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Centro reúne arte e ciência real e virtual

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Centro experimental reúne arte e ciência real e virtual

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Shirley Ann Jackson, física e reitora do instituto desde 1999, diz que não há "nada parecido" com o Empac

Dennis Overbye

Em uma colina por sobre a cidade universitária de Troy, na margem do rio Hudson, o Instituto Politécnico Rensselaer erigiu um domo dos prazeres tecnológicos para satisfazer a mente e os sentidos. Depois de oito anos de construção e de um investimento de US$ 200 milhões, o Centro Experimental de Mídia e Artes Performáticas, ou Empac, se assemelha a um televisor dos anos 50 em escala gigante. Mas do lado de dentro não encontramos antiquadas válvulas, e sim aquilo que de melhor existe na alta tecnologia do século 21, um casamento de arte e ciência em forma jamais realizada, segundo os criadores do projeto - são 20 mil metros quadrados de auditórios, estúdios e espaços de trabalho conectados a supercomputadores.

Do lado do dentro, dizem os projetistas, os cientistas poderão mergulhar nos dados e voar em meio a uma onda, ou inspecionar as curvas de uma molécula de DNA; artistas poderão participar de concertos virtuais com colegas em partes diferentes do mundo ou enviar espectadores a viagens por paisagens imaginárias, e arquitetos poderão ponderar suas criações por dentro, antes que o primeiro tijolo ou tábua sejam assentados. O centro será inaugurado em 3 de outubro com um programa de três semanas de espetáculos de gala, entre os quais música clássica, passeios de realidade virtual, simpósios e celebrações.

Alguns cientistas sonham um dia empregar o novo centro para criar uma versão do holodeck proposta na série Jornada nas Estrelas, na qual seres humanos poderão interagir com "criaturas sintéticas" em tamanho natural, existentes apenas em computadores. Outros pesquisadores planejam ensinar técnicas cirúrgicas com procedimentos virtuais ou conduzir médicos em visitas a modelos de corações e sistemas circulatórios reais.

"O que você faz é uma função daquilo que você quer fazer", disse Shirley Ann Jackson, física e reitora do instituto desde 1999. Em termos de escala e da combinação de artes e de pesquisa em uma universidade, "não existe nada que se compare a isso", ela afirmou. "Até onde sabemos, não existe nada de parecido".

O cientista da computação Jaron Lanier, que também é compositor e artista visitante na Universidade da Califórnia em Berkeley, cunhou o termo "realidade virtual" e aponta que a idéia de um "teatro de realidade virtual" não é novidade. Nos anos 90, por exemplo, alguns moradores do Vale do Silício costumavam assistir a espetáculos no George Coates Performance Works, um teatro que usava o edifício de uma catedral neogótica abandonada em San Francisco e onde atores humanos, música e efeito digital se combinavam. Mas o Empac, disse Lanier, "representa um grande salto em termos de dedicação e ambição".

Jackson disse que o Rensselaer, que prioriza as pesquisas interdisciplinares e o aprendizado prático da engenharia, tem tradição na arte eletrônica, e oferece até mesmo um diploma em criação de jogos e simulações. O centro de espetáculos sempre foi parte dos planos de longo alcance que ela e os curadores do instituto começaram a desenvolver em 2000.

O conceito do Empac nasceu, disse ela, quando a reitora e seus assessores decidiram combinar arte e o problema de organizar dados de maneira que faça sentido, uma questão que, segundo Jackson, forma um ponto de união entre arte, ciência, tecnologia, percepção cognitiva e aprendizado.

Em 2001, um doador anônimo deu à universidade US$ 360 milhões, uma das maiores doações privadas já concedidas a uma universidade norte-americana, e isso permitiu que Jackson acelerasse os planos não só do Empac mas de outros elementos de seu projeto. A doação foi mais tarde reforçada por US$ 40 milhões dados ao instituto por Curtis Priem, um dos fundadores da Nvidia, uma produtora de placas gráficas, cujo nome servirá como nome oficial do centro.

Um escritório de arquitetura londrino, o Nicolas Grimshaw & Partners, foi escolhido para cuidar do trabalho de projeto. Para dirigir o museu, Jackson contratou Johannes Goebel, compositor, curador, produtor de música computorizada e diretor fundador do Centro de Arte e Mídia de Karlsruhe, Alemanha.

Ao me conduzir em uma visita pelo centro ainda em obras, algumas semanas atrás, nós dois usando capacetes e tentando escapar às pilhas de material de construção e aos esbarrões com os pedreiros, Goebel descreveu a missão de que foi encarregado: "A arte integra os sentidos", ele disse. "A ciência separa os sentidos e os analisa como entidades independentes. A idéia do Empac é superar a divisão entre o mundo digital dos dados e o mundo físico dos nossos sentidos, que é onde nós aprendemos a compreender as coisas e decidir o que elas significam". "Somos sempre nós, como seres humanos, que temos a palavra final quanto àquilo que alguma coisa significa", ele diz.

A peça central do edifício é um auditório de 1,2 mil lugares, envolto em uma estrutura curva de madeira que se assemelha a um navio dentro de um navio, ao qual o acesso é realizado por rampas instaladas no saguão. Um segundo auditório acomoda 400 espectadores, e está equipado com palcos e cenários móveis. Goebel me conduziu ao primeiro dos dois estúdios que foram concebidos como ambientes de imersão, e que no futuro vão acomodar os holodecks, nos quais a pessoa só poderá ouvir e ver aquilo que o produtor do espetáculo ou cientista encarregado de um projeto deseje.

Mais ou menos do tamanho de um quadra de basquete, mas quadrado, com um teto localizado a uma altura de 12 metros, o estúdio estava equipado de painéis acústicos de formato estranho, mais ou menos como se fossem alto-falantes invertidos. Cada painel foi projetado para absorver uma diferente freqüência de som, de modo que todos os sons e energias não deliberados são removidos. "É preciso um espaço morto para criar imersão", ele disse. Há um sistema de suportes de arame, "para que a pessoa possa voar por esse espaço", acrescentou.

Conectados ao Empac e fornecendo a ele todos os dados de que precisará para voar estarão os computadores do Centro Rensselaer de Computação para Inovações Nanotecnológicas, que tem como base de sua rede um supercomputador IBM Blue Gene que opera com 32.768 processadores paralelos. Os resultados dessas computações podem ser qualquer coisa: uma cadeia de DNA, um circuito semicondutor, uma carta celeste, o percurso do fluxo sangüíneo de um determinado corpo humano.

"Existe muita ciência hoje que permite que geremos volumes imensos de dados", disse John Kolb, vice-presidente de tecnologia da informação do Rensselaer. "Ocasionalmente sabemos o que fazer com eles. Mas em muitas outras ocasiões precisamos aprender como encontrar as pérolas".

Os cientistas estão acostumados a contemplar dados em uma pequena tela de computador, com talvez mil por mil pixels, ele disse. Agora imaginem, ele disse, dados projetados em todas as quatro paredes, cada qual com quatro mil por quatro mil pixels, com o som e o tato como dimensões adicionais para informar quanto determinados pontos de dados excedem um determinado limite, por exemplo. "Se você entrar em um ambiente como esse, estará cercado de dados por todos os lados", diz Kolb. "A educação é a coisa mais importante no mundo da tecnologia", ele afirma. "E com isso, poderemos levar uma classe de jardim de infância a um passeio no interior de um corpo humano".

De que maneira o processo funcionará na prática? Na metade do ano passado, quando o edifício ainda estava em estágio básico de construção, este repórter procurou uma amostra dos atrativos da arte em realidade virtual e foi conduzido a uma sede temporária no centro de Troy, na qual estava abrigado um grupo de videoartistas que se designam Workspace Unlimited. Eles estão produzindo uma peça para a abertura do Empac. Aconselharam-me a não almoçar antes da visita.

Eu me vi em uma sala escura, cercado por uma tela circular. Inicialmente, a imagem projetada na tela simplesmente reproduzia o edifício em que estávamos. Mas em breve saímos dele como astronautas, arremessados a um deslumbrante espetáculo de luzes, uma paisagem abstrata de números que acenavam, um pouco parecida com a seqüência final de "2001: Uma Odisséia no Espaço", enquanto um dos artistas, sentado diante de um computador, pilotava um avatar, ou representação estilizada dele mesmo, pela tela.

Mais de um avatar pode percorrer o espaço simultaneamente, mas cada um deles terá uma experiência única. "É como estar sentado no sofá e assistir a um filme com alguém, mas os dois não vêem exatamente a mesma coisa", disse Thomas Soetens, do grupo. Em determinado momento, era possível ver os avatares controlados por Soetens e sua colega Kora Van den Bulcke nos encarando de direções opostas como viajantes lunares solitários, cada qual preso à sua paisagem própria. Mas eles não podiam se encontrar.

Os avatares solitários se encontrarão um dia? Da mesma maneira que essas ferramentas científicas tornam possível novas formas de arte, disse Jackson, ela espera que o novo centro gere novas formas de ciência. "É emocionante", ela disse. "A verdadeira mensagem é que não sabemos tudo que sairá disso, mas sabemos que será importante".


Tradução:paulo Migliacci ME
The New York Times
 
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