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Para uma mulher grávida, o desejo incontrolável de comer um determinado alimento não escolhe dia nem hora, simplesmente acontece. Mas o que gera este fenómeno que ocorre nos primeiros meses de gravidez? Não existem opiniões unânimes, pode ser que se trate de uma manifestação puramente psicológica, mas também é possível que tenha algum substrato orgânico. Os desejos que surgem durante a gestação, arrastam à sua volta uma série de lendas e superstições que é necessário desmistificar.
Estranhos Mitos
Todos sabemos que existem países, como é o caso da China, onde existem iguarias um pouco estranhas, mas ainda assim, nada se compara ao desejo de uma grávida! Algumas querem comer barro, outras sabão e outras ainda, desejam ingerir bocados de sapatos. O certo é que, há alguns anos os desejos das grávidas tinham de ser respeitados porque as lendas o obrigavam.
Acreditava-se, então, que se o desejo não fosse imediatamente satisfeito, a criança poderia nascer com uma mancha no formato do alimento, ou pior ainda, nasceria com parecenças físicas com o que tinha sido recusado. O bebé poderia também nascer de boca aberta, e essa situação só era ultrapassada se a mãe se sujeitasse a uma espécie de ritual, que consistia em entrar por uma porta da igreja e sair por outra, em silêncio, com a criança ao colo. Outro exemplo de crendice, era afirmar-se que tudo o que a mulher ingerisse lhe faria proveito, mesmo que se tratasse de algo não comestível! Sabe-se agora que todas estas ideias são autênticos absurdos, não passam de lendas, mitos e superstições mas, ainda assim, muitas pessoas preferem não correr riscos e atender prontamente aos desejos da gestante.
Os estranhos desejos costumam aparecer e desaparecer nos três primeiros meses de gravidez. No que respeita as suas causas, as opiniões dividem-se. Alguns consideram que se trata de uma manifestação de pura infantilidade ou de capricho, mas os especialistas garantem que tudo é fruto de um misto de diversos factores, carências nutricionais, alterações hormonais e psicológicas. De facto, as alterações hormonais podem despertar novas sensações e causar mudanças ao nível do apetite e de percepção de cheiros e gostos. Por exemplo, a prolactina, responsável pelo estímulo das glândulas mamárias, provoca alterações no apetite em diversos momentos. Além disso, o aumento do nível de estrogéneos e progesterona, altera o paladar e o cheiro, o que poderá explicar o facto de as grávidas terem frequentemente apetência por comidas condimentadas e com fortes odores mas, e ao mesmo tempo, desenvolvam aversão por outros tantos cheiros e sabores com é o caso do café, fritos e tabaco.
Outra razão pode ser as deficiências nutricionais. Por exemplo, o ferro é um elemento fundamental para o organismo. Na formação do feto são necessárias 400 miligramas de ferro pelo que, mesmo deixando de menstruar, muitas vezes não consegue suprir essa carência. A grávida precisa de redobrar a ingestão de vitaminas, proteínas e sais minerais, porque a maior parte destes nutrientes são canalizados para o feto. Quando existe um desequilíbrio, uma carência, surge o desejo, ou seja, como o nosso organismo não possui uma forma de descodificar o que lhe está a faltar, procura essa substancia ou esse nutriente, na forma de desejo por determinados alimentos. Actualmente, como as gravidezes são seguidas de perto pelo médico assistente, as carências nutricionais são supridas com suplementos, o que reduz os desejos.
Chamada de atenção
Os médicos também referem que existe uma forte componente emocional. Na opinião de alguns, a mulher tem desejos para chamar as atenções porque sabe que todos vão querer satisfazer as suas vontades. Realmente os desejos ocorrem numa fase da gravidez, em que a mulher se está a adaptar ao seu novo estado. As sucessivas modificações corporais provocam grande ansiedade a grávida enche-se de dúvidas: será que o meu filho vai ser perfeito? Conseguirei ser boa mãe? Enquanto não sabe as respostas vai sofrendo por antecipação. Todos sabemos que os actos impulsivos como comprar coisas desnecessárias e comer, fazem parte da psicologia feminina como forma de ultrapassar a ansiedade, por isso não será complicado entender que grávida siga a mesma linha de comportamento, só que com uma diferença fundamental, a satisfação do desejo depende em regra de outra pessoa, geralmente o companheiro, o que é ao mesmo tempo uma forma de descobrirem até que ponto o companheiro está envolvido com a gravidez. O alimento seria então, acima de tudo, um meio de gratificação e recompensa emocional. Difícil é saciar os desejos, pois são muitas vezes exóticos, não são da estação, nem da região e surgem a qualquer hora, pelo que o companheiro tem de fazer uso de toda a criatividade para conseguir encontrar o que é pretendido.
Há que ter alguns cuidados
Doces, citrinos e alimentos condimentados, são os principais alvos de desejo das gestantes mas, em alguns casos, há um deslocamento do foco do desejo para produtos de limpeza e outras substâncias, que sendo ingeridas podem ser nocivas para a saúde, isto é, às vezes o desejo pode transformar-se num desvio patológico, como é o exemplo de algumas mulheres que desejam comer terra, tijolos, giz, sabão em pó... pelo que os médicos e a família têm que se manter atentos. As teorias são muitas mas não existem certezas algumas, por isso há que manter o bom senso - se o objecto de desejo não for algo razoável, é melhor não ceder à tentação para evitar riscos de envenenamento, intoxicações e problemas para o feto. É também importante saber, que existe em Portugal uma linha telefónica assegurada por profissionais, onde pode recorrer sempre que tenha dúvidas em relação a questões ligadas com a problemática da gravidez.
Trata-se da Linha SOS Grávida cujo telefone é o 21 793 16 17
Fonte:Teresa Paula Marques - Psicóloga Clínica