados em Braille, a ACAPO está a realizar cursos de formação para este sistema poder chegar a mais pessoas.
Para assinalar o bicentenário de Louis Braille, os CTT em colaboração com a ACAPO vão lançar em Março um Selo Comemorativo e a associação vai reeditar a revista Louis Braille e promover um curso de formação sobre o Sietema Braille para a comunidade.
A ACAPO vai ainda lançar um concurso para os estudantes deficientes visuais no sentido de os desafiar a eleborar trabalhos em Braille que descrevam a forma como este sistema é importante na sua vida.
Os contributos e o interesse de outras pessoas, como Barbier, ofereceram uma série de circunstâncias para que Louis Braille criasse o seu sistema de escrita e de leitura que ficou terminado em Outubro de 1824.
"Sem livros, os cegos não podem realmente aprender", disse Louis Braille.
Fonte:Correio dos Açores