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Vampire Weekend: 'Nunca nos quisemos resignar a ser indie'

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'Nunca nos quisemos resignar a ser indie'

Cinco anos depois da estreia, os Vampire Weekend tornaram-se um fenómeno de sucesso mundial.
O novo Modern Vampires of the City é o disco mais aplaudido da banda nova-iorquina e conquistou o top de vendas americano logo na semana de lançamento. Com concerto agendado para o primeiro dia do Optimus Alive, Rostam Batmanglij, considerado o ‘maestro sonoro’ da formação, conta ao SOL_como o quarteto lida com a fama e o prazer pessoal que tem quando encontra inspiração para compor uma canção, como aconteceu da última vez que esteve em Portugal e escreveu ‘Ya Hey’O ano ainda vai a meio, mas 2013 está a ser bastante intenso. Lançaram um novo disco em Maio e andam em digressão pelo mundo até Novembro. Depois de um 2012 sossegado, como está a ser este regresso aos palcos?

A minha parte preferida do processo é fazer canções e gravar discos, mas também consigo encontrar maneiras de desfrutar das digressões e das viagens. A estrada permite-nos explorar diferentes aspectos de ser músico e isso pode ser divertido. Especialmente quando consigo trabalhar um pouco na composição de novas músicas durante a digressão.

Há muitos músicos que dizem que não conseguem fazer música em digressão porque há muita distracção. Isso não é um problema para si?

Não, apesar de ser um tipo de escrita completamente diferente daquela que se faz em casa, quando não se anda de um lado para o outro. Escrever na estrada é como plantar sementes, nunca é nada de muito concreto. É um processo de ir coleccionando pequenas ideias para serem trabalhadas mais tarde porque para terminar uma canção, aí sim, tenho de me entregar por inteiro à música para conseguir chegar a algum lado. Mas é definitivamente possível começar canções em digressão, não é possível é concluí-las.

As cidades por onde passa influenciam-no de alguma forma?

Há uma sensação que se obtém quando se viaja muito e que passa por não se ter uma rotina e uma casa fixa para onde regressar todos os dias. É uma sensação de andar quase em queda livre e, para mim, esse movimento constante é inspirador para a escrita de canções. O refrão de ‘Ya Hey’, por exemplo, foi escrito em Portugal, depois de fazer o soundcheck [os preparativos técnicos que têm lugar antes do espectáculo] de um concerto que demos aí.

Já tocaram várias vezes cá. Que memórias guarda do país?

Há uma luz muito especial em Portugal, que vem do oceano Atlântico. Também me lembro de andar por Lisboa e achar que a cidade tem um ambiente relaxado e divertido que cativa os visitantes.

O que podemos esperar do concerto no Optimus Alive?

Como já temos três álbuns, torna-se mais fácil construir um espectáculo. Neste novo disco temos canções mais suaves e calmas, um pouco mais intimistas, e isso permite-nos criar um espectáculo mais dinâmico. Então misturamos muito as canções dos três discos para, com essa conjugação, conseguirmos criar um ambiente diversificado, com picos de energia e outros momentos mais tranquilos.

Desde que Modern Vampires of the City saiu, andam com uma média de 15 concertos por mês. Ainda conseguem tirar gozo de tocar ao vivo? Como se evita automatizar a performance?

Não levando isto demasiado a sério. É a nossa profissão e somos profissionais no que fazemos, mas é fundamental relaxar em palco. Só assim nos conseguimos divertir. Mas, sinceramente, não me importo muito de tocar sempre as mesmas canções. Há algumas canções de que gosto mesmo muito e o que tento fazer é tirar o máximo proveito delas, para depois superar as que já não me dão tanto prazer tocar.

Quais são essas?

Prefiro não dizer… [risos]

É raro ouvir um músico assumir que não gosta de algumas das canções que escreveu.

Acho que isto acontece com toda a gente, não é um sentimento exclusivo meu.

Por que não deixa de as tocar?

Porque às vezes, embora já não me identifique com elas, faz sentido introduzi-las no espectáculo. Algumas são as que o público mais quer ouvir.

O que o faz gostar de uma canção?

A forma como a melodia interage com o refrão. O espírito da canção e a bateria… A bateria é muito importante para mim.

Ouvindo os vossos três álbuns, percebe-se bem essa paixão pela bateria. É o som dominante na maioria das canções e marca o ritmo festivo da vossa música. Mas, comparando com os discos anteriores, não sendo um registo sombrio, Modern Vampires of the City parece povoado por ‘nuvens mais negras’, como aliás a capa do disco sugere. O que mudou?

A chegada aos 30 pode ter influenciado, mas acho que finalmente as pessoas compreendem que a composição é o alicerce de tudo o que fazemos. Preocupamo-nos muito em construir canções com diferentes texturas e camadas, tanto a nível sonoro como ao nível das letras. Com o nosso primeiro álbum, as pessoas acharam que éramos um determinado tipo de banda e que só ouvíamos um determinado tipo de música. E isso não é verdade, aquele álbum é que explora muito guitarras africanizadas e música clássica. Essas influências continuam a ser uma parte muito importantes do que fazemos, mas a nossa preocupação máxima é a escrita de canções em toda a sua abrangência.

Na semana de lançamento do disco, venderam 134 mil cópias só nos Estados Unidos e conquistaram o top de vendas norte-americano. Já deixaram de ser uma banda indie?

Nunca nos vimos como uma banda indie. Não crescemos a ouvir exclusivamente indie e quando começámos a fazer a nossa música não era essa a tradição à qual nos queríamos associar. Estamos mais interessados em relacionarmo-nos com tradições musicais mais antigas e, a partir daí, criar a nossa própria identidade, que não tem necessariamente uma fórmula. Nunca nos quisemos restringir a um género, a sermos indie, pop rock ou worldbeat, as etiquetas que normalmente nos colocam. Agora, trabalhamos maioritariamente em casa e estamos numa editora independente. Nesse sentido, somos independentes.

Mas com as vendas crescentes dos discos e a fama a aumentar, não se reconhecem como pop stars?

Gosto de pensar que a nossa música explora os dois mundos, temos um pé em cada um dos lados e isso é bom porque não há nada a limitar-nos os movimentos.

Além das vendas, Modern Vampires of The City recebeu muito boas críticas e tem sido descrito como o vosso melhor trabalho até à data. Concorda?

Sim, acho que este disco é especial. O objectivo é sempre fazer um álbum em que todas as canções sejam boas e em que exista uma ligação entre elas. Este álbum foi aquele em que melhor conseguimos isso.

Disseram que o disco é o fim de uma trilogia. Qual é a história de cada um?

Essa é uma boa pergunta. Acho que, de alguma forma, contam a história de quem somos. O primeiro álbum é sobre crescer num sítio, o segundo sobre viajar e o terceiro sobre regressar. E Nova Iorque é uma parte importante da nossa música. Fomos para Nova Iorque quando tínhamos 18 anos, conhecemo-nos na faculdade e começámos a fazer música juntos nessa altura. Por isso todos os álbuns estão relacionados com Nova Iorque, com a experiência que é viver lá, vir embora e voltar.

O que vos apaixonou em Nova Iorque?

Estávamos interessados na forma como diferentes músicas convergem numa única cidade, na maneira como se ligam entre si. E Nova Iorque inspira muito a escrita de canções por ser tão ecléctica.

Uma trilogia implica um fim no terceiro acto. Isso significa que o vosso próximo disco vai ser um novo começo?

É muito difícil adivinhar como vamos fazer o próximo álbum, mas sabemos que o quer que seja que fizermos vai ser diferente. Mas ainda é muito cedo para perceber o caminho. Como já referi, as digressões são bons períodos para coleccionar novas ideias, mas não se consegue perceber o que elas significam e como se vão unir. Neste álbum, por exemplo, há muitas canções que começaram a partir de coisas que fiz sozinho, como os refrães, as baterias, algumas linhas de baixo… Depois mandava essas ideias inicias para o Ezra [vocalista] e ele fazia uma melodia vocal por cima.

É muitas vezes mencionado como o ‘maestro sonoro’ dos Vampire Weekend. É mesmo assim?

Normalmente sou eu e o Ezra que reunimos o material em bruto para a composição. Fazemos isso separadamente, mas depois juntamo-nos na mesma sala a trabalhar em conjunto. Em ‘Ya Hey’, por exemplo, escrevi o refrão todo sozinho, mas depois trabalhámos juntos a melodia e a estrutura da canção ao piano. Resultou depois de andarmos muito para trás e para a frente, com muitas ideias a viajar entre nós.

Mas imagina-se a fazer o mesmo sem o Ezra, a lançar um disco a solo?

Sim, acho que é muito possível que queira fazer isso no futuro. Estou constantemente a trabalhar em música, mas grande parte das vezes não sei onde ela encaixa. Algumas das canções deste álbum começaram por minha conta e não tinha qualquer expectativa de se tornarem parte dos Vampire Weekend.

Fonte: SOL
 
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