OPINIÃO por Jorge Rodrigues
Diz que é uma espécie de rali...
Arriscar um balanço a uma primeira edição de qualquer evento é sempre uma tarefa ingrata e potencialmente perigosa. Mais confortável, e tentador, seria contornar simplesmente o assunto, fixando-nos apenas no essencial: a corrida. E que corrida! Contudo, ao fazê-lo, estaríamos necessariamente a ser injustos para com todos os outros organizadores nacionais, cujo trabalho comentámos e avaliámos regularmente.
Servindo-nos, aliás, deles como ponto de comparação, baseamos a nossa reflexão em dois pontos essenciais. Por um lado, o capítulo desportivo e organizativo, cujo responsabilidade foi imputada à esforçada e reforçada Escuderia de Castelo Branco; por outro, o indossociável capítulo promocional e social do evento, habilmente montado pela experiente e não menos numerosa equipa da João Lagos Sports.
Sendo duas realidades que, por norma, se complementam, aqui não só surgiram (bem) separadas como invertidas quanto à sua importância. Como alguém logo disse, "minizou-se o essencial, ampliou-se o supérfulo", tranformando este Pax Rally mais num desfile de vaidades - às vezes até ostensivo - do que propriamente num evento desportivo, onde pilotos, equipas e jornalistas quase pareciam, às vezes, estar ali a mais!
O próprio público passou ao lado deste rali, chegando-se ao cúmulo de, em alguns dias, se verem mais convidados VIP nas Zonas de Espectáculo (quase sempre alheios à corrida), do que a habitual "força de povo" na estrada.
Reconhecemos, entenda-se, a importância deste "show off" (como a grandiosa partida em pleno centro de Lisboa é disso bom exemplo), mas não podemos deixar de lamentar que todo esse esforço sirva, por vezes, apenas para encobrir algumas das falhas grosseiras que foram sendo cometidas ao longo da prova. Desde o anedótico "briefing" de terça-feira, às desertas (de equipamento e tempos) salas de imprensa auxiliares. Desde as sucessivas e quase diárias emendas aos horários e "road-books", aos relatos de pilotos que esperaram e desperaram por auxílio médico na estrada.
E se algumas destas falhas podem até ser justificadas pela envergadura de uma prova que foi colocada de pé em apenas quatro meses, logo obrigando à conjugação de esforços entre dois organizadores com diferentes filosofias de trabalho, outras há que podia e deveriam merecer profunda reflexão no futuro. E se possível, um pouco mais de humildade e menos de arrogância.as