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- Set 24, 2006
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Andar às cegas na cidade
Cabinas, buracos, lixo, obras, tudo transforma a caminhada dos cegos num ziguezague
RICARDO PAZ BARROSO
O JN acompanhou dois cegos num percurso de centenas de metros em Lisboa, na Avenida da Liberdade e suas imediações. As armadilhas são várias, os perigos reais e as consequências dolorosas e só não vê quem não quer...
O ponto de encontro com João Moniz e Abílio Oliveira - um cego e um amblíope que trabalham em Lisboa - estava marcado junto à boca do metro da Avenida da Liberdade, relativamente próximo da delegação de Lisboa da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), da qual os dois integram a direcção.
A cidade estava tranquila, apenas se viam turistas e muitos lugares de estacionamento vagos. Estava prometido um passeio com escassos 400 metros de percurso, para mostrar o calvário por que passam os deficientes visuais na capital. João e Abílio garantem que esta zona "até nem é das piores da capital".
Logo ali apanhámos umas das várias armadilhas de que se queixam os deficientes visuais: Um posto público com dois telefones separados apenas por uma barreira de plástico que não chega ao chão, ou seja, indetectáveis pela bengala.
"Há seis meses, circulava por uma estação de metro que não conhecia bem e ia junto à parede quando choquei forte com a cabeça numa estrutura destas, o que me magoou ao ponto de fazer sangue", lembrou João Moniz, 33 anos, telefonista numa grande superfície em Lisboa, e presidente da delegação lisboeta da ACAPO.
"Ou quando as cabinas telefónicas estão no meio de passeios apertados, o que nos obriga a ir para o alcatrão, sem que consigamos ver se há carros", completa Abílio Oliveira, 43 anos, telefonista, mas na Câmara de Lisboa, e secretário da delegação presidida por João Moniz.
Também uma placa de publicidade, que chega a ocupar meia largura do passeio público, foi alvo de críticas e testes destes dois deficientes visuais, pois a bengala também não as detecta no imediato.
Ao descer a avenida, um pouco antes da Rua das Pretas, de novo um obstáculo: Uma volumosa placa de cimento ocupa o passeio na íntegra, com vigas de ferro a segurar a fachada há muito abandonada, já que o miolo do prédio ruiu há anos.
Além da parte estética incompreensível para uma zona nobre da cidade, aquela solução provisória de segurança obriga a circular pela rua. "Já estamos mais ou menos a habituados a estas eventualidades permanentes", brincou Abílio Oliveira, que estima em 160 mil o número de deficientes visuais em Portugal.
Mas há outras armadilhas detectáveis num tão curto passeio pela avenida. O lixo que se acumula em certos passeios; os dejectos dos animais que os donos não apanham do chão; as rodas de cimento que evitam o estacionamento em certas zonas ("essas dão queda garantida", diz João Moniz) e placas de trânsito à altura das cabeças, que já provocaram muitos acidentes.
João Moniz deixa-nos com interrogações prementes: "E de quem é a culpa desses acidentes? E se um dia há ferimentos graves?"
JN
Cabinas, buracos, lixo, obras, tudo transforma a caminhada dos cegos num ziguezague
RICARDO PAZ BARROSO
O JN acompanhou dois cegos num percurso de centenas de metros em Lisboa, na Avenida da Liberdade e suas imediações. As armadilhas são várias, os perigos reais e as consequências dolorosas e só não vê quem não quer...
O ponto de encontro com João Moniz e Abílio Oliveira - um cego e um amblíope que trabalham em Lisboa - estava marcado junto à boca do metro da Avenida da Liberdade, relativamente próximo da delegação de Lisboa da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), da qual os dois integram a direcção.
A cidade estava tranquila, apenas se viam turistas e muitos lugares de estacionamento vagos. Estava prometido um passeio com escassos 400 metros de percurso, para mostrar o calvário por que passam os deficientes visuais na capital. João e Abílio garantem que esta zona "até nem é das piores da capital".
Logo ali apanhámos umas das várias armadilhas de que se queixam os deficientes visuais: Um posto público com dois telefones separados apenas por uma barreira de plástico que não chega ao chão, ou seja, indetectáveis pela bengala.
"Há seis meses, circulava por uma estação de metro que não conhecia bem e ia junto à parede quando choquei forte com a cabeça numa estrutura destas, o que me magoou ao ponto de fazer sangue", lembrou João Moniz, 33 anos, telefonista numa grande superfície em Lisboa, e presidente da delegação lisboeta da ACAPO.
"Ou quando as cabinas telefónicas estão no meio de passeios apertados, o que nos obriga a ir para o alcatrão, sem que consigamos ver se há carros", completa Abílio Oliveira, 43 anos, telefonista, mas na Câmara de Lisboa, e secretário da delegação presidida por João Moniz.
Também uma placa de publicidade, que chega a ocupar meia largura do passeio público, foi alvo de críticas e testes destes dois deficientes visuais, pois a bengala também não as detecta no imediato.
Ao descer a avenida, um pouco antes da Rua das Pretas, de novo um obstáculo: Uma volumosa placa de cimento ocupa o passeio na íntegra, com vigas de ferro a segurar a fachada há muito abandonada, já que o miolo do prédio ruiu há anos.
Além da parte estética incompreensível para uma zona nobre da cidade, aquela solução provisória de segurança obriga a circular pela rua. "Já estamos mais ou menos a habituados a estas eventualidades permanentes", brincou Abílio Oliveira, que estima em 160 mil o número de deficientes visuais em Portugal.
Mas há outras armadilhas detectáveis num tão curto passeio pela avenida. O lixo que se acumula em certos passeios; os dejectos dos animais que os donos não apanham do chão; as rodas de cimento que evitam o estacionamento em certas zonas ("essas dão queda garantida", diz João Moniz) e placas de trânsito à altura das cabeças, que já provocaram muitos acidentes.
João Moniz deixa-nos com interrogações prementes: "E de quem é a culpa desses acidentes? E se um dia há ferimentos graves?"
JN