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Desde que a cabeça do bebé coroa até à expulsão do corpo são quinze minutos. Mas parecem quinze horas. É a melhor e a pior parte do parto.
Sente-se um alívio gigante quando, no meio das dores e do cansaço, alguém nos diz: «Já se vê a cabeça do bebé». Parece mentira. Um boa notícia, finalmente. Uma recompensa pelo esforço contínuo de há duas, sete, 12, às vezes 24 horas.
«Já se vê a cabeça», dizem-nos. E nós imaginamos uma cabecinha cor-de-rosa, lisinha, redondinha. Mas o que se vê parece meia noz a espreitar: escura e rugosa. A esta fase do parto chama-se coroação. É o alto da cabeça que se assoma, a parte onde se colocaria uma coroa.
Estamos na recta final da segunda fase trabalho do parto, o período expulsivo. Esta fase pode durar, no total, entre meia hora e duas horas (mais tempo nos primeiros filhos, menos tempos nos restantes). Começa quando a dilatação está completa, ou seja, quando o colo do útero chega aos 10 centímetros. Muitas vezes, é só nesta fase que rebenta a bolsa de águas. Outras vezes (embora raramente), o bebé até pode nascer dentro da bolsa, que se rompe nessa altura.
No período expulsivo, as contracções tornam-se mais prolongadas e sucedem-se cada vez mais rapidamente. Surge uma vontade incontrolável de fazer força (idêntica à vontade de ir à casa-de-banho) que resulta do saco amniótico ou parte dele avançar pelo colo do útero dilatado e fazer pressão no recto. Cada mulher deve seguir o seu instinto e fazer força quando e como quiser. Mas não é aconselhável fazer força antes de a dilatação estar completa, para não desperdiçar energias, nem rasgar o períneo.
O normal, nesta fase, é que, em cada contracção, se sinta vontade de fazer força três a cinco vezes (durante quatro a seis segundos). As contracções são intensas e focam-se na zona abdominal, lombar e pélvica e às vezes também nas pernas.
O bebé está a fazer pressão sobre o pavimento pélvico. A cada contracção, a cabeça move-se até encontrar o caminho. Depois roda e aparece na abertura vaginal.
A expulsão
Nem sempre a mulher consegue sentir que a cabeça do bebé já desceu. Por isso, é bom que alguém lhe diga que ela está mesmo ali, que faltam apenas mais duas ou três contracções para ter o bebé nos braços. Se estiver de cócoras ou sentada (as posições que mais facilitam o nascimento), a mulher pode pedir um espelho e ver a primeira nesga do seu filho ou pode esticar a mão e tocar-lhe. É absolutamente maravilhoso e dá a energia necessária para a próxima contracção. Como se fosse um impulso reflexo, imediatamente o corpo transforma-se numa onda gigante que rebenta na zona pélvica. A vontade de fazer força é agora maior do que nunca. Sente-se uma sensação de estiramento e de ardor na abertura vaginal. Chamam-lhe o «anel de fogo». A espessura do períneo é reduzida de aproximadamente cinco centímetros para menos de um centímetro. Depois do parto volta ao normal.
A passagem da cabeça do bebé pela pélvis só é possível porque o seu cérebro é extremamente macio e flexível. Além disso, os ossos do crânio estão divididos em placas separadas, cada uma capaz de se sobrepor ligeiramente sobre as outras. Características que permitem que a cabeça do bebé seja comprimida e moldada ao passar pelo estreito canal de parto. Ainda assim, o bebé pode nascer com a cabeça mais ovalada, mas uns dias depois essa forma desaparece.
A cabeça do bebé atravessa então a vagina e passa para o lado de fora. Ao mesmo tempo é expelida uma grande quantidade de líquido amniótico, como se fosse um jorro de água. Alguns médicos ajudam a cabeça a sair, dando um corte no períneo – a episiotomia. Em certos casos, pode ser necessário usar fórceps ou ventosa, especialmente se o parto já estiver muito prolongado e a mãe muito cansada. Mas, na maior parte das vezes, é possível esperar e deixar que o períneo se distenda gradualmente, ajudando a evitar lacerações. Manter a tranquilidade (tanto a mãe, como todos os que a rodeiam) é essencial para que este processo possa decorrer devagar, nos tempos certos.
A saída da cabeça talvez seja uma das partes mais dolorosas do parto, principalmente para as mulheres que não receberam analgesia. Estar numa posição vertical, imersa em água, gritar ou apertar mãos amigas são algumas das formas de aliviar a dor sem recorrer a fármacos. Têm a vantagem de proporcionar uma maior liberdade de movimentos e de permitir que a mulher controle quando e como fazer força, em vez de ter de esperar pelas indicações do médico ou do enfermeiro.
Com a cabeça do bebé já deste lado, a mãe pode descansar mais um pouco. Respirar fundo. Recuperar energias. Neste momento, o bebé está com o rosto virado para baixo, olhos fechados, pele muito vermelha ou arroxeada. Também pode estar com o rosto virado para cima e, assim, é mesmo necessária ajuda médica, pois o bebé terá mais dificuldade em fazer o movimento de rotação que lhe permitirá expulsar o resto do corpo da barriga da mãe.
Se estiver na posição certa, na maior parte dos casos, espera-se que o bebé decida avançar. Novamente, se a mãe lhe tocar na cabeça pode ganhar um fôlego extra, o último necessário para esta tarefa tão árdua quanto gratificante. Com a próxima contracção, e empurrado pela força da mãe, o bebé roda 45 graus, como se fosse uma espiral. Sai um ombro, depois outro e rapidamente o corpo todo está cá fora. Uma sensação de maciez passa pelo massacrado períneo, como se fosse uma massagem de agradecimento. Esta sensação deve-se ao facto de a pele do bebé estar coberta com uma matéria gorda chamada vérnix (verniz). Uma espécie de lubrificante da pele que o ajuda a escorregar pelo canal de parto. Este verniz tem uma cor esbranquiçada, que resulta da mistura de uma substância gordurosa produzida pelas glândulas sebáceas e das células de descamação do feto. Depois do nascimento, serve como camada isoladora para proteger o bebé da mudança de temperatura e como barreira defensiva de infecções ligeiras.
Idealmente, poderia ser a mãe a aparar o bebé, mas quase sempre é o profissional de saúde que lhe pega primeiro e o entrega à progenitora. As dores desaparecem. A emoção cresce. O reizinho chegou finalmente ao reino.
Conselhos para a fase de expulsão
- Permaneça paciente mas não fique demasiado relaxada nesta fase. Um pouco de adrenalina pode ajudá-la a encontrar o impulso de energia que precisa para empurrar o bebé para fora.
- Faça força apenas com as contracções.
- Não se agache demasiado na fase de expulsão pois pode estirar de mais o períneo e fazer com que rasgue mais facilmente.
- Quando a cabeça do bebé começar a sair, mantenha a atenção nela, esticando suavemente a sua vagina até à elasticidade máxima. A sua dedicação no estiramento pré-natal ajudará muito a cabeça do seu bebé a não voltar a escorregar para a vagina entre contracções.
- É maravilhoso procurar com a mão e tocar na cabeça do bebé. Muitas mães consideram isto encorajador e uma recompensa final pelo seu esforço.
- Quando a cabeça do bebé sai, é muito importante concentrar-se no relaxamento e esperar a contracção seguinte antes de empurrar o resto do bebé para fora.
Quando e como fazer força
Apesar de ainda ser muito habitual os profissionais de saúde insistirem em dirigir a força da mulher durante o parto e em alguns centros e preparação para o parto ainda ensinarem técnicas de respiração controlada, tais práticas são desaconselhadas em recentes estudos científicos. Isso mesmo é explicado no livro «Iniciativa parto normal – documento de consenso», da Associação Portuguesa de Enfermeiros Obstetras:
Não existem estudos que sustentem que é benéfico instruir a mulher a não emitir nenhum ruído ou grito, nem a expulsar o ar enquanto puxa na fase expulsiva, nem a puxar com força ou duração determinadas. Tão pouco há evidência científica que sugira a necessidade de instruir uma mulher acerca de quando e de como deve puxar.
A prática de puxos dirigidos com a glote fechada (fazer força sustendo a respiração) é prejudicial, pelo que a OMS recomendou a eliminação desta prática.
Deve-se incutir às mulheres a confiança necessária para que sigam os seus próprios instintos. Se a conduta materna e os instintos fossem respeitados, a grande maioria dos partos progrediria de forma fisiológica.
Inais&filhos