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Arquitectura do Renascimento
Cúpula da Santa Maria del Fiore, em Florença, Itália.
Periodização
A história da arquitectura do Renascimento, como um todo, costuma ser dividida em três grandes períodos:
1. Século XIV e início do XV. Neste primeiro momento destaca-se a figura de Filippo Brunelleschi e uma arquitectura que se pretende classicista, mas ainda sem o referencial teórico e, principalmente, a canonização, que caracterizará o período seguinte.
2. Século XV e início do XVI. Considerado o período da Alta Renascença, no qual atuam arquitetos como Donnato Bramante e Leon Battista Alberti.
3. Século XVI. Neste momento, as características individuais dos arquitectos já começam a sobrepor-se às da canonização clássica, o que irá levar ao chamado Maneirismo. Atuam arquitectos como Michael Ângelo, Andrea Palladio e Giulio Romano.
Características gerais
A Escola de Atenas, de Rafael Sanzio é uma obra exemplar da relação do Renascimento com o Humanismo e o Classicismo
A arquitectura do Renascimento está bastante comprometida com uma visão-de-mundo assente em dois pilares essenciais: o Classicismo e o Humanismo. Além disso, vale lembrar que, ainda que ela surja não totalmente desvinculada dos valores e hábitos medievais, os conceitos que estão por trás desta arquitectura são os de uma efectiva e consciente ruptura com a produção artística da Idade Média (em especial com o estilo gótico).
Através do Classicismo, os homens do Renascimento encaravam o mundo greco-romano como um modelo para a sua sociedade contemporânea, buscando aplicar na realidade material quotidiana aquilo que consideravam pertencer ao mundo das ideias. Neste sentido, a arquitectura passou, cada vez mais, a tentar concretizar conceitos clássicos como a Beleza, acreditando que a canonização e o ordenamento estabelecido pelos arquitectos da Antiguidade Clássica constituíam o caminho correto a ser seguído a fim de alcançar este mundo ideal. Sabendo que os valores clássicos, do ponto de vista do Cristianismo, dominante no período (e lembrando que o Renascimento surge na Itália, região da Europa onde a influência do Vaticano é a mais visível), eram considerados pagãos e objectos de pecado, o Renascimento também se caracterizou pela integração do projecto de mundo cristão com a visão de mundo clássica. A Natureza era vista como a criação máxima de Deus, o elemento mais próximo da perfeição (atingindo, portanto, o ideal de Perfeição procurado pela estética Clássica). Assim, a busca de inspiração nas formas da Natureza, tal qual propõe o Clássico, não só se justifica como passa a ser um valor em si mesmo.
Sendo a Natureza uma criação perfeita, também o Homem volta a ser visto como ser perfeito: ele tanto se manifesta como o ser que é a semelhança de Deus na Terra, como volta a se considerar como medida e referência do Universo. É neste sentido que vai se manifestar de forma bastante impacta (e talvez, com importância ainda maior que a do Classicismo) o atributo humanista do Renascimento. O Humanismo manifestar-se-á como um profundo sentimento comprometido com a valorização da presença do Homem no Universo, na medida em que este indivíduo humano afirma-se perante a Natureza e deixa de apenas observá-la para entendê-la, procurando alterá-la e buscando aquilo que ele considera como o Conhecimento do mundo (mais do que simplesmente o "conhecimento" da coisas).
A importância da perspectiva
O espaço perspéctico
Um dado importante na definição da espacialidade do Renascimento é a incorporação da perspectiva como instrumento de projecto e da noção do desenho como uma forma de conhecimento.
A principal ruptura com o espaço medieval se dá a partir do momento em que os arquitectos do Renascimento passam a designar nos seus edifícios um ritmo de percurso em que as regras de desenho do espaço são facilmente assimiladas pelos usuários e estes, a partir de uma análise objetiva do espaço, ainda que em um certo sentido empírica, têm condições de dominá-lo e impor o seu ritmo. O domínio da linguagem clássica, usada para se chegar a estes efeitos de percurso, só se torna possível quando simulado através do projecto pela perspectiva. Como resultado, tem-se um espaço perspectivo, integralmente apreendido pelo observador e cujas relações proporcionais se mostram de forma analítica e objectiva.
Estas novas relações espaciais mostram-se especialmente evidentes quando comparadas com o espaço presente nas catedrais góticas. Nestas, a intenção arquitectónica é a de que o observador, desde o momento em que entra no edifício, seja dominado pelo seu espaço e instantaneamente deseje olhar para cima, procurando um movimento ascendente em busca do Senhor. Em outras palavras, toda a monumentalidade daquele espaço tem a função, entre outras, de possuir o indivíduo e determinar seus desejos, o ritmo de seu passo e a forma como ele usufrui do edifício. No espaço renascentista a intenção é justamente a oposta: não mais o edifício domina o indivíduo, mas este apreende suas relações espaciais e domina o edifício. Em outras palavras, busca-se neste momento aquela que seria chamada de medida do homem.
A tratadística renascentista
Inspiração vitruviana
Leonardo da Vinci foi um dos artistas inspirados em Vitrúvio. Este desenho (o Homem vitruviano) é a interpretação de da Vinci para as regras proporcionais definidas por Vitrúvio em seus Dez livros da arquitectura
A recuperação do ideal da arquitectura clássica, inserida na cultura do Renascimento, deveria necessariamente transcender a mera observação da realidade. Ou seja, não se desejava que a arquitectura produzida pelos arquitectos do Renascimento, humanistas que em geral procuravam manter uma imagem erudita e literato, fosse mera reprodução das ruínas greco-romanas. Os arquitectos estavam em busca de um modelo ideal para suas obras, em detrimento dos modelos existentes. Estes modelos precisavam, necessariamente, ser sistematizados e canonizados em uma forma teórica, o que daria origem aos tratados da arquitectura clássica.
Ainda que os primeiros arquitectos do período tenham se inspirado predominantemente nas ruínas greco-romanas, à medida que o Renascimento evoluía, uma série de indivíduos passaram a, sistematicamente, propor (ou recuperar) os cânones e o ordenamento do Classicismo, chegando, eventualmente, até a redigir tratados com conteúdos efectivamente anti-clássicos.
Ainda que a inspiração nas paisagens clássicas em ruínas, na definição do Renascimento, tenha sido bastante importante, a preservação dos "Dez livros da arquitectura" do tratadista romano Marco Vitrúvio Polião, do século I a.C., teve um papel fundamental na difusão das ideias de cânone e ordem. Este foi o único tratado do período clássico que sobreviveu à queda de Roma e à Idade Média, tendo sido copiado e mantido, de forma fragmentada e por vezes precária, em bibliotecas localizadas em mosteiros. Porém, à medida que os volumes eram copiados e traduzidos, os desenhos e esboços que faziam parte dos tratados originais foram se perdendo, de forma que o conteúdo do tratado tendia a se tornar mais confuso e, por vezes, contraditório. Por este motivo, grande parte do esforço tratadístico renascentista será o de recuperar este conteúdo perdido, chegando a propor novos padrões que de forma alguma existiam no tratado original.
O tratado vitruviano, portanto, tanto pela sua "incompletude" naquele momento quanto pelo fato de ser o único grande referencial teórico da arquitectura clássica existente, servirá de base para todos os principais estudos realizados durante o Renascimento. Por exemplo, um trabalho nitidamente derivado do vitruviano são os dez livros de Alberti (um tratado conhecido como De re aedificatoria).
A busca do ordenamento clássico na tratadística do período. A imagem faz parte do tratado de Vignola (As regras das cinco ordens da Arquitetura).
Os tratados e a posição social do arquitecto
Além da sempre presente inspiração vitruviana, um elemento que veio a caracterizar os principais tratados renascentistas, especialmente aqueles que foram propostos nos primeiros momentos do Renascimento, é o fato de seus autores procurarem, muitas vezes com uma preocupação maior que com a investigação da arquitectura de fato, posicionarem o arquitecto como uma figura tipicamente pertencente à elite e fundamental na definição da estrutura política de uma determinada sociedade. Tal determinação quanto à profissão não é, claramente, um mero acaso ou "corporativismo" daqueles tratadistas, mas um fenómeno que está absolutamente ligado às mudanças sociais que o artista e o artesão têm sofrido (ver as próximas secções para uma análise mais profunda desta situação). Neste sentido, os tratados efectivamente servem como meios de propaganda deste novo profissional que estava surgindo, em oposição à visão tradicional (associando inexoravelmente o arquitecto às actividades manuais, e portanto, populares e anti-intelectuais). A constatação da ocorrência desta promoção dos arquitectos como artistas nobres e intelectuais, diversos dos "meros artesãos de origem popular" também se evidencia quando se verifica para quem os tratados eram escritos: em geral, eram dedicados à nobreza (ou a algum nobre em específico), possuíam um estilo refinado e abordavam questões directamente que supostamente seriam de interesse político dos príncipes que compunham a estrutura política italiana.
Apesar da arquitectura romana também ter se preocupado com tal questão (e o tratado vitruviano ressalta este dado, visto que ele próprio é uma carta dirigida ao Imperador), a manifestação deste desejo de afirmação social por parte dos arquitectos renascentistas é um elemento de destaque no período quando se compara com a forma de produção artística medieval, já citada como sendo caracterizada pela criação colectiva (e anónima, por excelência), dominada pela cultura do saber fazer. Os tratados formalizam o desejo do homem renascentista de manifestar-se como indivíduo perante o Mundo e ajudam na contextualização da arquitectura como disciplina académica.
Toda esta discussão fica clara na já citada obra albertiana De reaedificatoria. Aí, Alberti expressa esta nova visão do arquitecto quando afirma categoricamente que "o arquitecto é o braço do Príncipe". Retoma a interpretação vitruviana da arquitectura e afirma que ela não se limita à mera construção, pois a arquitectura de verdade é dotada da Virtude, segundo seu conceito clássico (que a associa ao domínio dos Homens). Se a arquitetura é virtuosa, ela, naturalmente, é peça do jogo político, já que o tal domínio dos Homens faz parte da base da formulação da Política clássica (que está associada à ideia de cidade como lugar da convivência e germinadora da política). Por fim, o estudo rigoroso que faz das ordens clássicas está sempre, segundo seu raciocínio, ligado a esta característica virtuosa da arquitectura. A Estética do Renascimento é, portanto, também um reflexo de um determinado pensamento político.
(...)
Origem Wikipédia

Cúpula da Santa Maria del Fiore, em Florença, Itália.
Periodização
A história da arquitectura do Renascimento, como um todo, costuma ser dividida em três grandes períodos:
1. Século XIV e início do XV. Neste primeiro momento destaca-se a figura de Filippo Brunelleschi e uma arquitectura que se pretende classicista, mas ainda sem o referencial teórico e, principalmente, a canonização, que caracterizará o período seguinte.
2. Século XV e início do XVI. Considerado o período da Alta Renascença, no qual atuam arquitetos como Donnato Bramante e Leon Battista Alberti.
3. Século XVI. Neste momento, as características individuais dos arquitectos já começam a sobrepor-se às da canonização clássica, o que irá levar ao chamado Maneirismo. Atuam arquitectos como Michael Ângelo, Andrea Palladio e Giulio Romano.
Características gerais

A Escola de Atenas, de Rafael Sanzio é uma obra exemplar da relação do Renascimento com o Humanismo e o Classicismo
A arquitectura do Renascimento está bastante comprometida com uma visão-de-mundo assente em dois pilares essenciais: o Classicismo e o Humanismo. Além disso, vale lembrar que, ainda que ela surja não totalmente desvinculada dos valores e hábitos medievais, os conceitos que estão por trás desta arquitectura são os de uma efectiva e consciente ruptura com a produção artística da Idade Média (em especial com o estilo gótico).
Através do Classicismo, os homens do Renascimento encaravam o mundo greco-romano como um modelo para a sua sociedade contemporânea, buscando aplicar na realidade material quotidiana aquilo que consideravam pertencer ao mundo das ideias. Neste sentido, a arquitectura passou, cada vez mais, a tentar concretizar conceitos clássicos como a Beleza, acreditando que a canonização e o ordenamento estabelecido pelos arquitectos da Antiguidade Clássica constituíam o caminho correto a ser seguído a fim de alcançar este mundo ideal. Sabendo que os valores clássicos, do ponto de vista do Cristianismo, dominante no período (e lembrando que o Renascimento surge na Itália, região da Europa onde a influência do Vaticano é a mais visível), eram considerados pagãos e objectos de pecado, o Renascimento também se caracterizou pela integração do projecto de mundo cristão com a visão de mundo clássica. A Natureza era vista como a criação máxima de Deus, o elemento mais próximo da perfeição (atingindo, portanto, o ideal de Perfeição procurado pela estética Clássica). Assim, a busca de inspiração nas formas da Natureza, tal qual propõe o Clássico, não só se justifica como passa a ser um valor em si mesmo.
Sendo a Natureza uma criação perfeita, também o Homem volta a ser visto como ser perfeito: ele tanto se manifesta como o ser que é a semelhança de Deus na Terra, como volta a se considerar como medida e referência do Universo. É neste sentido que vai se manifestar de forma bastante impacta (e talvez, com importância ainda maior que a do Classicismo) o atributo humanista do Renascimento. O Humanismo manifestar-se-á como um profundo sentimento comprometido com a valorização da presença do Homem no Universo, na medida em que este indivíduo humano afirma-se perante a Natureza e deixa de apenas observá-la para entendê-la, procurando alterá-la e buscando aquilo que ele considera como o Conhecimento do mundo (mais do que simplesmente o "conhecimento" da coisas).
A importância da perspectiva

O espaço perspéctico
Um dado importante na definição da espacialidade do Renascimento é a incorporação da perspectiva como instrumento de projecto e da noção do desenho como uma forma de conhecimento.
A principal ruptura com o espaço medieval se dá a partir do momento em que os arquitectos do Renascimento passam a designar nos seus edifícios um ritmo de percurso em que as regras de desenho do espaço são facilmente assimiladas pelos usuários e estes, a partir de uma análise objetiva do espaço, ainda que em um certo sentido empírica, têm condições de dominá-lo e impor o seu ritmo. O domínio da linguagem clássica, usada para se chegar a estes efeitos de percurso, só se torna possível quando simulado através do projecto pela perspectiva. Como resultado, tem-se um espaço perspectivo, integralmente apreendido pelo observador e cujas relações proporcionais se mostram de forma analítica e objectiva.
Estas novas relações espaciais mostram-se especialmente evidentes quando comparadas com o espaço presente nas catedrais góticas. Nestas, a intenção arquitectónica é a de que o observador, desde o momento em que entra no edifício, seja dominado pelo seu espaço e instantaneamente deseje olhar para cima, procurando um movimento ascendente em busca do Senhor. Em outras palavras, toda a monumentalidade daquele espaço tem a função, entre outras, de possuir o indivíduo e determinar seus desejos, o ritmo de seu passo e a forma como ele usufrui do edifício. No espaço renascentista a intenção é justamente a oposta: não mais o edifício domina o indivíduo, mas este apreende suas relações espaciais e domina o edifício. Em outras palavras, busca-se neste momento aquela que seria chamada de medida do homem.
A tratadística renascentista
Inspiração vitruviana

Leonardo da Vinci foi um dos artistas inspirados em Vitrúvio. Este desenho (o Homem vitruviano) é a interpretação de da Vinci para as regras proporcionais definidas por Vitrúvio em seus Dez livros da arquitectura
A recuperação do ideal da arquitectura clássica, inserida na cultura do Renascimento, deveria necessariamente transcender a mera observação da realidade. Ou seja, não se desejava que a arquitectura produzida pelos arquitectos do Renascimento, humanistas que em geral procuravam manter uma imagem erudita e literato, fosse mera reprodução das ruínas greco-romanas. Os arquitectos estavam em busca de um modelo ideal para suas obras, em detrimento dos modelos existentes. Estes modelos precisavam, necessariamente, ser sistematizados e canonizados em uma forma teórica, o que daria origem aos tratados da arquitectura clássica.
Ainda que os primeiros arquitectos do período tenham se inspirado predominantemente nas ruínas greco-romanas, à medida que o Renascimento evoluía, uma série de indivíduos passaram a, sistematicamente, propor (ou recuperar) os cânones e o ordenamento do Classicismo, chegando, eventualmente, até a redigir tratados com conteúdos efectivamente anti-clássicos.
Ainda que a inspiração nas paisagens clássicas em ruínas, na definição do Renascimento, tenha sido bastante importante, a preservação dos "Dez livros da arquitectura" do tratadista romano Marco Vitrúvio Polião, do século I a.C., teve um papel fundamental na difusão das ideias de cânone e ordem. Este foi o único tratado do período clássico que sobreviveu à queda de Roma e à Idade Média, tendo sido copiado e mantido, de forma fragmentada e por vezes precária, em bibliotecas localizadas em mosteiros. Porém, à medida que os volumes eram copiados e traduzidos, os desenhos e esboços que faziam parte dos tratados originais foram se perdendo, de forma que o conteúdo do tratado tendia a se tornar mais confuso e, por vezes, contraditório. Por este motivo, grande parte do esforço tratadístico renascentista será o de recuperar este conteúdo perdido, chegando a propor novos padrões que de forma alguma existiam no tratado original.
O tratado vitruviano, portanto, tanto pela sua "incompletude" naquele momento quanto pelo fato de ser o único grande referencial teórico da arquitectura clássica existente, servirá de base para todos os principais estudos realizados durante o Renascimento. Por exemplo, um trabalho nitidamente derivado do vitruviano são os dez livros de Alberti (um tratado conhecido como De re aedificatoria).

A busca do ordenamento clássico na tratadística do período. A imagem faz parte do tratado de Vignola (As regras das cinco ordens da Arquitetura).
Os tratados e a posição social do arquitecto
Além da sempre presente inspiração vitruviana, um elemento que veio a caracterizar os principais tratados renascentistas, especialmente aqueles que foram propostos nos primeiros momentos do Renascimento, é o fato de seus autores procurarem, muitas vezes com uma preocupação maior que com a investigação da arquitectura de fato, posicionarem o arquitecto como uma figura tipicamente pertencente à elite e fundamental na definição da estrutura política de uma determinada sociedade. Tal determinação quanto à profissão não é, claramente, um mero acaso ou "corporativismo" daqueles tratadistas, mas um fenómeno que está absolutamente ligado às mudanças sociais que o artista e o artesão têm sofrido (ver as próximas secções para uma análise mais profunda desta situação). Neste sentido, os tratados efectivamente servem como meios de propaganda deste novo profissional que estava surgindo, em oposição à visão tradicional (associando inexoravelmente o arquitecto às actividades manuais, e portanto, populares e anti-intelectuais). A constatação da ocorrência desta promoção dos arquitectos como artistas nobres e intelectuais, diversos dos "meros artesãos de origem popular" também se evidencia quando se verifica para quem os tratados eram escritos: em geral, eram dedicados à nobreza (ou a algum nobre em específico), possuíam um estilo refinado e abordavam questões directamente que supostamente seriam de interesse político dos príncipes que compunham a estrutura política italiana.
Apesar da arquitectura romana também ter se preocupado com tal questão (e o tratado vitruviano ressalta este dado, visto que ele próprio é uma carta dirigida ao Imperador), a manifestação deste desejo de afirmação social por parte dos arquitectos renascentistas é um elemento de destaque no período quando se compara com a forma de produção artística medieval, já citada como sendo caracterizada pela criação colectiva (e anónima, por excelência), dominada pela cultura do saber fazer. Os tratados formalizam o desejo do homem renascentista de manifestar-se como indivíduo perante o Mundo e ajudam na contextualização da arquitectura como disciplina académica.
Toda esta discussão fica clara na já citada obra albertiana De reaedificatoria. Aí, Alberti expressa esta nova visão do arquitecto quando afirma categoricamente que "o arquitecto é o braço do Príncipe". Retoma a interpretação vitruviana da arquitectura e afirma que ela não se limita à mera construção, pois a arquitectura de verdade é dotada da Virtude, segundo seu conceito clássico (que a associa ao domínio dos Homens). Se a arquitetura é virtuosa, ela, naturalmente, é peça do jogo político, já que o tal domínio dos Homens faz parte da base da formulação da Política clássica (que está associada à ideia de cidade como lugar da convivência e germinadora da política). Por fim, o estudo rigoroso que faz das ordens clássicas está sempre, segundo seu raciocínio, ligado a esta característica virtuosa da arquitectura. A Estética do Renascimento é, portanto, também um reflexo de um determinado pensamento político.
(...)
Origem Wikipédia