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Informação Cancro do pâncreas é sempre fatal? Só afeta idosos? Médica desvenda mitos

Lordelo

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Pode ter a ideia de que o cancro do pâncreas é sempre fatal e até que só afeta idosos. Contudo, não é bem assim. Estes são apenas dois dos mitos associados a esta doença que importa esclarecer.


O Lifestyle a Minuto falou com a médica Sara Meireles, assistente graduada de Oncologia Médica no serviço de Oncologia Médica da ULS São João, no Porto, para desvendar alguns dos mitos mais comuns relacionados com esta condição.


"A chave é o diagnóstico precoce, que é essencial para aumentar as hipóteses de um tratamento cirúrgico. No entanto, essa continua a ser a grande dificuldade neste tipo de tumor", começa por explicar a médica.


Sara Meireles afirma ainda que ter em conta alguns fatores de risco pode ser bastante benéfico. "Ajuda a diminuir o risco, embora não exista uma forma de prevenção total. Mesmo controlando tudo, não há uma garantia absoluta, assim como ter algum fator de risco não significa que vai necessariamente desenvolver cancro do pâncreas."

Notícias ao Minuto
Sara Meireles é assistente graduada de Oncologia Médica© ULS São João


Mito 1: Só existe um tipo de cancro do pâncreas


A explicação: Quando falamos em cancro do pâncreas, estamos quase sempre a referir-nos ao adenocarcinoma ductal do pâncreas, que é o subtipo mais frequente em cerca de 90% dos casos, e que se forma a partir das células exócrinas que produzem as enzimas digestivas. Existem, no entanto, outras neoplasias pancreáticas menos frequentes, como os tumores neuroendócrinos do pâncreas, que surgem nas células produtoras de hormonas, e que apresentam um comportamento clínico, prognóstico e tratamento muito distintos. Outros subtipos mais raros, com características próprias, são o caso do carcinoma de células acinares e o carcinoma adenoescamoso.





Mito 2: O cancro do pâncreas é sempre fatal

A explicação: O cancro do pâncreas tem, de facto, um prognóstico reservado, porque é um tumor biologicamente agressivo e, na maioria das vezes, é diagnosticado já numa fase avançada. Ainda assim, cerca de 20% dos doentes são identificados numa fase em que o tumor é ressecável, permitindo avançar de imediato para cirurgia — o único tratamento com potencial curativo. Já cerca de 50% dos doentes são diagnosticados com doença metastizada (disseminada). Existe ainda um grupo de doentes com doença localmente avançada, em que o tumor já apresenta um crescimento significativo ou é mesmo irressecável. Nestes casos, o tratamento passa por quimioterapia, com o objetivo de tentar reduzir o tumor, sendo que uma pequena percentagem ainda pode vir a ter indicação cirúrgica. A chave é o diagnóstico precoce, que é essencial para aumentar as hipóteses de um tratamento cirúrgico. No entanto, essa continua a ser a grande dificuldade neste tipo de tumor.


Mito 3: A cirurgia pode fazer com que o cancro se espalhe para outras partes do corpo


A explicação: Qualquer intervenção invasiva pode acarretar riscos, e por isso é importante que estes tumores sejam tratados em centros com equipas experientes e dedicadas ao tratamento do cancro do pâncreas. No entanto, a cirurgia, por si só, não é considerada uma causa direta de disseminação do cancro para outras partes do corpo. É importante reconhecer que uma percentagem elevada dos doentes com cancro do pâncreas já apresentam micrometástases ou células tumorais em circulação no momento do diagnóstico, que não são detetáveis nos exames de imagem. Ou seja, a presença de doença oculta e a alta taxa de recorrência da doença refletem a natureza agressiva deste tumor, daí a importância de alguns doentes iniciarem o tratamento por quimioterapia antes de propor para uma potencial cirurgia.


Mito 4: O cancro do pâncreas é apenas hereditário


A explicação: A maioria dos casos é esporádica e ocorre em indivíduos sem história familiar, estando associada a fatores de risco modificáveis e ambientais. Apenas 5 a 10% dos casos estão associados a fatores hereditários. Ainda assim, cada vez mais as recomendações consideram estudos genéticos em todos os casos, independentemente da idade e da história familiar, não só para identificar o risco familiar, mas também porque pode revelar potenciais alvos terapêuticos que permitem personalizar o tratamento.


Mito 5: O cancro do pâncreas só afeta idosos


A explicação: A incidência é mais elevada entre os 60 e os 70 anos, mas recentemente temos observado um aumento de casos na faixa entre os 40 e os 50 anos. Apesar dessa tendência, a maioria dos diagnósticos continua a ocorrer acima dos 60 anos.


Mito 6: O cancro não apresenta sintomas antes de um estágio avançado


A explicação: A grande dificuldade deste tumor é que numa fase inicial pode não apresentar sintomas ou os sintomas são muito inespecíficos — perda de peso, náuseas, mal-estar ou desconforto abdominal — e podem facilmente ser confundidos com outras condições menos graves. Como consequência, muitos doentes só procuram ajuda médica quando surgem sinais mais evidentes, altura em que a doença já está mais avançada. Por isso, é importante não desvalorizar se os sintomas persistirem ou se surgirem outros sinais como pele e olhos amarelados (icterícia), urina de cor escura e/ou fezes claras, dor abdominal com irradiação para as costas, etc. e procurar avaliação médica imediata.


Mito 7: Não é possível fazer nada para diminuir o risco?


A explicação: Apesar de ser um tumor com um prognóstico reservado, existem fatores de risco modificáveis que podem ajudar a reduzir a probabilidade de desenvolver cancro do pâncreas. Entre eles:


  • Tabagismo – cessar o consumo de tabaco reduz significativamente o risco ao longo do tempo;
  • Consumo excessivo de álcool – a abstinência prolongada pode atenuar esse risco;
    Obesidade e alimentação pouco saudável – reduzir gorduras saturadas e carnes processadas, favorecer uma dieta rica em frutais e vegetais, e a prática regular de atividade física são recomendados;
  • Diabetes tipo 2 não controlada – pode aumentar o risco;
  • Pancreatite crónica – inflamação persistente do pâncreas deve ser tratada adequadamente;
  • Exposição a agentes químicos e tóxicos – deve ser evitada.

Trabalhar estes fatores ajuda a diminuir o risco, embora não exista uma forma de prevenção total. Mesmo controlando tudo, não há uma garantia absoluta, assim como ter algum fator de risco não significa que vai necessariamente desenvolver cancro do pâncreas.

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