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Com roda de samba, familiares, amigos e fãs se despedem de Arlindo Cruz em velório

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Arlindinho, filho do sambista, cantou 'O show tem que continuar', do grupo Fundo de Quintal, o qual o pai fez parte; Flora Cruz destacou legado do pai: 'Eterno'

Rio - Familiares e amigos prestam as últimas homenagens a Arlindo Cruz em velório na quadra do Império Serrano, em Madureira, na Zona Norte, na noite deste sábado (9). A cerimônia ocorre em formato gurufim, uma tradição da cultura africana que homenageia os mortos com músicas, danças e comida. Na despedida, uma grande roda de samba se formou para celebrar a vida e a canção do artista.

Torcedor da Verde e Branca e enredo da escola no Carnaval de 2023, Arlindo morreu nesta sexta-feira (8), aos 66 anos, após ficar cerca de cinco meses internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Barra d'Or, na Zona Oeste. Ele lutava contra sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) sofrido em 2017.

Emocionada, Flora Cruz desabafou sobre o exemplo que o pai foi em sua vida. "O Arlindo é para sempre. É eterno. A matéria está indo mas o espírito... Ele fez muito nessa vida, era o cara mais generoso que eu conhecia. O legado familiar é de amor, fé, saber se organizar na vida. O legado musical é histórico."

Filho do artista, Arlindinho comandou uma das rodas de samba da cerimônia. O cantor tocou a música "O show tem que continuar", do grupo Fundo de Quintal, o qual o pai fez parte. Familiares, amigos e fãs do artista acompanharam e entoaram a canção pela quadra da escola.

"Seguir em frente é muito difícil, mas o ensinamento que ele me deu é de luta, perseverança e de ser um sambista vencedor. É isso que eu vou fazer: seguir lutando e honrando o nome dele. Ainda não sei quanto tempo eu vou ficar parado, mas eu vou tomar o fôlego de volta", disse o cantor.

Babi Cruz, mulher de Arlindo, chegou pouco antes do início do velório, às 18h. Um ritual de matriz africana teve início logo na sequência com cantos e músicas típicas.
A rainha de bateria do Império, Quitéria Chagas, relembrou a insistência de Arlindo para que ela retornasse ao cargo. "Ele sempre me incentivou e o Império é uma escola que é família. Essa semana foi aniversário da morte do meu marido e eu sei o que é ser viúva. Tive que fazer um trabalho mais cedo, mas quis vir."

A escritora Conceição Evaristo destacou as obras deixadas pelo cantor e sua genialidade em transformar o cotidiano em música. "Ele marca em um lugar de poesia, que nasce fora dos cursos de poesia e daquilo que os críticos literários vão considerar como poesia. Ele criou através de uma cultura que é chamada de periférica. Deixa um legado que traz poesia para o povo, reflete os amores, as nossas angústias, as paixões e as nossas crenças. É o poeta do samba que traduz a nossa vivência."

Além das músicas, houve distribuição de bebidas para o público. Segundo a direção da Verde e Branca, 10 barris de chopes foram colocados para a despedida festiva. Nomes como Beth Carvalho, Bira Presidente, Monarco e Almir Guineto também tiveram celebrações semelhantes.

A Vice-Presidente Cultural do Império Serrano, Paula Maria fala sobre a conexão de Arlindo Cruz com a agremiação e a vontade de ser velado na quadra. "Hoje estamos fazendo a vontade dele. Sempre foi uma pessoa muito festeira e gostava de ter os amigos em torno dele. Tudo era motivo de festa e conseguimos realizar esse último desejo de fazer um gurufim com bebida, música. Ele se despede fisicamente deste plano do jeito que ele gostava."

Regina Casé, Zeca Pagodinho, Maria Rita, Erika Januza, Thiago Martins, Hélio de la Peña e Marcelo D2 também marcaram presença no último adeus ao cantor.
A quadra também recebeu diversas coroas de flores para o artista. Uma delas foi enviada pelo presidente Lula (PT) e pela primeira-dama Janja. "Homenagem ao talento, poesia e generosidade do sambista perfeito. Solidariedade à família, amigos e fãs", diz o texto.

Além desta, também houve homenagem do prefeito Eduardo Paes (PSD), que esteve presente no velório; do vice Eduardo Cavaliere (PSD); do governador Cláudio Castro (PL); do contraventor e presidente de honra da Beija-Flor, Anísio Abrahão David; de Gabriel David, filho de Anísio e presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa); da Liga-RJ, responsável pela Série Ouro; e de outras escolas de samba, como Portela e Beija-Flor.

O velório foi aberto ao público às 18h e se estenderá até às 10h deste domingo (10). O enterro acontecerá a partir das 11h no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste.

Homenagem dos fãs
Centenas de fãs do sambista também reuniram na quadra do Império Serrano para homenageá-lo. Jailton dos Santos, de 54 anos, morador de Irajá, na Zona Norte, comentou a importância de Arlindo para o samba em todo o país.

"O Arlindo é o mestre do samba, é indiscutível. Deixou um legado grande. Me inspirei no samba com o Arlindo, é uma referência para essa galera nova. Um cantor e compositor para a gente se espelhar", contou.

O relojoeiro Gilson Alves, de 67 anos, morador de Campo Grande, na Zona Oeste, destacou a trajetória do músico desde o tempo em que integrou o grupo Fundo de Quintal. "Eu sempre estava em todos os eventos que ele tocava, era um cara humilde. O samba é a minha base". afirmou.
A empreendedora Adriana Araújo, de 53 anos, moradora de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, aproveitou um compromisso em Madureira e compareceu ao velório "Eu já fui passista de outras escolas e frequentei muito a quadra do Império. Sempre gostei do Arlindo porque ele é raiz do samba. O meu pai gostava muito do Fundo de Quintal e ele tinha uma voz maravilhosa", destacou.

Carreira
Nascido em 14 de setembro de 1958, em Madureira, Zona Norte, Arlindo Domingos da Cruz Filho, conhecido artisticamente como Arlindo Cruz, viveu desde cedo rodeado pelos sons e tradições do samba. Foi nessa atmosfera que despertou sua paixão pela música, iniciando os estudos aos 7 anos, quando ganhou seu primeiro cavaquinho. Rapidamente, desenvolveu habilidade e ampliou sua formação, estudando teoria musical e violão clássico durante a infância.

Na década de 1980, Arlindo Cruz entrou para o grupo Fundo de Quintal, considerado um dos grandes renovadores do samba de raiz. Com o coletivo, que contava com grandes nomes do samba carioca, ele passou mais de uma década, contribuindo como cavaquinista, cantor e compositor, ajudando a revigorar o gênero com novas composições e arranjos.

Após seguir carreira solo, Arlindo lançou álbuns que se tornaram referência, entre eles "Sambista Perfeito" e o aclamado "MTV ao Vivo: Arlindo Cruz", consolidando seu espaço no cenário nacional. O artista foi parceiro musical de nomes como Sombrinha e suas canções foram interpretadas por grandes vozes da música, como Beth Carvalho, Zeca Pagodinho e Maria Rita.

Ao longo da carreira, compôs mais de 500 canções e conquistou inúmeros prêmios, incluindo 19 troféus Estandarte de Ouro com seus sambas-enredo para escolas de samba como Império Serrano, Vila Isabel e Grande Rio. Sua obra é celebrada por mesclar tradição e inovação, contando histórias da vida carioca e da cultura popular brasileira.
Em março de 2017, Arlindo sofreu um grave Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico que o afastou dos palcos. Desde então, enfrentou um longo processo de recuperação, marcado por dificuldades na fala e mobilidade, além de diversas internações devido a complicações, como infecções.

O cantor tinha uma forte ligação com Madureira. O bairro, que ainda abriga a quadra da Portela, serviu de inspiração para a música "Meu Lugar", sucesso lançado em 2007 para exaltar o subúrbio carioca. A canção foi regravada em 2012 e fez parte da trilha sonora da novela "Avenida Brasil", da TV Globo, embalando as cenas no fictício bairro Divino.

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