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Deficiente agredido com cinto em lar

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Set 24, 2006
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Deficiente agredido com cinto em lar


Pelo menos mais duas agressões a utentes com deficiência foram registadas na instituição de solidariedade social ACASO, em Olhão. Sucederam-se em 2006 e, tal como a mais recente, que ocorreu há duas semanas e o CM noticiou, não foram comunicadas às autoridades competentes e ninguém foi punido ou sancionado pelos actos.

Num dos casos, o deficiente sofreu “alguns hematomas e teve de ser transportado para o Centro de Saúde de Olhão”, pode ler-se na acta de reunião de direcção, que o CM teve acesso, datada de 26 de Junho de 2006.

A agressão grave terá sido praticada, alegadamente, com um cinto, e, segundo a acta, foi perpetrada pela então presidente da direcção, Hermínia Graça, que se demitiu ao ser confrontada com esta situação.

O caso foi resolvido internamente, sem que fosse comunicado ao Ministério Público ou à Segurança Social. De acordo com as actas, a dirigente admitiu que “efectivamente tinha agredido e não estava arrependida do seu procedimento”.

A situação terá dado origem a outras agressões, feitas por funcionárias, que depois alegaram que “o procedimento resultava do mau exemplo dado pela presidente”.

Ironicamente, a dirigente é casada com o homem que agrediu um jovem de 22 anos, com perturbações mentais, com uma estalada, há duas semanas na mesma instituição. Este também não se arrepende. “Dei-lhe uma bofetada para ele aprender e não estou arrependido. E até foi positivo porque as empregadas já me disseram que não está tão agressivo”, disse ao CM Fernando Graça, que não considera que o jovem seja deficiente, apesar de a direcção confirmar a sua incapacidade mental.

Já Hermínia Graça não assume que usou da força contra um deficiente. Alega não ter conhecimento do que está na acta e não nega nem confirma agressões. “Não fui acusada de coisa nenhuma”, disse ao CM. Ao ser-lhe perguntado se já agrediu alguma vez um utente da ACASO, limitou-se a dizer “não respondo”. “Nunca ninguém me disse que eu fiz mal ou bem e nem eu admitiria”, terminou, em tom autoritário.

No que diz respeito ao último caso registado, a Segurança Social já está a averiguar, mas só depois do CM ter noticiado o caso. Segundo o delegado regional do organismo, Jorge Botelho, “outros problemas da ACASO estão também a ser fiscalizados”.

O clima tenso agravou-se com as eleições para a direcção da instituição, que deu a vitória à lista A, que a B está a tentar impugnar.

SEGURANÇA SOCIAL ESTÁ A INVESTIGAR

A Segurança Social está a realizar uma auditoria às contas da ACASO, durante os dois últimos mandatos (com direcções diferentes), por terem existido denúncias de desvios de dinheiro e falsificação de documentos por parte de responsáveis da instituição de solidariedade social. Ao que o CM apurou, a investigação está na fase final e em breve serão conhecidos resultados. O delegado regional da Segurança Social no Algarve confirmou a existência de uma investigação, que está a ser realizada pelo departamento de fiscalização. Segundo Jorge Botelho, “está a decorrer um processo de averiguações e já estão a ser ultimadas as conclusões”.

Quanto ao mais recente caso de agressão, o mesmo responsável garantiu que já está a ser averiguado. “Já pedimos à instituição que nos informe do que se passou e possivelmente vamos enviar uma equipa de fiscalização à instituição para apurar o sucedido”, assegurou ao CM Jorge Botelho, referindo que neste tipo de casos “a instituição, depois do inquérito interno, deve comunicar a situação ao Ministério Público”.

AMEAÇAS

UTENTES

Vários utentes disseram ao CM estar “assustados” e “com medo” de serem expulsos caso falem sobre o que se passa na instituição. Ricardo (nome fictício) é um dos que diz ter sido “insultado e perseguido”.

FUNCIONÁRIOS

Uma funcionária, que pediu anonimato, disse ao CM que “o clima é de terror” dentro da instituição, havendo ameaças de despedimento a quem passar informação para o exterior.

DIRECÇÃO

A actual direcção nega ameaças a utentes e funcionários. Quanto à última agressão, Maria Pilar da Marta diz que o apuramento dos factos “irá até às últimas consequências”.

SAIBA MAIS

1932 foi o ano em que a Associação Cultural e de Apoio Social de Olhão (ACAS0) foi fundada. Trata-se de uma instituição particular de solidariedade social e tem actualmente 165 funcionários.

800 utentes são tratados e apoiados pela ACASO, distribuídos por 12 valências diferentes, no apoio a crianças, idosos e pessoas portadoras de deficiências.

ELEIÇÕES

A ACASO realizou eleições para a direcção a 14 de Dezembro. Venceu a lista A, mas a B diz que a votação foi irregular. A decisão ficou nas mãos da assembleia geral, que pediu um parecer à Segurança Social.

HERANÇA

A lista que ganhar a eleição vai gerir muitos milhões de euros, de uma herança em terrenos deixada pelo benemérito olhanense Aires de Mendonça.

EMPREGOS

Esta instituição de solidariedade social é a entidade, depois da câmara municipal, que mais empregos cria em Olhão.

DIREITO DE RESPOSTA

Na sequência da notícia “Deficiente agredido com cinto em lar”, publicada a 13 de Janeiro de 2008 pelo CM, recebemos o seguinte direito de resposta de Hermínia Graça, ex-presidente da associação de apoio a deficientes ACASO, com sede na Cidade de Olhão:

“Eu, Hermínia Graça, presidente da direcção da ACASO durante os primeiros meses de 2006, apresentei a demissão ‘por quebra de lealdade e confiança em alguns membros da direcção’, tal como vem explícito na minha carta de demissão, entregue à direcção, e não pela razão que é mencionada na acta.

Também na assembleia geral seguinte justifiquei perante a mesma a razão da minha demissão, de acordo com a carta entregue, não tendo havido qualquer rectificação por parte da direcção, que estava presente.

Assim as razões apontadas não são verdadeiras.”

Fonte:Correio da Manhã
 
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